Memórias do Subterrâneo #1

“Entre Nós.”

Danilo H.
Revista Subjetiva

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05 de Maio, 2017.

“Sei que deve lhe parecer muito evasivo da minha parte, mas pensei em te mandar todas essas cartas há tempos só que nunca tive coragem… Passei muito tempo sendo assombrado pelo que eu era, entretanto você foi meu primeiro passo.

Lamento dizer mas você não foi o único a receber minhas cartas, porém reservei minhas melhores a você, com o tempo você entenderá o porquê.

Andei caminhando por lugares que eu não devia e então dei de cara com você, não se engane ao pensar que tenho qualquer sentimento além por sua pessoa, na verdade tenho sentimentos confusos sobre o que você representa.

Desculpe, sou meio confuso e às vezes não falo nada com nada, é que estou colocando empecilhos no meio do caminho, porque quando a vida não dificulta as coisas eu vou lá e complico tudo… Sou confuso, já te falei.

Acho que te admiro muito, talvez mais do que ninguém pôde ou teve capacidade… Uma vez você passou por mim e disse que se sentia sozinho e que tinha a leve impressão de que esse mundo não era para você.

Você já acordou algum dia e não quis ser você mesmo? Estou há meses com esse pequeno problema, mas, entre nós, confesso que se eu pudesse ser você por um dia eu seria… Por favor, não pare de ler… Estou tentando, ok?

Você acha difícil ser você mesmo? Tente ser alguém como eu… Sou aquele tipo de pessoa que os outros sentem dó ocasionalmente, eles tentam negar mas está impregnado na cara de cada um… Sou totalmente disforme e não fui feito em hipótese alguma para encaixar.

Sou como a peça que sobrou do quebra-cabeça.
Sou a costura que se desfez.
Sou o que eu sequer deveria tentar ser.

Não quero jogar verdades incontestáveis na sua cara e depois sair sem mais nem menos, apenas gostaria que você se gostasse um pouco mais, no fim das contas, dos males você não é o pior… Mas possivelmente eu seja.

Há sempre alguém que te admira a distância (sou um exemplo disso).
A solidão é um condição que nos colocamos, mas juro que é algo superável.
Nascemos sozinhos e sozinho nos vamos, mas o caminho entre esses dois pontos é longo demais para desfrutá-lo sem nenhuma companhia.

A parte de tudo isso peço que você de uma olhada nas outras três cartas que te deixei, essa foi reserva apenas a você (e ao falar de você acabei por encontrar uma brecha para falar de mim, muito obrigado).

Tanto eu quis falar, porém poucos quiseram ouvir e por isso escrevo… Aqui é meu lugar: Tinta, papel e o infinito mundo das palavras.
De certo modo me fui daqui, mas me permiti deixar alguns rastros… Não se atreva a me procurar, acredito que encontrará um beco sem saída, é o que todos sempre encontro.

Contudo você não é igual a eles, afinal, chegou até aqui.

A essa altura meu coração está em chamas, obrigado por essa experiência sensorial a distância, sempre imaginei o dia em que você seguraria uma das minhas cartas nas mãos.

Enfim, nos veremos novamente pois prometo te escrever em breve, ainda não acabou… Nunca acaba… Sou o meio, o fim e recomeço…. O próprio Ouroboros… Ainda restam coisas que preciso te confidenciar, preciso compartilhar esse pouco de mim que ainda insiste em viver, senão… Senão… Desvanecer-me-ei por completo.”

Cortesmente,
K.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.