M-8 — Quando a Morte Socorre a Vida

Novo filme do diretor Jeferson De explora as diferentes formas do racismo

Lucas Souza
Revista Subjetiva
4 min readNov 20, 2020

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Mauricio (Juan Paiva), é um estudante de medicina, que acabou de entrar na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele vive com a mãe, Cida (Mariana Nunes), uma auxiliar de enfermagem de sempre lutou para tentar dar uma vida melhor para os dois. Em seu primeiro dia de aula de anatomia, Maurício, se depara com o corpo M-8 (Raphael Logam), a partir desse encontro o rapaz passa a ter pesadelos e inicia uma busca para tentar descobrir qual a história daquele corpo.

O novo filme, dirigido por Jeferson De, é baseado no livro homônimo de Salomão Polakiewicz. Confesso que não li a obra original, portanto, não sei dizer se a adaptação está fiel. Dito isto, posso dizer que o longa consegue retratar o racismo estrutural, que está presente na sociedade brasileira, ao mesmo tempo que envolve o espectador em uma trata de mistério.

O diretor do longa Jeferson De — Foto: Vantoen Pereira JR

O diretor, Jeferson De, consegue de forma bem direta e didática ilustrar situações que são vividas por milhares de pessoas todos os dias. Em alguns momentos uma cena que, para alguns pode parecer clichê, é o retrato de como funciona a nossa sociedade. O filme é um ato de resistência, um reflexo de como é o Brasil e ainda mais um retrato do Rio de Janeiro, com seus enormes contrastes e diferenças.

Em determinado momento do filme Mauricio se questiona:

“Às vezes eu me pergunto se não tenho mais a ver com esses corpos do que com os meus colegas de turma”.

Toda essa sensação de não pertencimento vem do choque provocado pela presença de Maurício no ambiente acadêmico. Ele não consegue se identificar com seus colegas e os vínculos que ele cria com eles mesmo sendo fortes sempre esbarram no racismo que não está verbalizado ou escancarado, mas está presente em pequenos momentos, em olhares, estranhamentos e desconforto por parte dos colegas.

Fábio Beltrão, Bruno Peixoto, Giulia Gayoso, Juan Paiva — Foto: Vantoen Pereira JR

É possível perceber como a parte social do filme ganha muito mais destaque quando a mãe de Maurício entra em cena. A incrível personagem Cida , interpretada por Mariana Nunes, e a relação de mãe e filho é o ponto mais forte e que rende as melhores cenas. Tudo que dito por Cida tem um peso e uma carga emocional que reflete toda a luta que ela teve para criar o filho, além de conviver ter que conviver com outras formas de racismo e machismo, que o filho não entenderia pela sua posição de homem dentro da sociedade.

Mariana Nunes (Cida) e Juan Paiva (Maurício) — Foto: Vantoen Pereira JR

Enquanto um filme de protesto o longa consegue ir muito bem e se desenvolver de forma bem fluida. Já a atmosfera de mistério, que em alguns pontos chega a flertar com o terror, não consegue capturar tanto assim. Parece que existem dois filme dentro de um, e a parte da denúncia racial acaba ganhando mais força e a parte fantasiosa acaba sendo deixada um pouco de lado.

Juan Paiva (Maurício) e Raphael Logam (M-8) Foto: Divulgação

Apesar de achar que o mistério e o drama racial são desbalanceados durante um longa, a forma como diretor consegue amarrar tudo, em uma cena final muito reveladora, é tocante. “M-8 — Quando a Morte Socorre a Vida” tem uma mensagem muito poderosa, talvez seja uma ótima porta de entrada de entrada para um público mais jovem começar a entender a forma como o racismo está permeado na sociedade brasileira.

Como um filme de mistério/terror ele segue a linha de muita coisa que vem sendo produzida no cinema brasileiro recentemente, mas não tem o mesmo impacto de outras obras. Apesar disso, é um longa que consegue escancarar de forma bem clara como o racismo tem muitos rosto e é um problema que precisa ser combatido todos o dias.

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Clique e veja o trailer do filme:

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Lucas Souza
Revista Subjetiva

RJ, 22 anos, estudante de jornalismo. Nas horas vagas escrevo sobre filmes e séries