Malcolm & Marie

e o purgatório d’alma da experiência humana

Maria Capitolina
Revista Subjetiva
2 min readMar 26, 2021

--

Fonte: Dominic Miller/Netflix 2021

Dirigido e roteirizado por Sam Lenvison (Euphoria, HBO), o drama estrelado por Zendaya (Euphoria) e John David Washington (Tenet) espelhou muitos olhares e corações: atire a primeira pedra se você nunca assistiu, roteirizou ou estrelou uma DR.

Malcolm (John David Washington) após a noite de estreia de seu filme, volta para casa com sua namorada Marie (Zendaya) no intuito de comemorar a grande noite enquanto espera ansiosamente a crítica da obra. Com as emoções afloradas a noite vai mudando de rumo enquanto desabafos e revelações sobre seu relacionamento dançam à margem de ambos, colocando assim à prova sentimentos, sentidos, verdades entaladas e vícios.

O filme começa e o telespectador é direcionado sutilmente para dentro da tela, ainda que não o perceba. A trilha sonora o encaminha e faz com que repare em detalhes a estética do filme. Filmes preto e branco dividem opiniões quanto gosto e costume, porém é realizado com êxito, o detalhamento é perceptível e nisso o filme não pecou, não apenas o cinema noir detém o apreço.

Com o desenrolar da trama o mesmo fica mais denso e você nunca sabe o que o próximo diálogo entregará, apesar de ser perceptível a temática e dicotomia apresentada. A princípio é protagonizado por duas personagens, mas logo nota-se a presença de mais uma. Entre olhares, gestos e palavras, a respiração pausada e o silêncio intermitente dá-se palco para os mil e um diálogos internos que todo ser humano que já se relacionou com outro, minimamente, já o deu vazão - e se não o fez, imaginou. Você também participa do filme.

Malcolm & Marie não é apenas um drama romântico clichê sobre as relações humanas. Ou talvez até seja, mas, ele reflete os ecos do silêncio de uma relação velada. No ato de falar quando se pretende ferir. No ato de ferir quando se pretende calar. O filme entrega isso. Fala-se muito mais das personagens e de cada um em seu interior que o próprio duo. É perceptível o perdido nos olhos, nas falas e toques o cru do existencialismo.

A garganta seca e o nó certificaram isso. O impecável show nas atuações e entrega dos dois atores também. É um filme que trata o singular. Não é errado identificar-se com a obra, muito pelo contrário, ela é um espelho para que venha à tona o diálogo preso e silencioso que mora em cada monólogo de banheiro, som abafado de tapete e vazios surdos em quartos, cozinhas, salas e varandas.

É uma oportunidade para que esse grito se solte. Se molde. E dance.

Gostou? Clique nos aplausos — eles vão de 1 a 50 — deixe o seu comentário e nos acompanhem também nas outras redes sociais: Instagram e Twitter.

--

--

Maria Capitolina
Revista Subjetiva

"te conhecendo parece uma viagem aleatória dentro da tua cabeça"