Liga da Justiça: Humor e referências se tornam pontos altos da trama

Lucas Machado
Revista Subjetiva
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5 min readNov 15, 2017

Após a morte do Superman (Henry Cavill), a humanidade se encontra afundada em medo, por conta da incerteza de ter ou não uma nova invasão alienígena; e caos, por ter perdido aquele que lhes era o sinal mais próximo da esperança. O grande objetivo da Liga da Justiça neste filme é fundar uma nova esperança no planeta Terra. Afinal, será que eles conseguem?

O primeiro frame que nos é apresentado traz aquele frio e sombrio cenário que nos remete diretamente ao Batman (Ben Affleck) — o meu herói favorito da DC Comics — , por um momento, acreditamos que este clima ira fazer parte de todo o filme, mas ele se desfaz quando somos apresentados aos novos integrantes da Liga da Justiça: Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher).

De todos os cinco heróis, apenas o Superman e a Mulher-Maravilha (Gal Gadot) possuem filmes individuais, não há nenhuma participação desses três novos heróis em nenhum outro filme, o que prejudica um pouco a sua apresentação, que é dada de forma bem objetiva e sem muitos rodeios, não ficando claro para o grande público como o cada um obteve suas habilidades. Acredito que a Warner irá introduzi-los de forma individual nos próximos anos, tendo em vista o lançamento do filme do Aquaman em 21 de dezembro de 2018, e do Flash em 2020.

Voltamos a Temiscira para conhecer o grande vilão em comum que uniu estes cinco heróis, seu nome é Lobo da Estepe (Ciarán Hings), ele foi conhecido nos quadrinhos por ser tio de Darkseid, porém, em nenhum momento é dada uma relação direta entre os dois. A grande motivação do Lobo é se vingar das três raças que o exilaram no passado, que são os humanos, os atlantis e as amazonas, que impediram o vilão de reunir as três Caixas Maternas, que são o grande mistério do filme, pois as mesmas possuem um poder que gerar o “fim do mundo”, como o próprio Lobo diz ser em repetidos momentos durante o filme. Cada Caixa Materna é destinada a uma raça que deve mante-la em segurança, porém, milênios depois, o Lobo retorna em busca delas para destruir o mundo.

Há um grande problema com vilões em filmes de super heróis por conta da perda de suas motivações no desenvolver do filme e de ficarem conhecidos por serem “genéricos”, ou seja, poderiam estar em qualquer filme de super herói, pois não causam aquilo que pregam, no caso do Lobo, o medo. O mesmo acontece também em filmes da Marvel, como Thor Ragnarok e Vingadores: A Era de Ultron, não é uma exclusividade da DC Comics, que tem o melhor Coringa de todos os tempos, interpretado por Heath Ledger.

A questão é que em todo o momento o nosso vilão em conjunto com seu exercito de Parademônios aparece ser implacável, nenhum dos cinco consegue detê-lo, até que um outro herói surge durante o filme e aquela força toda desaparece em segundos, não tendo chance do mesmo dar um suspiro sequer, fazendo com que todo aquele ar milenar de superioridade se esvaísse em um instante.

A comédia, que não é tão comum em filmes da DC Comics foi introduzida de forma mais incisiva neste filme, sendo protagonizada diversas vezes pelo Flash, que ainda é um jovem herói e tem muito a aprender com os heróis mais experientes. Em todo momento somos bombardeados com tiradas cômicas que funcionam, na maioria das vezes, e que não se mostram como algo a impedir a fluidez da trama. A sensação que temos é que a DC Comics busca se adaptar a uma exigência do grande público, fazendo com que o filme seja palpável para todo mundo, o que é algo justo, porém, acaba fazendo com que ele se torne raso em diversos momentos.

O trabalho em equipe dos heróis é um dos pontos altos do filme, principalmente nos diálogos entre Batman e Mulher-Maravilha e, porém, a utilidade dos três novos heróis parece forçosa, que poderiam ser substituídos facilmente, ao meu ver, pela Mulher Gavião e pelo Lanterna Verde, que poderiam se mostrar bem mais úteis contra Lobo da Estepe e sua trupe. Há uma tentativa de caracterizar o Aquaman como um super herói que “vale a briga”, ele é representado como um verdadeiro bad boy, com direito a câmera lenta, garrafa de Whisky e rock ao fundo.

O filme não surpreende em nenhum momento — exceto pela segunda cena pós-créditos — , se tornando previsível o tempo todo. Nem as atuações surpreendem, todas são coerentes com seus personagens, Mulher-Maravilha e Batman mantém as atuações vistas anteriormente em Batman versus Superman (2016) e Mulher-Maravilha (2017), Jason Momoa e Ezra Miller convencem como Aquaman e Flash, respectivamente, o primeiro trazendo aquela ar indiferente a tudo e todos, o segundo como o novato da equipe. O ator Ray Fisher, que interpreta o Cyborg, certamente é o mais desconhecido entre os cinco, porém não deixa a desejar em nenhum momento. Se você assistiu aos trailers e aos especiais promovidos pela Warner Movies, você provavelmente assistira ao filme sem nenhuma grande surpresa, sabendo o que irá acontecer e como vai acontecer.

A trilha sonora conseguiu criar uma harmonia com as cenas de ação, deixando o publico imerso, principalmente em um conflito que há entre os próprios heróis. Hans Zimmer que há mais de uma década era responsável pela trilha sonora de filmes relacionados ao universo DC Comics saiu ano passado por conta do filme Batman versus Superman. Junkie XL e Danny Elfman o substituíram, o primeiro trabalhou em filmes como Beetlejuice (1988), Batman Returns (1992) e Edward Mãos-de-Tesoura (1990); o segundo trabalhou em Deadpool (2016) e Mad Max: Fury Road (2015).

As duas horas de filme não favorecem o desenvolvimento individual dos personagens e do seu desenvolvimento enquanto Liga da Justiça, o que acaba tornando a trama superficial e rasa, mesmo se olharmos o filme enquanto uma introdução do grupo de heróis. O vilão não convence em momento nenhum, muito menos a prerrogativa das Caixas Maternas, que são tiradas facilmente das três raças como se tira doce de criança.

As tiradas cômicas não foram suficiente para garantir um excelente filme, aprofundado e fluído, porém, elas junto as referências acabam sendo um ótimo ponto de vista para se assistir Liga da Justiça — como em Thor Ragnarok. A segunda cena pós-créditos faz todo o filme valer a pena, mostrando que a próxima ameaça não será tão fácil de ser derrotada como o Lobo da Estepe foi. Assim esperamos.

Nota: 6,5

Liga da Justiça estréia dia 16 de novembro de 2017 em todos os cinemas do Brasil.

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Lucas Machado
Revista Subjetiva

Cientista social, professor de Sociologia e criador da Revista Subjetiva