LUTE COMO UMA GAROTA: Pauli Murray
Conheça a advogada, escritora, ativista dos direitos civis e dos direitos das mulheres norte-americana
Série inspirada no livro “Lute como uma garota: 60 feministas que mudaram o mundo”, de Laura Barcella e Fernanda Lopes, publicado pelo Grupo Editorial Pensamento.
Pauli Murray (1910 —1985)
Anna Pauline (Pauli) Murray nasceu no dia 20 de novembro de 1910, em Baltimore, Estado Unidos. Infelizmente conviveu pouco com seus pais, sua mãe falece quando tinha apenas quatro anos e seu pai quando tinha treze anos. Após, ela vai morar com sua tia Pauline, professora de escola primária e seus avós Robert e Cornelia Fitzgerald, em Durham, na Carolina do Norte, onde permanece até se formar no colégio em 1926 e depois segue para Nova York, onde estuda na Hunter College.
No começo conseguiu financiar seus estudos com diversos empregos, porém as coisas complicaram após o “crash” da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, e isso acarreta no desempregado e Anna, por isso é obrigada a largar os estudos na Hunter College por um tempo.
Passado o pior da crise, na década de 30 consegue um emprego através do Works Projects Administration (WPA), que foi um marco da política do New Deal (nome dado à série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Roosevelt com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana), que gerou empregos no continente americano. Com dinheiro garantido, Pauli volta aos estudos e consegue publicar artigos e poemas autorais.
Neste mesmo período, aos 20 anos, se rebatiza com um nome mais neutro em termos de gênero e se torna “Pauli”. Para alguns estudiosos, Pauli se torna uma das pioneiras no assunto transgênero, pois lutou incansavelmente não apenas pelos direitos civis dos negros, mas também pelo direito da comunidade LGBT, com textos expressando o seu desejo de ser homem.
Após sua formatura na Hunter College em 1938, se candidata ao curso de pós-graduação da Universidade da Carolina do Norte, porém a admissão é negada por ser negra.
Pauli inicia uma campanha para entrar na Universidade e conta com apoio da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (em inglês: National Association for the Advancement of Colored People — NAACP), que é uma das mais antigas e mais influentes instituições a favor dos direitos civis de uma minoria — principalmente de negros — nos Estados Unidos, e o caso ganha visibilidade nacional. No entanto, ela continuou não sendo aceita aceita e só em 1951 Floyd McKissick se tornou o primeiro afro-americano a ser aceito pela Universidade da Carolina do Norte.
Durante sua campanha para poder cursar a pós na Carolina do Norte, Murray se envolve cada vez mais com a política e na luta pelos direitos civis dos negros. Em março de 1940 ao se recusar a sentar nos fundos de um ônibus — lugar destinado aos negros — é presa na Virgínia.
“Uma só pessoa mais uma máquina de escrever já constitui um movimento.”
Decidida de sua luta e inspirada pelos advogados de direitos civis que conheceu durante esta campanha, em 1941 ingressa na faculdade de Direito da Howard University. No ano seguinte se junta a George Houser, James Farmer e Bayard Rustin para formar o Congresso de Igualdade Racial (CORE), que eram principalmente pacifistas, influenciados por nomes como Mahatma Gandhi e a campanha de desobediência civil não violenta que triunfou contra o domínio britânico na Índia. Esse grupo se convence que esses mesmos métodos poderiam ser empregados pelos negros para obter direitos civis na América.
Em 1943 publica “Negroes are Fed Up” in Common Sense, além disso também publicou artigos e o seu famoso poema “Dark Testament”.
Se formou no topo da sua turma em Howard Law, em 1944, ganhando a prestigiosa “Bolsa Rosenwald”, que a daria direito de cursar Havard, mas lhe é negada a admissão devido seu sexo. Com isso vai para a University of California Boalt School of Law e se torna mestra com a tese “The Right to Equal Opportunity in Employment”.
Em 1950 se muda para Nova York, onde é contratada por um escritório de advocacia que tinha apenas três mulheres e, ela, sendo a única negra. Um ano depois escreve “Leis dos Estados sobre Raça e Cor para a Divisão de Mulheres da Igreja Metodista”, que foi rotulada como a “bíblia” para o caso Brown vs. Board of Education de 1954 e outros casos de direitos civis.
Nos anos 50, a guerra fria gera nos Estados Unidos uma paranoia anticomunista, por isso é instaurado o movimento político norte-americano que tinha como finalidade combater o comunismo no país, o chamado “Macarthismo”. Murray, em 1952, foi incluída na lista dos “temidos comunistas” quando não foi aceita para ocupar um cargo da Universidade de Cornell, devido aos nomes de suas referências como Eleanor Roosevelt, Thurgood Marshall e Phillip Randolph, que eram consideradas “radicais demais”.
Em 1956 é publicado o seu escrito ‘Proud Shoes: The Story of an American’ , que contava a história de seus avós e suas lutas contra o preconceito racial nos Estado Unidos, principalmente sobre a sua cidade natal de Durham.
Em 1960, viaja ao Gana para conhecer suas raízes e assumir o cargo de professora sênior da Escola de Direito de Gana, em Accra. Na sua volta em 1961, o Presidente Kennedy a procura e a nomeia para a Comissão dos Direitos Civis e Políticos
A Lei dos Direitos Civis dos EUA é aprovada no dia 2 de julho de 1964 e, com isso, Pauli e outros ativistas pressionam para que o artigo VII da lei também incluísse a discriminação sexual. Em 1965, Murray publica em coautoria com Mary Eastwood o artigo ‘Jane Crow and the Law: Sex discrimination and Title VII’, onde traça um paralelo entre a discriminação baseada no sexo com as leis de Jim Crow, que foram as leis promulgadas no Estados do sul dos Estados Unidos, que institucionalizaram a segregação racial, afetando principalmente os negros, que vigorou de 1876 a 1965. No artigo, elas analisam como a discriminação sexual no emprego era tão prejudicial quanto a discriminação racial.
“Falo em nome da minha raça e do meu povo — a raça humana e as pessoas justas.”
Mesmo tendo a mesma visão de líderes do movimento como Martin Luther King Jr, Philip Randolph e Bayard Rustin, quando o assunto era direito civil, Murray os criticou devido a falta de líderes mulheres dentro do movimento, na sua visão os homens dominavam a liderança das organizações de direitos civis. Ainda indignada pelas mulheres nunca terem papel de destaque, em agosto de 1963, escreve a Randolph uma carta no qual evidência o quanto tinha ficado perturbada devido a diferença da quantidade entre homens e mulheres negras nos principais papeis da luta, sendo este lugar majoritariamente masculino e tendo as mulheres negras designadas para exercer funções secundárias.
Em 1966, em conjunto com outras mulheres, Murray funda a National Organization for Women (NOW), que é uma entidade feminista com o objetivo em lutar pelos direitos femininos e promover igualdade de gênero. Em 1967 torna-se vice presidente da Benedict College em Columbia. De 1968 a 1973 dá aula como professor de Direito e Política na Brandeis University.
Aos 62 anos, Murray ingressa no General Theological Seminary e assim quebra outro tabu e se torna a primeira sacerdotisa afro-americana a ser ordenada pela Igreja Episcopal Protestante, em 1977. Porém quando completa 72, a Igreja a obriga a se aposentar, mas mesmo assim Pauli continua em ação indo na casa das pessoas, principalmente as que estavam doentes.
Morre em 1 de julho de 1985, de câncer. Todavia suas obras continuaram a ser publicadas postumamente como sua biografia ‘Song in a Weary Throat: An American Pilgrimage’ em 1987 e outros livros foram publicados sobre sua vida e obra como: ‘Pauli Murray & Caroline Ware: Forty Years of Letters in Black and White’ ; ‘Pauli Murray: Selected Sermons and Writings’ ; ‘The Dream is Freedom: Pauli Murray and American Democratic Faith’ ; ‘Reasoning From Race’ ; ‘The Firebrand and the First Lady, Portrait of a Friendship: Pauli Murray, Eleanor Roosevelt, and the Struggle for Social Justice’ ;
Esta foi Pauli Murray, advogada, escritora, e primeira sacerdotisa afro-americana, ativista dos direitos civis americanos e dos direitos das mulheres.
“Os negros são a parte mais oprimida e mais negligenciada da população. Doze milhões dos seus cidadãos tem que suportar insultos, injustiças e uma tal degradação de espírito que parece impossível acreditar.” [Trecho da carta enviada ao presidente Franklin Roosevelt, em 1938]
Você pode adquirir o livro “Lute como uma garota: 60 feministas que mudaram o mundo” clicando aqui.
Gostou? Clique nos aplausos — eles vão de 1 a 50 — e deixe o seu comentário!❤
Nos siga no Facebook, Instagram e Twitter.
Saiba como publicar seus textos conosco clicando aqui.
Leia a nossa revista digital clicando aqui.❤
Participe do nosso grupo oficial, compartilhe seus textos e adicione os amigos!