Kaboom — Alucinação: a arte de Gregg Araki é o que o cinema tem de mais cool
Gregg Araki é um diretor independente em toda a amplitude da palavra. É um autor apaixonado pelo lado B, pela subversão e por cenas que não fazem a menor questão de sequer parecerem ‘agradáveis’. Ele tem predileção pelo estranho e a desconstrução praticando ideias originais, extremas e uma narrativa é ao mesmo tempo, jovem e transgressora. E ainda assim é o puro suco do pop! Curioso pensar que Geração Perdida, principal filme de Araki nos anos 90 tinha esse frescor e num título de quase vinte anos depois, Kaboom — Alunicação, segue os mesmos impulsos. Causando as mesmas sensações e criticando com o mesmo ímpeto o tratamento que a juventude recebe na literatura, no cinema e na tevê.
De começo centrado nas aventuras sexuais de um grupo de jovens universitários, Kaboom vai deixando pequenas pistas do que vem por aí no decorrer do filme. Um bilhete, um personagem estranho, uma situação alucinógena, etc. Até que acontece enfim, o grande ponto de virada na trama que revela toda a história ser parte de uma conspiração que envolve gente poderosa, sexo e o fim do mundo. Smith, protagonista do filme, parece entrar na história já perdido, dentro de um sonho.
Kaboom — Alucinação joga com o espectador ao tentar desnorteá-lo O que está na tela é real ou uma badtrip causada por drogas? Acontece mais que uma vez, mas sempre de maneira que faça de Smith convincente e crente em seus testemunhos. Essa confusão não é acidental ou apenas serve a questão da percepção do personagem, mas também traduz o quanto o amadurecimento pode ser problemático. O tom do filme começa a mudar quando Lorelei entra em cena, ela tem um lance com Stella, amiga de Smith. Lorelei claramente possui poderes paranormais, ou domina bruxaria. Esse universo cresce e consome tudo o que se vê em tela, um delírio que toma forma, um imaginário que ilustra os medos, anseios e desejos de um adolescente ou jovem em fase de faculdade.
Mesmo antes da aura de fantasia envolver a trama de Kaboom, já não se percebia uma história ‘normal’. Seus personagens não são arquétipos fáceis, nem simplesmente debochados, é possível sentir neles vontades e um desdém pelo mundo teen que passa longe de qualquer clichê. O filme também é sobre isso.
Neste mês de junho, Kaboom entrou no MUBI, serviço de Streaming que oferece sete dias de teste para novos usuários e tem um catálogo incrível. Foi um bom incentivo para recomendar e escrever sobre. Experimente!