Imagem: Lindsey Kelk / Sarah Rayner (divulgação)

Leia mulheres: Lindsey Kelk e Sarah Rayner

Apostando na delicadeza, escritoras da Fundamento trazem novo ar para a literatura mundial

Tati Lopatiuk
Revista Subjetiva
Published in
5 min readApr 19, 2018

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Quando se fala em literatura feminina, é comum ainda o pensamento de que tal gênero verse apenas sobre o que se considera o “universo feminino”, como relacionamentos amorosos, algumas futilidades e questões sentimentais diversas. Limitada assim, por muito tempo, a literatura feita por mulheres, como um todo, foi vista com certo demérito, como se falar sobre sentimentos ou futilidades fosse algo menor ou até mesmo simples.

No entanto, quanto mais o mercado se abre para as escritoras, mais elas provam que podem produzir obras incríveis de todo o tipo, quebrando inclusive o estigma de que “literatura feminina” é algo fútil e raso. Afinal de contas, não existe gênero quando um livro é bem feito. E, quando a narrativa é boa, ela se impõe independente do tema sobre o qual verse.

É o que podemos observar nas obras de Lindsey Kelk e de Sarah Rayner, duas autoras com vertentes diferentes dentro da literatura e, ainda assim, com muitos valores e qualidades em comum. Falando sobre o universo feminino, os dois nomes da Editora Fundamento nos apresentam narrativas incríveis e poderosas sobre mulheres comuns e maravilhosas, como todas as mulheres são.

É sobre o que falaremos a seguir.

Vamos começar por “Eu Amo New York”, da britânica Lindsey Kelk.

A trajetória de Kelk como escritora é inspiradora, para dizer o mínimo. Jornalista de formação e trabalhando como editora de livros infantis, ela teve a ideia para seu primeiro romance ao voltar à Londres após passar um feriado em Nova York.

Foi assim que escreveu “Eu Amo Nova York”, precisamente a história de Angela Clark, uma londrina editora de livros infantis que, após uma grande decepção amorosa, decide de supetão ir para Nova York para fugir de seus problemas.

Coincidências à parte, Kelk usou sua paixão pela cidade de Nova York para construir uma chick lit adorável, onde narra as agruras da mocinha em conflito com seu futuro e presente ao ter seu passado destruído — tudo isso enquanto afoga as mágoas em compras, chocolates e romances de uma noite apenas.

O sonho de toda garota, dirão alguns.

Mas a narrativa de “Eu Amo Nova York” é boa, a protagonista cativa e o livro mostra uma coesão incrível, sem apelar para saídas fáceis e indo para caminhos imprevistos. Existe algum tipo de força em romances assim, escritos com o coração e sem pretensões. E foi com esse romance inaugural que Kelk, então com vinte e poucos anos, bateu de porta em porta nas editoras. Como não poderia deixar de ser, ela teve seu livro negado e seu talento questionado inúmeras vezes: sugeriram que ela fosse ghost writter e até que mudasse de nome — um agente chegou a dizer que Lindsey Kelk parecia “o som de um gato ficando doente”.

Sem jamais desistir, ela acabou conseguindo um contrato de três livros com a HarperCollins, gigante da literatura feminina. Foi o início de sua carreira como romancista.

Hoje, até o momento, Lindsey Klerk já escreveu 13 livros. “Eu Amo Nova York” acabou virando uma série de livros com sete títulos contando as aventuras da nossa heroína Angela Clark nos mais diversos pontos de planeta. Para uma garota com uma escrita “de mulherzinha”, você pode perceber que ela conseguiu ir bem longe — e, certamente, conseguirá ainda muito mais.

Vindo de uma formação e uma vivência diferente, mas com a mesma sensibilidade para tratar de narrativas sobre mulheres, está Sarah Rayner e seu sensível “Um Momento, Uma Manhã”.

Antes de se tornar escritora, Rayner trabalhava como redatora de publicidade. O contrato com uma editora veio em 2001, dois títulos foram lançados, mas foi só em 2010, com seu terceiro livro, “Um Momento, Uma Manhã” que ela alcançou o posto de bestseller.

Também, pudera. O livro vendeu 300 mil cópias apenas no Reino Unido e muitas mais pelo mundo contando uma história delicada e emocionante sobre três mulheres que tem seu destino interligado por uma fatalidade que acontece no trem que elas pegam todas as manhãs.

Abruptamente no trem das 7h44, a caminho do trabalho, um homem morre de um ataque cardíaco fatal. Karen (a esposa), Ana (melhor amiga de Karen), e Lou (uma desconhecida que presencia tudo), são as vítimas indiretas dessa tragédia, sendo afetadas em diferentes níveis. A forma com que vão lidar com isso também difere entre elas, mostrando que não existe jeito certo ou errado de lidar com um sentimento.

Romance pegado nas relações humanas, a narrativa alterna os pontos de vista dessas três protagonistas, dividindo a história em dias, minutos e horas. Sem cair no dramalhão e com uma maestria que impressiona, Rayner parece mesmo ter atingido seu ápice criativo em “Um Momento, Uma Manhã”. Deve ser mesmo verdade aquela crença de que para ser bom, você precisa praticar. Em seu terceiro livro, a autora finalmente se encontra e nos entrega o seu melhor. Se trata de tratado tocante sobre perda, amizade e superação, uma história delicada contada por Sarah de forma empática e inteligente.

Comparado com “Eu Amo New York”, o título de Sarah Rayner é um tanto mais profundo e maduro. Mas, de algum modo, a literatura das duas se completa. Nem tanto ao norte, nem tanto ao sul, é ótimo ter esse panorama amplo para que possamos escolher com propriedade para onde queremos navegar. Se nas ondas doces da descoberta pessoal ou nas águas profundas do redescobrimento interno.

Seja como for, uma mulher sempre poderá lhe contar essas histórias.

Livros recebidos em parceria pela Editora Fundamento. Você pode adquirir Eu Amo New York e Um Momento, Uma Manhã através do site da editora.

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