Minha 1ª experiência lendo Stephen King

Carol Vidal
Revista Subjetiva
Published in
4 min readDec 16, 2019
Foto: Carol Vidal

Se você é uma pessoa que gosta de ler, certamente já ouviu falar de Stephen King. O homem é uma máquina de criar histórias que faz inveja a quem escreve (inclusive eu) pela profícua produção ao longo das décadas. Como escritora e apaixonada por livros, seria um caminho natural me aventurar por algum livro de King, mas um “pequeno” detalhe me impedia: eu tenho medo de histórias de terror.

Apesar disso, há muito tempo alimento dentro de mim a vontade de conhecer a obra de Stephen King pela importância dele para a literatura. Estava até mesmo cogitando passar por cima do meu medo e encarar uma história de terror. Eu queria entender porque o autor é tão aclamado, inclusive por muitas pessoas que conheço.

E foi conversando com a queridíssima Regiane Winarski, tradutora do King no Brasil, que encontrei a solução. Ela me sugeriu começar por uma obra mais leve, que não tem nada de terror. Pois é. O cara é tão produtivo que seus livros perpassam por diversos gêneros. E foi assim que eu cheguei até “Joyland”.

Nos parágrafos a seguir, mais do que fazer uma resenha do livro, vou contar como foi a minha experiência. Ler “Joyland” representou um marco para mim enquanto leitora e escritora, e acho que vale a pena registrar como foi essa jornada.

Quero deixar bem claro que, obviamente, eu não pretendo analisar a obra de Stephen King como um todo baseada em apenas um livro — ainda mais um fora do “comum” dele, que é o terror. Porém, lendo “Joyland”, consegui identificar alguns elementos que me chamaram a atenção, inclusive pontos sempre elogiados pelos fãs do escritor.

Vamos ao que interessa?

Narrativa por meio de memórias

“Joyland” é narrado por Devin Jones que, mais velho, relembra o verão de 1973, quando tinha 21 anos e viveu momentos marcantes por diversos motivos que vamos conhecendo ao longo da leitura. Essa foi uma escolha interessante, pois a nostalgia parece o tom ideal para contar a história desse rapaz de coração partido que vai trabalhar em um parque de diversões durante as férias da universidade.

Outro aspecto da forma que me chamou a atenção foi a não existência de capítulos. Há, sim, algumas pausas marcadas por elementos gráficos, mas a história parece um contínuo do início ao fim. Essa sensação de continuidade é bem legal e faz sentido, pois é como se o narrador lembrasse de fragmentos dos eventos e fosse contando.

Há momentos que temos vislumbres do que acontece no futuro, o que agrega ainda mais ao formato que Stephen King escolheu para contar essa história — uma pessoa relembrando sua vida. Ao terminar a leitura, levei comigo a impressão de que ela não termina na última página, de tão imersiva que foi a experiência.

O poder dos personagens

Uma coisa que sempre ouvia quando alguém falava de Stephen King é que ele sabe escrever personagens como ninguém. Não posso atestar sobre os outros livros, mas “Joyland” tem alguns dos personagens mais interessantes que já encontrei em um livro.

Não só o protagonista, mas todos os outros personagens que o cercam são muito bem construídos. Mesmo com a narração em primeira pessoa, conseguimos ter dimensão da personalidade de cada pessoa que cruzou o caminho de Devin naqueles meses que passou trabalhando no parque de diversões.

Esse foi o ponto alto do livro para mim, seguido do aspecto a seguir.

Ambientação

A história contada pelo protagonista se passa em 1973 e o clima nostálgico e retrô combinou muito com a atmosfera da trama. Não consigo imaginar lugar mais perfeito para a narrativa acontecer do que um parque de diversões. Os jargões, as descrições, o clima… Tudo isso fez com que eu tivesse muita vontade de passar um dia em Joyland.

Normalmente sou uma leitora e escritora que não prioriza muito as descrições, mas esse livro é perfeito nesse quesito. Um mérito também da tradução, que conseguiu transpor para a nossa língua todo o vocabulário próprio de um parque de diversões.

Ritmo mais lento

Outra característica que sempre vejo os leitores de Stephen King apontarem é o ritmo da narrativa. Realmente, o cara gosta de usar muitas palavras! Mesmo nesse livro, que é curto (especialmente para os padrões do autor), a história corre em ritmo lento e vai cozinhando o leitor aos poucos.

Por isso, a leitura tinha tudo para ser cansativa, pois esse não é um livro de grandes reviravoltas, mas a magia de “Joyland” reside na força dos personagens, como disse mais acima. São eles que despertam a vontade de prosseguir com a leitura, mesmo que em alguns momentos parecesse que nada estava acontecendo.

Elementos sobrenaturais

Em “Joyland”, o sobrenatural passa longe de ser a atração principal. A lenda da fantasma que assombra o brinquedo onde foi assassinada aparece de forma discreta. Essa é uma das críticas que tenho ao livro, pois esperava que o mistério estivesse mais presente. Acredito que combinaria com a atmosfera do livro um toque a mais de tensão.

No fim das contas, essa é a história de Devin Jones e as relações que ele construiu durante o período em que a história é narrada, especialmente com o menininho Mike e sua mãe Annie, além dos amigos do parque, Tom e Erin. O brinquedo assombrado é só um detalhe.

Esse texto não tem uma conclusão exatamente. Mas posso dizer que, após essa primeira experiência, fiquei com vontade de conhecer outras obras de Stephen King. O que você me indica?

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Carol Vidal
Revista Subjetiva

Carioca que mora em Salvador. Escritora e podcaster que ama cozinhar (palavras e comidas). Conheça meu trabalho: linktr.ee/carolvidal_