Leia Amanhã.

Sobre dias ruins.

Danilo H.
Revista Subjetiva
Published in
3 min readAug 20, 2018

--

Olhei pela janela embaçada e vi você chegar. Peguei a carta na mesa e esperei você subir pela escada até o terceiro andar… 20 minutos depois, subi até o seu andar na ponta dos pés, joguei a carta por debaixo da porta e sai em disparada de volta ao meu apartamento.

Missão cumprida.

Uma carta escapuliu por debaixo da porta oriunda do mundo exterior, o gato em cima da mesa a olhava curioso… seu dono, com olhos espantados, se agachou e leu o destinatário que dizia “Leia Amanhã”. Não havia remetente.

Tomado pela ansiedade ele abriu a carta na mesma hora (apesar do aviso), lia-se:

“Eu sabia que você não iria esperar até amanhã e por isso escrevi isso na frente da carta… Estranho como eu suponho coisas sem te conhecer… imagino você ajustando os óculos enquanto lê essa introdução.

Eu só queria te dizer que tudo vai ficar bem.
Juro… vai ficar.

Essa foi uma semana meio turbulenta para você, tantas coisas aconteceram e você simplesmente perdeu o controle, suas mãos ficaram vazias e ninguém apareceu para te tirar no buraco que você caiu… Você acha que ninguém nota, mas é uma mera ilusão.

Você passou os últimos dois meses sofrendo por alguém que não te responde mais… você até tentou virar o jogo, mas só piorou. Enquanto você passa as noites sofrendo a outra pessoa já desencanou de tudo isso, rumores de que inclusive ela está muito bem!

Eu sei que isso é o que mais dói, alguém simplesmente te superou e você tem conhecimento disso… a sensação de ser descartável para alguém não é das melhores.

Isso para não citar os seus últimos conflitos com seus “supostos amigos” que, ao contrário do que você pensa, não estão mudando da água para o vinho, eles sempre foram assim… você que não notou, afinal, quantas dezenas de vezes você cedeu?

Essa sensação de incerteza sobre você conhecer ou não seus amigos também é desoladora… é como construir algo com alguém e um um dia perceber que foi tudo em vão. Engraçado que a possibilidade de tirar todas essas pessoas da sua vida não te agrada, até porque o peso da solidão não é uma opção para você.

Ultimamente ser você mesmo te causou muitos problemas… foram olhares, conversas pelas suas costas, sussurros pelos corredores e becos da cidade, algo estalou dentro de ti indicando que algumas pessoas estão se afastando… A gente não pode evitar esse tipo de coisa, ser quem realmente somos tem um preço muito alto.

Você vive tanto no amanhã que se esquece de cuidar do hoje, por isso eu sabia que você não aguentaria esperar até amanhã para ler… Eu vi seu estado essa semana e tive chegar até a você antes que fosse tarde demais.

Você sabe o que eu quero dizer…
Sim… eu sei…

Essa tempestade que cruzou o seu céu irá passar, mas não hoje… e talvez nem amanhã… mas passará, isso eu te prometo com os olhos fechados… eu já te vi no auge, eu sei do que você é capaz quando confia em si mesmo… logo menos você irá se curar e tudo voltará a “normalidade”, digamos.

Eu? Bem, eu estou aqui do outro lado carta, você já me viu por aí… já se esbarrou comigo, já dividimos alguns elevadores e eu já quis te abraçar no seu momentos mais complicados.

Não se preocupe, essa não é uma carta de amor… essa é um carta de afeto (que é totalmente diferente)… acredite ou não, mas ainda existem pessoas que querem o bem das outras, é bem difícil ler tudo isso quando se está cercado de pessoas querendo a sua ruína (não é mesmo?).

Bem, agora te deixo aqui com as minhas palavras pois preciso ir… e você também, o amanhã (pelo qual você tanto luta) está próximo. Espero que não esteja chovendo ou ao menos que você leve seu guarda-chuva dessa vez.

Se levante quando estiver preparado.
Até lá… desacelere aos poucos e se cure.
Há alguém torcendo por você.
Vai dar tudo certo.

K.

--

--

Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.