Não dá para confiar no óbvio.

Celulares à prova d’água, contas no drive, regras ortográficas e intuições.

Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva
3 min readJul 7, 2020

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Photo by Bannon Morrissy on Unsplash

Coloquei alguns exemplos de coisas óbvias em que eu não confio e que muitas vezes são motivo de piada para quem convive comigo. Mas não tô nem aí e resolvi escrever para reflexão.

Quando decidi trocar de celular pela última vez, meu pré-requisito para a compra foi: tem que ser à prova d’água. Só eu sei quantos celulares já admirei por horas e horas dentro de um saco de arroz para salvar de um banho não intencional.

A questão é: ninguém diz que o modelo tal é à prova d’água. Todos são apresentados como “resistentes”. Ok, mergulhe seu samsung até a escuridão 500m para o fundo do mar, tire selfies aquáticas iradas porque ele é resistente até essa profundidade. Resistente eu sou pra muita coisa e isso não é garantia de nada, mas ok vida que segue.

Feito, comprei um modelo resistente à água. Em uma corrida no parque, peguei uma baita tempestade. A primeira coisa que fiz quando vi as nuvens pretas se aproximando e senti o primeiro pingo de chuva, foi embalar meu novo celular em mil sacolas plásticas, na minha jaqueta, e guardar bem no fundinho da mochila. Quem estava comigo tinha acompanhado a saga na busca pelo celular resistente, tinha um modelo igual ao meu e riu muito da minha falta de confiança na tecnologia. O que importa é que meu celular saiu sequinho dessa.

“Por que fez tanta questão de comprar um celular resistente à água se não vai confiar então, Vitória?”

Eu, metódica que sou, vivo na base das precauções.

Até que um dia bem frio, acordei e ao desligar o despertador do celular, que passou a noite na cômoda ao lado da cama, vi a notificação “Detectada umidade na entrada do seu aparelho” e um aviso para não conectar ao carregador. A umidade do ar em um dia frio, só isso. Com essa informação, você adivinha qual foi o único motivo de recorrer à assistência técnica?

Eu falei que confiar em ser ‘resistente’ não é garantia de nada.

Bom, o mesmo serve para as contas no Google Drive. Eu tenho 7 diferentes para aproveitar os 15GB gratuitos de cada uma delas, e aí você pensa: “Por que só não pagar um valor a mais para ter mais memória em uma só?”. Nenhum FAQ responde o que o drive faz com os arquivos de quem decide que não quer mais pagar pelo serviço, e eu é que não vou pagar pra ver. Todo mundo ri quando eu digo que não confio no Google também. Me resta comprar um HD.

Agora, as regras ortográficas! Eu, como redatora, posso ser considerada uma bela farsa por alguns. Sempre amei as aulas de português, mas convenhamos: decorar e entender regras não faz de ninguém um escritor com domínio da língua. Toda regra tem sempre a sua exceção. Seja no português, no inglês, na vida, nas especificações dos celulares, nas letras miúdas de termos do Google Drive, eu prefiro nunca confiar cegamente no que dizem ser óbvio.

E sobre as intuições… essas estão longe de ser consideradas óbvias no mundo real, não é mesmo? Mas elas costumam ter muito sentido para a mente de quem as têm, então, só pela precaução: melhor não confiar muito. Eu já virei mais resistente às minhas intuições.

Mas é como eu disse: resistência não é garantia de nada.

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Vitória Castilho Cohene
Revista Subjetiva

Tinha tantas certezas, mas agora só tem a de que escrever alivia.