LUTE COMO UMA GAROTA: Rose Marie Muraro
Série inspirada no livro “Lute como uma garota: 60 feministas que mudaram o mundo”, de Laura Barcella e Fernanda Lopes, publicado pelo Grupo Editorial Pensamento.
Rose Marie Muraro (1930–2014)
Rose Marie Muraro nasceu praticamente cega e lutando pela vida no dia 11 de novembro de 1930, na cidade do Rio de Janeiro. Cresceu em uma família rica de origem síria libanesa. Mesmo com sua deficiência visual, aprendeu a ler sozinha, assim, sua direção ao caminho das letras já estava traçado, quando na adolescência aflora sua paixão pela escrita e começa a escrever poemas.
Aos 15 anos, Marie perde seu pai, com isso assume o dever de ajudar sua mãe no cuidado de seus irmãos mais velhos. Nesta mesma época tudo muda na vida de Marie, quando entra no segundo grau e começa a militar, onde um tempo depois iria conhecer o então padre Helder Câmara, com quem ingressa no trabalho na Juventude Católica, escrevendo artigos e jornais.
Após formada no secundário, ingressa na Universidade do Brasil no curso de Física, sendo uma das dez mulheres de sua turma. Porém, sua paixão pela literatura sempre falou mais alto e com isso ela larga a faculdade no terceiro ano e se dedica à ela e a militância.
Na década de 50, viaja pela primeira vez para a Europa, onde conhece seu marido, com quem no futuro teria cinco filhos.
De volta ao Brasil e cada vez mais progressista e lutando contra as injustiças sociais, começa a fazer parte dos movimentos políticos da época, como o “Petróleo é Nosso”.
Entre as décadas de 50 e 60, estava sendo contruida a ideologia que no futuro colocaria Marie ao lado de Leonardo Boff e outros teólogos que iriam defender a Teologia da Libertação. Esta corrente deu o que falar por forças conservadoras a acusarem de herética e incompatível com a doutrina católica. Porém, sua essência nada mais é do que a Igreja dos pobres e para os pobres (Tulio Tavares).
Em 1960 passa a escrever para jornais estudantis e é contratada para trabalhar na União Católica de Imprensa. No ano seguinte começa efetivamente no mercado editorial conseguindo uma vaga na Editora Vozes de Petrópolis, assim levando a linha progressista da Igreja. Permaneceu na editora por 25 anos trabalhando com seu amigo e companheiro de luta, Leonardo Boff.
Em 1966 publica seu primeiro livro ‘Mulher na Construção do Mundo Futuro’ e dois anos depois seu segundo livro ‘Automação e o Futuro do Homem’. Em 1969 assume a posição de editora-chefe da Vozes, com isso levou a editora à um novo rumo além dos livros tradicionais de oração, como quando em 1971 publica o livro ‘Libertação Sexual da Mulher’.
“Quando comecei me chamaram de prostituta, mal-amada, machona, solteirona. Hoje, os tapetes vermelhos estão abertos para mim. Já não sou vista como uma bruxa contra os homens.”
Feminista, Rose não se limitou apenas em seus escritos pela libertação sexual da mulher. Em 1971, ela trouxe para o Brasil a feminista Betty Friedan, dando o ponta-pé ao futuro Movimento Feminista no Brasil. A partir deste momento, o movimento pelos direitos das mulheres só cresceu, com isso em 75 funda o Centro da Mulher da Brasileira e em 77 viajou para os Estados Unidos para dar aulas e conferências em mais de 40 universidades sobre estudos da mulher latino-americana.
Desde 1 de abril de 1964, o Regime Militar proibia conteúdos que julgavam ser impróprios e subversivos à sociedade brasileiro, e é claro que seus livros não ficaram de fora dessa. Eles foram censurados, com a alegação de conteúdo pornográfico. Porém, mesmo com a proibição dentro das universidades, seus livros ainda circulavam como um modo de resistência a toda censura.
Ainda sob o governo ditatorial, em 1983 publicou o seu mais importante livro de pesquisa ‘A Sexualidade da Mulher Brasileira’. Este livro foi originado de um trabalho realizado em diversos estados brasileiros e até hoje ele é o único trabalho desta envergadura na área da sexualidade em língua portuguesa.
Em 1985, já com o fim da ditadura, além de ser membra fundadora do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher a convite do Governo Federal, foi nomeada a Patrona do Feminismo Brasileiro.
Os tempos sombrios continuavam na vida de Rose, mesmo com a democracia no Brasil, assistiu uma virada conservadora na Igreja Católica e em 1986, é expulsa junto com Boff da Editora Vozes por ordem do Vaticano. O motivo seria a defesa que os dois faziam a Teologia da Libertação e por Rose ter publicado o livro ‘Sexualidade, Libertação e Fé por uma Erótica Cristã: Primeiras Indagações’.
Em 87 descobre um câncer que quase tira sua vida, mas se submete a uma difícil cirurgia que lhe salva a vida.
Recuperada da cirurgia, funda a editora Rosa dos Tempos, a única editora dedicada ao estudo de gênero na América Latina, tendo como sócias a Editora Record, Laura Civita, Ruth Escobar e Neuma Aguiar. Neste selo, publica sua autobiografia ‘Memórias de uma Mulher Impossível’, uma das três únicas autobiografias de mulheres da história do Brasil. O livro foi o resultado de gravações em 97 na Filadélfia (EUA), quando passou um semestre dando aula na Temple University.
A sua vida toda atuou socialmente e durante duas vezes tentou adentrar no sistema político, nas eleições de 1986 e 1994. Não foi eleita, mas essa experiencia deu vida ao livro ‘Os Seis Meses em Que Fui Homem’, no qual narra a dificuldade de ser mulher e atuar no ambiente político.
Nos anos 2000 percorre o Brasil fazendo palestras e conferencias sobre a condição da mulher. A partir de 2005, com apoio da Itaipu Binacional para pesquisas, publicou várias obras, sendo uma delas especificamente educacional para jovens, a coleção ‘Um Novo Mundo em Gestação’. Com uma visão na área tecnológica, em 2009 publicou ‘Avanços Tecnológicos e o Futuro da Humanidade: querendo ser Deus?’
“O homem pensa primeiro nele e depois nos outros, daí sai a corrupção. A mulher pensa primeiro nos outros, depois nela.”
A partir de 2010, Rose começa a diminuir seu ritmo devido ao câncer na medula óssea. Após escrever quarenta livros, foca no seu ultimo chamado ‘Reinventando o Capital Dinheiro’ e depois de sua publicação a dedica-se toda sua força ao seu Instituto, onde tinha o sonho de garantir às gerações futuras o acesso ao seu legado cultural. A escritora falece em 21 de junho de 2014.
De herança nos deixou suas valiosas obras e um legado onde nos mostra o espaço da religião e militância se unem e podem sim coexistir em prol a aqueles que mais precisam e são invisíveis ao Estado. E mesmo com a pressão intensa de alas conservadoras podemos mudar muitas coisas ao nosso redor.
“Educar um homem é educar um indivíduo, mas educar uma mulher é educar uma sociedade.”
Essa foi a escritora, editora, teóloga e intelectual feminista, Rose Marie Muraro.
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