LUTE COMO UMA GAROTA: feministas que mudaram o mundo

Série inspirada pelo livro “Lute como uma garota: 60 feministas que mudaram o mundo” escrito por Laura Barcella e Fernanda Lopes, pelo Grupo Editorial Pensamento

Mayra Chomski
Revista Subjetiva
6 min readApr 9, 2018

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Recebemos o livro “Lute como uma garota” no kit de boas vindas dos nossos novos parceiros do Grupo Editorial Pensamento, e não é que eles acertaram em cheio?! Por esse motivo, não faremos apenas uma resenha, mas sim um especial com alguma das histórias das mulheres presentes na obra de Laura Barcella e Fernanda Lopes, para que, assim, as mensagens dessas 60 feministas se espalhem por cada cantinho de nosso mundo.

Como diz no título, são ao todo 60 feministas que mudaram o mundo, umas mais conhecidas e outras que foram postas em segundo plano. E esse é um dos belíssimos motivos por este livro ser tão bom, pois além de mostrar as feministas mais conhecidas do público em geral, como a mexicana Frida Kahlo, inclui feministas que não são tão conhecidas assim, como a abolicionista, escritora e ativista pelos direitos da mulher, Sojourner Truth.

A primeira mulher que vamos abordar será a inglesa Mary Wollstonecraft, que foi considerada por muitos como uma das primeiras feministas do mundo ainda no século XVIII.

Mary Wollstonecraft (1759–1797)

Retrato de Mary Wollstonecraft sobre obra ‘Liberdade guiando o povo’, de Eugène Delacroix (Arte Revista CULT)

Mary Wollstonecraft nasceu no dia 27 de abril de 1759, foi a primeira filha menina de Elizabeth Dixon e de Edward John Wollstonecraft. Ela teve uma infância difícil, passando por uma relação abusiva com seu pai alcoólatra, e, frequentemente, precisava proteger sua mãe e a si mesma dele.

Mary Wollstonecraft, governanta e duas crianças.

Aos 19 anos, decide sair de casa devido a relação conturbada com o pai. Para sustentar-se trabalhou como professora, governanta e “dama de companhia”. Mesmo que sua educação formal tenha sido bastante limitada, graças a um amigo que tinha uma biblioteca, Mary teve acesso a centenas de obras, que ocuparam espaço na sua vida durante a juventude. Durante esta fase conhece Fanny Blood, que a inspira a cultivar sua intelectualidade. Assim, em 1781, Wollstonecraft tentou fundar uma escola em Islington, norte de Londres, mas não conseguiu. Em seguida, com Fanny e suas irmãs, Eliza e Everina, Mary abriu outra escola perto de Newington Green que, depois de um sucesso inicial, também faliu e, após isso, ela segue para a Irlanda.

Depois de viver três anos na Irlanda, volta a Londres e se vê sem ter o que fazer, e graças a conhecidos, consegue começar a trabalhar como tradutora para Joseph Johnson, que era reconhecido como um escritor radical, editor e dono de uma livraria, que lançou vários autores desconhecidos como o poeta e pintor William Blake. Wollstonecraft, com seu trabalho, foi ganhando cada vez mais a confiança de Johnson, até quem em 1786 publica seu primeiro panfleto, intitulado de “Reflexões sobre a educação das filhas”. As vendas foram baixas, mas este panfleto a lançou para a carreira literária.

Trabalhando como editora assistente e escritora do periódico The Analytical Review, a intelectual feminista conheceu importantes radicais como Henry Fuseli e Thomas Christie, sócio de Johnson na editora. Em certa ocasião, ela conheceu o filósofo William Godwin e Thomas Paine. Wollstonecraft sempre era a única mulher na roda de conversa e era sempre a que dominava o papo.

Em julho de 1789, a Revolução Francesa estoura e, em novembro de 1790, o livro “Reflexões sobre a revolução na França”, de Edmund Burke, é lançado, no qual desferiu duras críticas à revolução que havia se desencadeado na França, atacando os direitos naturais e defendendo a monarquia e a aristocracia.

Edmund Burke versus Mary Wollstonecraft

Indignada com o livro de Burke, Mary passa mais de três meses escrevendo o folheto “Uma defesa dos direitos do homem” (A Vindication of the Rights of Men) em janeiro de 1792, de forma anônima, em que ela rebate Burke afirmando que o autor não tem olhos para a pobreza e denuncia as injustiças da Constituição britânica. Na segunda edição do folheto, a autora assina e assim se torna reconhecida.

Muda para a França onde publica sua obra mais famosa: “A reivindicação dos direitos das mulheres”. Esse é o texto que será anos mais tarde um dos documentos fundadores do feminismo. A obra denuncia a privação que as mulheres passavam no século XVIII, colocando em pauta a importância da educação das mulheres, o voto feminino e a igualdade no casamento. A primeira edição do livro se esgotou no primeiro ano; Johnson lançou uma segunda edição americana, além de traduções para o francês e o alemão.

“Eu realmente acredito que as mulheres devem ter representantes, ao invés de serem governadas arbitrariamente, sem que possam participar diretamente de parte alguma das deliberações do governo.”

Frontispício de ‘Uma reivindicação pelos direitos da mulher’, por William Blake, e página inicial da edição de 1792 (Reprodução)

Wollstonecraft defendeu a eliminação dos obstáculos ao sucesso das mulheres. Ela afirmava que “a liberdade é a mãe da virtude; se as mulheres forem naturalmente escravas, e não puderem respirar o revigorante ar da liberdade, então elas deverão ser eternamente desprezadas como seres exóticos, como belas falhas da natureza”. Sonhava com o dia em que homens e mulheres tivessem o mesmos direitos.

“Na luta pelos direitos da mulher, meu principal argumento baseia-se neste simples princípio: se a mulher não for preparada pela educação para se tornar a companheira do homem, ela interromperá o progresso do conhecimento e da virtude.”

Em 1794 dá a luz a sua primeira filha, Fanny. Após ser abandonada pelo pai de Fanny, Mary tenta duas vezes suicídio. Ao se recuperar volta a trabalhar com Johnson, onde reencontra William Godwin. Tanto Wollstonecraft e Godwin criticavam o casamento como um veículo de exploração, mas, ainda assim, ataram os laços no dia 29 de maio de 1797. Em 30 de agosto de 1797, nasce a primeira filha do casal, Mary Wollstonecraft Godwin — ou como ficou conhecida: Mary Shelley por escrever o livro Frankenstein. Infelizmente devido a complicações da saída da placenta, Mary Wollstonecraft morre no dia 10 de setembro de 1797.

Quando uma mulher levanta, mostra sua voz e incomoda, ela é julgada como algo negativo, e foi exatamente assim com Mary, ainda mais por ser um ponto fora da curva de sua época. A autora foi julgada, principalmente pelo homens que eram a maioria dos eruditos como uma mulher neurótica, radical e compulsiva. Mas no final das contas, como as autoras do livro, Laura Barcella e Fernanda Lopes, escreveram: “Felizmente, a História acabou dando razão a ela”.

Após as ideias de Wollstonecraft, as mulheres passaram a interpretar o mundo de outro jeito. Com sua trajetória, ensinou como assumir as rédias de nossas vidas, nos mostrou como uma semente — que foram seus ideais ainda no século XVIII — pode mudar o mundo e ser uma das bases dos diversos feminismos que há na contemporaneidade.

Essa foi a escritora, filósofa e defensora dos direitos das mulheres, Mary Wollstonecraft.

“Não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens, mas sim sobre si mesmas.”

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