Mulheres na política: Uma sobe e puxa a outra.
Em 1932, conquistamos o direito ao voto. Hoje, lutamos para sermos votadas!
O Brasil é hoje o 152º país em um ranking mundial de participação feminina na política e o último colocado na América Latina, então para começarmos a falar sobre o cenário político que vivenciamos hoje, se faz necessário o conhecimento de algumas datas e marcos históricos sobre o espaço da mulher dentro da política.
É necessário saber que apenas em 1928, no estado do Rio Grande do Norte é que foi “autorizado” o voto das mulheres, o que até então não era permitido no Brasil, e só em fevereiro de 1932 é que o voto feminino foi assegurado no país, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto.
Metade do Brasil é mulher, porém essa metade tem menores salários do que homens, essa metade tem a vida enraizada na luta diária e constante por direitos que nos são negados a todo momento.
De lá pra cá não se mudou muita coisa na representação política das mulheres, os dados nos ajudam a revelar o quão desigual ainda é o espaço político, apesar da resistência, os números nos esmagam, para se ter uma ideia disso, somos 52% do eleitorado, porém, só temos 10% de representação nas câmaras legislativas e assembleias.
Se você acha que o 7x1 da copa de 2014, da Alemanha contra o Brasil foi o ápice da vergonha brasileira, eu te trago outro dado para suprir esse vexame, porque no nosso país há 7 vereadores HOMENS para cada vereadora!
Outro dado impactante é quando fazemos uma análise sobre o recorte de mulheres negras na política, onde temos o dado de que nas últimas eleições tivemos 57,8 mil vereadores eleitos e apenas 0,6% são mulheres negras.
“A alma feminina se tem deixado estagnar, por milhares de anos, numa inércia criminosa. Enclausuradas por preconceitos odiosos, destinadas a uma ignorância ímpar, resignando-se santamente, candidamente, ao deus Destino e a sua congênere Fatalidade, a Mulher tem sido, de verdade, a mais sacrificada metade do gênero humano.” — BARROS, Antonieta de.
Com esse relato de Antonieta de Barros a primeira mulher negra eleita deputada estadual no Brasil — através das páginas do República de 13 de maio de 1932 — podemos notar o quão desigual se torna qualquer espaço, e principalmente o político, para ingresso das mulheres. Os anos se passaram, porém a desigualdade ainda é existe de forma latente nesses espaços, como aconteceu com Marielle Franco, em sua última fala no plenário da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, onde ela deixa explicito em seu discurso, a desigualdade e o machismo que ainda são pertinentes dentro desses espaços. Seis dias depois, a vereadora foi assassinada no centro da cidade. Ela estava voltando de um evento de empoderamento de mulheres negras quando o carro em que estava foi perseguido e cercado por outro veículo. Tiros foram disparados contra a cabeça de Marielle. Ela morreu no local, assim como o motorista Anderson Gomes.
Percebendo esse cenário não é surpresa o momento de ameaça aos nossos direitos e retrocesso de conquistas históricas do movimento feminista.
É necessário e urgente pensar sobre esses números e modificá-los, chegou o momento de tomarmos nosso lugar de fala, de poder.
Como afirma Débora Diniz, antropóloga e ativista pela igualdade de gênero, quando ressalta em sua fala, a importância da representatividade feminina na politica:
“ Quando temos ausência de um grupo tão importante como o das mulheres, temas fundamentais são ignorados, como a urgência de creche. Ou o transporte público para mulheres trabalhadoras à noite. Garantia de políticas públicas para o principal emprego de mulheres no Brasil, que é o emprego doméstico. Desde questões relacionadas à infância no cuidado de crianças, como creches, até transporte, saúde ou trabalho, não temos uma discussão sobre a precarização do trabalho.” DINIZ, Débora. (2018)
2018 é o ano de eleições, o ano que não podemos mais deixar que apenas homens brancos, que representam uma absoluta minoria de privilegiados, continuem decidindo sobre nossas vidas e sobre os nossos corpos.
Por outra perspectiva devemos tomar cuidado em conhecer de fato a candidata e seu partido, pois, recentemente a presidente do Partido da Mulher Brasileira (PMB), Suêd Haidar, afirmou que geralmente há um homem por trás dos mandatos das mulheres, pode ser o marido ou padrinho politico e que já teria ouvido discursos do tipo:
“esse partido tem minha cara, se a senhora convencer meu marido, eu vou para o PMB!”
É necessário ter consciência sobre o quê as candidatas representam, é preciso conhecer a trajetória de cada uma delas, para que assim possamos votar em uma mulher que represente nossos ideais nos espaços públicos.
Se faz urgente e necessário elegermos mais mulheres que tenham em seu projeto de governo pautas feministas, e que impeçam esses retrocessos que vivenciamos hoje, garantir a entrada de mulheres no espaço político, é garantir também a seguridade dos nossos direitos.
Referências
BRUNO, Maria Martha. Partido com maior proporção de mulheres candidatas, PMB ainda não reconhece protagonismo feminino. Gênero e Número, 2018. Disponível em <http://www.generonumero.media/partido-com-maior-proporcao-de-mulheres-candidatas-pmb-ainda-nao-reconhece-protagonismo-feminino/>. Acesso em: 01 de set. de 2018.
ESPÍNDOLA, Elizabete Maria. ANTONIETA DE BARROS: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E GÊNERO PELAS PÁGINAS DOS JORNAIS REPÚBLICA E O ESTADO EM FLORIANÓPOLIS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX. Disponível em <http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos.6/elizabeteespindola.pdf> Acesso em: 01 de set. de 2018.
HIRABAHASI, Gabriel. Nem mulheres votam em mulheres por causa de uma expectativa masculina, afirma antropóloga. Época, 2018. Disponível em <https://epoca.globo.com/nem-mulheres-votam-em-mulheres-por-causa-de-uma-expectativa-masculina-afirma-antropologa-22991167>. Acesso em:01 de set. de 2018.
OTTO, Isabella. Um mês sem Marielle Franco: as sementes da ‘Cria da Maré’ já dão frutos. Geledés — Instituto da Mulher Negra, 2018. Disponível em <https://www.geledes.org.br/um-mes-sem-marielle-franco-as-sementes-da-cria-da-mare-ja-dao-frutos/>. Acesso em: 03 de set. de 2018.