Manifesto #EleNão

A Revista Subjetiva se posiciona a favor da Democracia

Revista Subjetiva
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A atual crise política tem raiz em 2013, quando as ruas foram tomadas por manifestantes, de variados espectros políticos, sem pauta unificada, mas com um objetivo em comum: a mudança (de quê? Para quê? Nada disso foi decidido). Em 2014, o Brasil foi marcado por dois grandes eventos: a Copa do Mundo e a primeira eleição questionada por um Partido político. Em 2016, assistimos àqueles que foram eleitos por nós dedicando os votos políticos a seus deuses e suas famílias. Desde então, acompanhamos a limitação de direitos sociais, a ascensão de reformas discutidas longe dos olhos da sociedade civil e o surgimento de discursos de ódio antes reservados à vida privada, mas que agora, em 2018, tomam as ruas com gritos de ordem, cultuando uma figura claramente controversa e despreparada para assumir um país em crise política, econômica e social.

Nós, da Subjetiva, estivemos sempre ao lado das minorias políticas e sociais, compreendendo a importância da luta por direitos, respeito e dignidade. Este espaço surgiu em meio à política e continuará sendo assim. Entendemos que a atual conjuntura política pede um posicionamento; caso contrário, podemos perder ainda mais daqui pra frente. Por conta disso, aderimos à campanha #EleNão, que surge a partir da mobilização de mulheres nas redes sociais e ganha a esfera pública. Não é necessário escolher um candidato, mas saber quem não apoiar.

Nós, colunistas da Revista Subjetiva, unimos nossas vozes neste manifesto. Trazemos aqui nosso protesto, por meio das nossas histórias pessoais e da nossa humanidade. Para que o que há de humano em nós nunca se perca e nunca seja violentamente abalado. Para que nossas diferenças não sirvam para outra coisa senão nos unir.

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons” — Martin Luther King

MANIFESTO

Porque eu sou uma mulher bissexual. Porque já ganho menos que os homens e nem precisei engravidar para isso. Porque já tive uma arma apontada para mim. Porque sou homossexual, filho de empregada doméstica, e porque parte da minha família trabalha para produtores rurais. Porque o homem que eu amo é bissexual. Porque não foi por falta de porrada eu ser lésbica. Porque eu sou mulher, integrante da comunidade LGBT+, vítima de machismo e não quero sofrer violência ou (mais) discriminação por isso. Porque já deixei de sair de casa por conta de operação da polícia na minha favela e não acredito que potencializar isso irá resolver algo. Porque sou professor em formação e não acredito que militarizar as escolas contribuirá para uma educação comprometida com a democracia. Porque uma amiga querida já fez aborto. Porque um homem que homenageia um torturador não pode ser presidente da República. Porque sou mulher, membro da comunidade LGBT+ e não quero ver retirados os direitos que já conquistamos e nem ter medo de ser quem eu sou. Porque eu sou mulher e sou dona do meu próprio corpo e pensamento, porque uma cultura de ódio vai nos fazer retroceder enquanto sociedade. Porque devemos nos lembrar do nosso passado, 1964 nunca mais. Porque o fascismo exterminou o nosso passado e não precisa destruir também o nosso futuro. Porque ódio não dialoga. Porque todas as pessoas devem se sentir iguais e viverem sem medo de serem violentadas, física e moralmente. Porque eu não sou uma “fraquejada”, sou mulher e sou força e mereço respeito porque acima de tudo, eu sou um ser humano como qualquer outro. Porque as minorias não precisam se curvar às maiorias. Porque o machismo e a misoginia devem ser combatidos e não eleitos como governantes. Porque eu não sou um “desajustado” por ter sido educado sem uma presença paterna. Porque “causar” não deve ser característica principal para eleger ninguém, mas sim as propostas para saúde, educação e economia do país. Porque eu não quero um presidente que não se solidariza com a ciência, a história e a cultura nacional quando elas se tornam cinzas. Porque a defesa pela supressão de direitos do povo e o desrespeito à diversidade não podem ser considerados projetos democráticos em uma sociedade séria. Porque eu já cogitei o aborto. Porque nenhuma mulher merece ser estuprada. Porque meu melhor amigo é gay. Porque ninguém que incita o ódio deve ocupar uma posição que dá voz para as outras pessoas que pensam da mesma forma. Porque nenhuma mulher deve ser violentada sexualmente e, caso seja, merece no mínimo um atendimento, suporte e amparo gratuitos e de qualidade. Porque a tortura de quem pensa diferente não se exalta e nem serve como objeto de piada. Porque a desigualdade deve ser combatida e uma tributação de renda com alíquota única de 20% não faz isso, pelo contrário, só intensifica esse problema social. Porque merecemos um candidato com um plano de governo coerente, que seja voltado àqueles que mais precisam e pautado no progresso ao invés do retrocesso. Porque ele sim significa a minha morte enquanto pessoa física e histórica. Porque ele sim significa um retrocesso de todas as conquistas do movimento negro e feminista. Porque sou uma jovem negra viva e quero permanecer assim. Porque sou uma mulher judia e meus antepassados já sofreram com o fascismo. Porque eu fui criada por uma mãe e uma tia e isso não me tornou um mau elemento ou fraca, pelo contrario, me fez e faz lutar todos os dias por mim e pelo próximo e isso por si só já é sinônimo de força.

Porque eu não mereço ser estuprada. Porque ele, ele NÃO.

ASSINAM

Carol Btr, Yasmin Narcizo, Guilherme Aniceto, Mallu Motta, Gabriela Prado, Lucas Machado, Carlos Barth, Carol Vidal, Larissa Goya Pierry, Deivid Ferraz Fernanda Bárbara, Tassio Denker, Gustavo Roças, Amanda Lima, Helder Medeiros, Grazie Santos, Bruno Tavares, Ryo, M Pereira, Clara Rodrigues, Bruno Desidério, Regiane Folter, Vitória Castilho Cohene, Thaís Campolina, Danilo H., Kenia Mattos, Mayra Chomski e Julia Caramés

No dia 29 de setembro, sábado, as ruas do Brasil serão tomadas por manifestações carregando a #EleNão. A sua participação é fundamental, mobilize seus amigos e familiares para ir as ruas e gritar: NÃO, ELE NÃO!

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