Não, eu não quero ter filhos.

Isapatônica
Revista Subjetiva
Published in
4 min readMay 16, 2017

No meio feminista, costumamos discutir muito uma questão que recebe o nome de Maternidade Compulsória. Resumindo, é a ideia de que todas as mulheres que nascem no mundo devem ser mães, querer e ter filhos, eventualmente. O termo compulsório é utilizado por conta de ser um padrão em que milhares de mulheres acabam seguindo sem nem pensar se realmente querem ser mães.

A cena abaixo é da série House of Cards, em que Claire Underwood (à direita) responde a pergunta que muitas mulheres já escutaram e/ou ainda vão escutar: “Você se arrepende de não ter tido filhos?”, Claire rebate lindamente com: “Você se arrepende de ter tido?”.

Dentre as muitas, MUITAS, razões para eu não querer ter filhos, a principal é o machismo. Nesse momento, você deve estar achando que sou ridícula ou exagerada, mas chega mais que vou te explicar. A educação dos filhos, as idas ao médico, a troca de fraldas, conferir o dever de casa, levar e buscar da casa de amigo e de festas, os erros que você vai cometer caso você tenha filhos, afinal, você é um ser humano e não um ser mágico que nasceu com o dom da maternidade, tudo cai no colo da mãe.

Eu não gosto de criança, não tenho paciência, a ideia de educar um ser humano me dá repulsa e preguiça. Pensar no que ele deve comer, se tirou nota boa, se faltou a escola, se vai fazer faculdade, além de um milhão de detalhes como apresentação de dança na escola ou qualquer coisa assim, isso tudo não me atrai, essa coisa do instinto materno não existe em mim.

Nós, mulheres, a partir do momento que temos filhos, somos obrigadas a abnegar parte de nossas vidas, parte de nossa liberdade, porque isso é o que é esperado. Eu não quero isso pra mim, quero ser livre, quero poder viajar quando quiser, quero poder não ser julgada o tempo inteiro em relação a como educo ou deixo de educar uma criança. A maternidade para as mulheres se torna uma prisão, e isso é muito triste.

Os pais não sofrem a mesma pressão, o ideal de serem pais perfeitos, inclusive se fizerem o mínimo já são considerados "homão da porra". Existem mais de CINCO MILHÕES de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, vocês tem noção disso? Além dessas, mais de cinco milhões que não foram assumidas, ainda tem milhares cujos pais não fazem nada por elas, pagam uma pensão e olhe lá.

Não querer ser mãe é visto como uma afronta, como uma rebeldia, e a chance de te dizerem que você vai mudar de ideia porque o instinto materno vai bater em você (como se fosse uma força divina), e então finalmente cederá ao desejo de ter filhos — esse comercial de manteiga inteiro que passam para nós, cuja ideia se da na romantização da maternidade.

Não querer abdicar minha vida em prol de outro ser é visto como egoísta, enquanto se um homem disser a mesma coisa, ele simplesmente não é cobrado. Gente, homens não dividem nem tarefas domésticas básicas, que dirá a educação dos filhos. A mulher precisa se preocupar com carreira, casa e cria. A chance de contratação pra mulheres que possuem filhos é menor porque ela "se dedica menos ao emprego", enquanto o homem, que é pai, nem é perguntado sobre isso, já que se parte do pressuposto que ele não vai cuidar mesmo.

Nesse mês em que se celebra o dia das mães, que é puro marketing pra movimentar o mercado assim como qualquer data comemorativa, eu revindico o direito de não querer ser mãe e que as mulheres que são tenham a chance de serem livres enquanto seres humanos e não vistas apenas como progenitoras e incubadoras ambulantes. Eu posso mudar de ideia daqui 1o, 20 anos? Talvez, mas olha, isso só acontecerá quando os homens realmente se tornarem pais e não apenas fornecedores de espermatozoide.

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