Lugar de gentes

Ligia Thomaz Vieira Leite
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJun 14, 2017

Alguns dias atrás uma amiga de uma amiga, estudante da PUC, me perguntou como era estudar na UERJ, se era mesmo tudo isso que falavam. Foi uma pergunta complicada porque eu, aluna de escola particular, achei que entraria na UERJ para ter meus problemas resolvidos e a vida encaminhada. Esperava uma faculdade de ponta, com ótimos professores e um mínimo de tecnologia e material de pesquisa disponível. Entrei para encontrar um prédio triste, com muitos professores descompromissados com os horários de aula e quase nenhum material disponível para estudo independente. Esperava um ambiente que transbordasse conhecimento, com a interdisciplinaridade pululando pelos corredores e escadas. Me deparei com uma faculdade de Direito com pouquíssimo contato com os outros cursos e um andar de artes que parecia estar a quilômetros de distância do do meu. Mas a questão não é essa.

Com pouco tempo de aula pude perceber a realidade. A UERJ, na verdade, é tudo isso que eles falam e muito mais. É que a UERJ é bem mais que uma instituição. Ela pulsa, chora, vibra e até se vinga de alguns alunos fazendo o elevador enguiçar justo naqueles dias de prova em que eles não podem se atrasar nem um minutinho. Ela se faz pelas gentes que todos os dias rodam por aqueles corredores, dando um pedacinho de si para ela e recebendo um tanto dela em troca.

Ser UERJiano é, mesmo em tempos de calmaria, resistir. É trocar opiniões e produzir conhecimento em um prédio desenhado para impedir que essas trocas aconteçam, desenhado para impedir o pensamento crítico de circular. É ir para a aula em dia de chuva, para chegar na Maracanã e descobrir que tá tudo alagado e não tem como chegar na faculdade. É ter um apagão às nove da noite e o professor insistir em continuar a exposição porque não pode atrasar a matéria.

Viver a UERJ é achar que já conhece cada quina do lugar e, quando tem uma aula em outro andar, se perder completamente. É descer 7 andares de escada para comer mais barato e subir correndo os mesmos 7 andares minutos depois porque a aula já começou e não tem elevador direto daquele andar para o seu. É, mesmo depois de anos convivendo com o prédio, em um minuto de descuido chamar o elevador por pura força do hábito.

A UERJ é um lugar absurdo, que só pode ser entendido por quem o vive. Porque ser da UERJ é isso. Não é só fazer a faculdade, é viver aquele ambiente de abelhas operárias em que tem sempre alguém subindo ou descendo alguma rampa ou escada, não importando a hora do dia ou da noite. É virar parte desse fluxo e tê-lo como parte de você numa simbiose meio bizarra que você nunca pensou que teria com um prédio ou instituição porque, de novo, a UERJ é muito mais do que isso. A UERJ vive pela gente e dentro da gente e, assim, resistiremos juntos a mais esse tempo de crise.

Clique no ❤ e deixe o seu comentário. Se quiser mais privacidade, nos mande um e-mail para rsubjetiva@gmail.com

Segue a gente no Facebook|Twitter|Instagram|Youtube.

Conheça o Subversivo Podcast, o podcast oficial da Revista Subjetiva.

Temos um grupo para nossos leitores e autores, entre aqui.

Receba um conteúdo totalmente exclusivo clicando aqui.

--

--