Minha arte é escrever

Léa Yasnaya
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMay 9, 2019
DIVULGAÇÃO

No meu aniversário de dez anos ganhei meu primeiro diário, nele relatava todo meu dia, a saudade da minha mãe e a raiva que eu tinha da namorada do meu pai, foi minha primeira experiência com a escrita, organização de ideias e sentimentos.

Aos doze, escrevi na porta da cozinha da minha avó “eu sou infeliz”, ela que já estava de olho em mim perguntou a razão de eu ter escrito aquilo, pega de surpresa, eu disse que escrevi por brincadeira, então ela disse algo que mudaria para sempre minha relação com as palavras:

se você escreveu, então é verdade”.

No início da adolescência comecei escrever poesias, não lembro muito bem do conteúdo delas, mas sei que era minha forma de escape de quem eu era e do que estava vivendo. Veio o ensino médio, a faculdade e toda a afobação de crescer, a internet e tantas outras distrações, perdi o hábito e nunca mais escrevi.

Ano passado, eu vi um vídeo da Jout Jout que ela implora -praticamente - para termos um diário e mostra como justificativa o que ela escreveu durante um tempo -sugiro que assistam -foi transformador, um aviso pra mim, como se nesse tempo todo eu estive perdida e finalmente alguém me resgatou.

Depois desse estalo, em novembro do ano passado eu recomecei meu diário, esse exercício vem mantendo minha sanidade, o fluxo de pensamentos é grande demais para eu deixar apenas na cabeça. Quando começo a escrever é como se tivesse uma tensão de palavras prestes a explodir, é necessidade vital colocar tudo para fora, é como se quando eu colocasse no papel consequentemente isso me libertasse.

Carrego no meu coração uma frase do Ernest Hemingway, como tantas outras sobre o ato de escrever, mas essa me toca sensivelmente: write hard and clear about what hurts. A cada novo texto, por qualquer que seja a motivação e que exija extrair algo de mim, repasso essa frase constantemente, me concentro e faço nascer. Não existe outra que me condicione a escrever o que preciso senão essa.

De várias maneiras e por muito tempo a escrita tem salvo a minha vida, dela posso conquistar muito mais do que imagino, fujo e entendo a realidade, traz memórias e reconstrói minha história; penso que a arte faz isso com a gente, faz mergulhar em nós mesmos, ela transcende, mesmo que o resultado só faça reviver antigas dores, no entanto, vejo que essa conversa consigo mesmo em expressão, também é uma forma de cura.

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