OPINIÃO: Não será o anti-petismo que elegerá Bolsonaro

Será o próprio petismo…

Gilberto Miranda Junior
Revista Subjetiva
6 min readOct 6, 2018

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Fernando Haddad, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes | Montagem do autor a partir de imagens da internet.

O débito que muitos de nós sentimos com Lula e Dilma por terem sido os únicos que olharam com mais atenção aos pobres e explorados desse país não pode ser maior do que reconhecer a irresponsabilidade de dar chances ao fascismo se instaurar de vez no Brasil. A irresponsabilidade do PT em insistir no Haddad enquanto todos os prognósticos nos mostra a franca possibilidade de Bolsonaro vencer as eleições e ser o próximo presidente é absolutamente inconcebível para quem foi capaz de ajudar tanta gente.

Mas se olharmos a forma como tantas coisas boas foram feitas no governo petista, acabamos por compreender a atual postura desse partido e de seus correligionários. Em 12 anos de bem sucedido governo, o sucesso de seus programas se deu por fatores exógenos ao Estado Brasileiro que, por sua vez, encontraram uma vontade política de realizar coisas realmente importantes. Um pouco mais de visão teria dado ao PT não só a hegemonia que ele quer tomar a todo custo agora, como teria esmagado toda tentativa de golpe que sofremos. Um pouco mais de visão, o PT, ao invés de permitir os lucros exorbitantes dos bancos e ter favorecido o escandaloso oligopólio no setor financeiro, teria aproveitado a prosperidade do boom das commodities para promover a re-industrialização do país e sua imunidade às flutuações da especulação internacional. Um pouco mais de visão, ao invés de se afundar na lama do fisiologismo e se aliar ao pior da política nacional, teria, findo o primeiro mandato do Lula, denunciado ele próprio o que foi obrigado a fazer para conseguir maioria no congresso e aprovado as medidas que melhoraram a vida de todos nós à época.

Mas não. O PT sabia que nos sentiríamos em débito com ele. Sabia e agora nos chantageia com isso nos fazendo correr um sério risco a favor de sua vingança e vaidade.

Antes de me atacarem, permitam-se a um simples raciocínio após analisarem as figuras abaixo. Elas se referem à pesquisa Data Folha feita nos dias 3 e 4 de Outubro de 2.018 com 10.930 entrevistados presenciais em 389 municípios, ou seja, há três dias das eleições. Os prints resumidos abaixo foram feitos com base na reportagem do Portal G1:

Essa pesquisa foi encomendada pela Folha de São Paulo e Rede Globo e o que mais me chamou a atenção foi a ausência de simulação para o 2º Turno entre Ciro Gomes e Fernando Haddad, embora houvesse a simulação entre Alckimin e Haddad. Ou seja, fica claro a nós que, para essas instituições, é o Alckmin que deveria ir ao 2º Turno no lugar de Bolsonaro, caso fosse possível.

Somente na pesquisa anterior é que Ciro e Haddad são comparados em uma disputa no 2º Turno. Acredito que a diferença, se variou, não tenha sido expressiva e podemos usá-la para completar o cenário. Vejamos:

Pesquisa Datafolha do dia 02/10/18

Análise

O que vemos parece ser claro. Se Ciro Gomes for ao 2º Turno das eleições ele vence com folga tanto Bolsonaro quanto Haddad (e todos os outros), com uma diferença muito superior ao que venceria Alckimin contra ambos (e todos os outros). Alckimin empataria tecnicamente com Bolsonaro por 43% a 42% respectivamente. Contra Haddad, Alckimim venceria por 42% a 38%, portanto, por uma margem bem menor que os 46% a 32% que o Ciro venceria Haddad. A ausência de uma simulação entre Ciro e Haddad no 2º Turno da pesquisa mais recente do Data Folha é um indicativo político mais ou menos evidente e alinhado historicamente com as empresas que encomendaram a pesquisa.

A pergunta que se impõe é: por que, afinal, Ciro vencendo todos no 2º Turno, ainda amarga o 3º lugar no 1º Turno? A resposta é: PETISTAS. Os petistas, embora saibam (pelas pesquisas) do risco de Bolsonaro x Haddad no 2º Turno, insistem em manter o voto em Haddad por orientação de Lula. Essa obediência cega, mesmo em se tratando de quem, preso injustamente pelo processo do qual foi condenado, tenha tirado mais de 40 milhões de pessoas da pobreza no país, mostra uma imprudência estarrecedora. Sejam por quais motivos que o petista alega insistir em Haddad, dos mais nobres (justiça) aos menos nobre (vingança), nenhum desses motivos atinge os problemas centrais que rondam essa eleição: 1) o risco do autoritarismo e da falta de projeto para o país (fascismo mesmo) e 2) a governabilidade do país em um momento de crise econômica desalentadora, que exige reformas profundas, alianças programáticas e a defenestração do fisiologismo histórico que grassa a céu aberto no Congresso Nacional.

Majoritariamente são os petistas que dariam a vitória de Ciro nas simulações do 2º Turno, já que os 22% de Haddad migrariam para alguém. Se hoje Ciro tem seus 13%, ele só chegaria aos 46% dos quais o faria ganhar de Bolsonaro se conseguisse mais 33%. Se Marina tem 4%, Alckimin tem 9% e o restante tem, somados, mais 9%, supondo que todos esses votos migrassem para Ciro, ele precisaria de mais 15% para completar os 46% da simulação. Não há outro candidato que não seja o Haddad para que esses votos posam ir para Ciro Gomes. Se esses mesmos 15% que votariam, teoricamente, em Ciro fossem agora (e não tivessem sido sequestrados pelo desejo de vingança/justiça do PT), ele já estaria com 28% no 1º Turno e disputaria o 2º Turno com Bolsonaro.

Portanto, caros leitores, são os petistas e mais ninguém os responsáveis pelo destino desse país nesse pleito. São eles que decidirão se valerá a pena arriscar esse empate técnico com Bolsonaro no 2º Turno ou garantirão o impedimento do fascismo no Brasil já no domingo dia 07/10/18.

Há de se ponderar que, mesmo com muita fé, se por acaso o anti-petismo não se acirrar no 2º Turno e Bolsonaro der uma lavada, uma vitória de Haddad poderia trazer muitos problemas de governabilidade. Não nos esqueçamos de 2014. Dilma se recusou a apoiar Eduardo Cunha contra o Conselho de Ética e teve um processo de Impeachment fraudulento que culminou no golpe e na sua destituição. Haddad não é Dilma, mas a diferença é meramente de experiência. Ele também há de se recusar a fazer concessões ao fisiologismo, mas terá cerca de 50% da população contra tudo o que propor, pressionando os congressistas e paralisando as reformas necessárias do país. Se, diferente de Dilma, ele ceder ao fisiologismo, o judiciário politizado estará à espera do menor deslize para processá-lo. Eis o cenário.

Por que com Ciro seria diferente? Ele não tem teto de vidro sabido. Haddad já possui processos em tramitação da época de prefeito prontos para inviabilizar sua credibilidade e pressionar o Congresso a cruzar os braços. Se ceder, cai, se for firme será sabotado. Não há saída. Ciro é o menos rejeitado e não está sob suspeita, além de ter um projeto com começo, meio e fim, que visa desenvolver o Brasil nos próximos 30 anos. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentará, já que se propõe a enfrentar o baronato financeiro, ainda assim terá força para sensibilizar a população (e não apenas militantes) para o que pode acontecer caso suas propostas sofram boicotes.

Eis nosso cenário atual. Eis nossas alternativas. Não será o anti-petismo que elegerá Bolsonaro. Serão os petistas, caso essa intransigência demonstrada nas pesquisas, perdure até dia 07/10.

Contamos com vocês, companheiros… Estamos todos em suas mãos…

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Gilberto Miranda Junior
Revista Subjetiva

Licenciado em Filosofia, estudou Ciências Econômicas e participa como pesquisador do CEFIL (Centro de Estudos em Filosofia), registrado no CNPQ e ligado à UFVJM