me afoguei em tu

carolina
Revista Subjetiva
Published in
2 min readFeb 28, 2020
ilustração/peony yip

mergulhei na piscina das nossas bocetas
e me afoguei em tu
(com todas as levezas e os pesos que um afogamento pode trazer)
afundei na tua terra molhada
desde as sambadas de coco na beira do mar
entre os ruídos de passos arrastados de desconhecidos nos paralelepípedos das ladeiras,
em meio a tumba e de outros corpos espremidos, não os nossos,
até o banho de chuva na lama do rio
no jardim secreto das carambolas, uvas, morangos e melões.

meus dentes teimam em se mostrar, enquanto minhas bochechas se retraem,
sorrio, aparentemente sem motivo algum.
ou pode ter sido aquele beijo que tu me deu
aquele, cujo acompanhamento foi uma mordida.

uma vez tu me disse que era felina,
mas me parece mais uma raposa preta
é uma espécie rara, pesquisei sobre ela na minha enciclopédia de relações que me deixaram confusa.

eu tava te olhando com meus olhos de jabuticaba
quando tu me disse, com teus olhos mareados de suco de caju, “felicidade”
eu tava quase voando quando te contei:

hoje, eu queria mesmo era dormir agarrada contigo,
lamber tuas lágrimas,
até me peguei perguntando
o que eu sonharia dormindo na tua cama?
tu faz meu corpo querer flutuar
e te levar junto
para beber cerveja artesanal na fila do ônibus
num voo de sofás e carnaval.

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