Ir à um show de Bethânia, experiência para antes de morrer

Leandro Fasoli
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJan 24, 2021
Imagem: Site Oficial da Turnê: Claros Breus / (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

2019. Agosto. São Paulo. Credicard Hall. (quando a vida ainda era “normal”). Na platéia Bial, Maria Prata, Chico César, Tim Bernardes, Ricardo Waddington, Douglas e eu. É estreia do show Claros Breus de Bethânia. Estou diante de um acontecimento. Acontecimento, é isso que sinto por estar em um show de Bethânia. Meu primeiro. Meu primeiro de Bethânia, e em, São Paulo. É daquelas experiências de vida que todo ser humano deve passar antes de morrer. Faz frio e chove lá fora. Sinto que tão logo também choverá em meus olhos. Eis que ela canta Gonzaguinha, e o coração começa a estremecer. É aquela chuva que ensaia desaguar. Eu acompanho e espero por “Cheiro de Amor”, que não vem, mas minha frustação logo se encerra com “Sábado em Copacabana”. Olho pra Douglas, balbucio algo do tipo “estou a ponto de desmanchar”. E sim, vai chover em mim. Vai chover dentro de mim. “Gota de Sangue”. “Lama”. “Sampa”, aqui nos primeiros acordes, eu desaguo em mim. Arrepio. Nó na garganta. Chuva. Chuva de lágrimas, choro, choro feito criança. “(…) alguma coisa acontece no meu coração…”, nesse momento se consagra meu sonho de infância, quando ainda lá na minha Guaçu, eu corro para o sofá para acompanhar as novelas. Ver o Edifício Martinelli, o Ibirapuera, o MASP, a Avenida Paulista e sonhar ao som da trilha de Bethânia, com um dia poder conhecer, morar e viver São Paulo. Viver de arte. Viver da escrita. Fazer novelas, fazer filmes, publicar livros. Ter um canto pra chamar de meu aqui. E o choro nesse momento do show, consagra esse sonho de criança que só via em novelas, lá no interior de São Paulo. Toda essa avalanche de sentimentos, em minutos da música. “Sampa” era trilha sonora de todo o filme que eu via dentro de mim. Eu, ainda que anônimo. Dividia o mesmo ambiente que Pedro Bial. Pedro Bial (o ícone da comunicação) que quando visto na TV era tido como quase que santo, inalcançável. Incomunicável. São Paulo também, era inimaginável de se estar, ainda quando criança. Credicard Hall, nunca na vida pensei em acessar. E ali, naquela noite fria, eu estava! Vivendo um show de Bethânia, no mesmo ambiente de celebridades que eu só via na TV. Tendo eu, tendo pra onde voltar e dormir, num apartamento meu, no centro dessa capital até então surreal, acompanhado de um amigo incrível, que faz o então sonho, ser palpável, ser possível. Eu estava ali. Eu cheguei ali. E ali naquele momento, mais precisamente na faixa “Sampa”, eu experiência o sonho de criança. Bethânia, e a sua capacidade de mover todos os sentimentos possíveis em um ser humano. Tudo com a sua voz. Sua presença. Sua luz.

Antes de morrer, presencie Bethânia!

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