Não há lugar como o lar
Estou sentado em minha poltrona de trabalho, diante de uma grande e pesada mesa de madeira escura. Neste tablado de trabalho, livros, jornais, papéis com anotações, canetas, rabiscos, um notebook e alguns objetos decorativos fazem primeiro plano pra visão do quarto que mostra em seu horizonte uma estante do chão ao teto coberta de mais livros.
A estante assiste calma, levemente empoeirada, o tapete aveludado que não dá brecha para o piso tomar seu sol de fim de tarde. O sol invade a janela que vem de paralela e travessa a mim, em sua frente, a silhueta de um par de confortáveis poltronas que se namoram fazem cenário pros meus dias de leitura e ciúmes à mesinha baixa de centro que coleciona manchas de xícaras de café e taças de vinhos, de tantos dias e tantas noites em que conversas se teceram sobre política, trabalho ou a cor nova da parede do banheiro.
A mesinha pisa no paciente tapete persa, amavelmente colocado para amaciar meus pés descalços e receber como um abraço o garoto que furta meus olhos, que empresta meus trejeitos apertando delicadamente o lápis colorido entre seus lábios enquanto decide qual cor o personagem de seu novo livreto terá: azul ou bordô, como as pantufas de seu pai.
As mesmas pantufas que calço enquanto ajeito meu óculos no meio do nariz, observando a hora. Coloco a caneca com uma faixa rasa de café com leite em cima de uma folha colorida de jornal. Limpo a boca com as costas da mão. Releio uma última frase, faço uma alteração aqui e ali. Paro a MPB que rolava solta no ar. Bato uma palma, despertando o menino de seu mundo de fantasias e o trago pro meu dizendo: o (outro) papai está chegando, precisamos preparar um jantinha gostosa. O que está afim de comer? (Espero que ele responda pizza, porque o número já está discado.)
Esse é meu sonho, respondi na entrevista, quando eu viver essa cena, saberei que fiz as escolhas certa na vida.
Ah! Então seu sonho é fazer home office, responderam.