Negligência emocional

Por que a falta de afeto nos afeta tanto

Eliel Oliveira
Revista Subjetiva
3 min readJan 9, 2020

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Source || Good Therapy

Se você cresceu em um ambiente onde a falta de carinho ou a deficiência de contato físico eram constantes, você muito provavelmente desenvolveu problemas para se relacionar com outras pessoas na transição para a vida adulta. É comum muitas famílias passarem por situações de extrema disfunção devido a problemas pessoais, ou fatores internos que distanciam seus membros com o passar do tempo.

Isso traz uma série de consequências para o desenvolvimento de crianças que presenciam certos momentos de discussão, agressão, abusos e não encontram uma forma para lidar com esses traumas. Até porque muitos pais vêm de uma cultura onde é necessário usar a violência e o castigo a todo o custo para que os filhos possam ter “disciplina”. Outros, valem-se também da religião como uma forma de impor a eles uma certa regra ou modo de vida que às vezes não é tão bem recebido e acabam gerando mais e mais conflitos.

Aos poucos, a bagagem emocional vai se acumulando, e muito do que fica guardado uma hora ou outra encontra formas não tão saudáveis de vir à tona.
Inclusive na vida adulta, a visão de mundo do indivíduo é resultado em grande parte dos valores construídos e amadurecidos durante a infância. E focando especialmente na parte afetiva, se a convivência com a criança não for bem cultivada com expressões de carinho e amor, verbais e não-verbais, o adulto que ela se tornar pode encontrar dificuldades para lidar com as suas emoções.

Da parte dos homens isso é muito mais evidente devido ao machismo e à masculinidade tóxica, que sempre pregaram que “homem não chora”, ou que expressar qualquer tipo de tristeza é sinônimo de fraqueza ou frescura.
Isso de certa forma é até compreensível devido à falta de uma educação emocional voltada para os homens, desde os primórdios da humanidade. Por ser o grupo que lidava com atividades consideradas mais pesadas ou de risco, a força e a resistência sempre foram vistas como partes fundamentais da personalidade dos homens. E assim eles foram se tornando cada vez mais negligentes com as suas próprias emoções e a situação chegou a um nível extremo e insustentável.
O número de suicídios entre pessoas do sexo masculino hoje é 5 vezes maior do que do sexo feminino — o que é alarmante, e diz muito sobre nós enquanto sociedade.

Ainda há muito a se fazer quanto à questão dos espaços onde os homens estejam confortáveis para falarem sobre o que sentem. Não só eles, mas as mulheres também. Todos nós em um momento ou outro da vida passamos por algum tipo de negligência emocional, seja de alguém em relação a nós ou vice-versa. A terapia tem sido uma ferramenta de grande ajuda nesses casos.

Demonstração de amor é tão natural e necessário para estabelecermos uma relação saudável entre nós seres humanos, mas por diversos motivos o mundo vem distorcendo e invalidando cada vez mais algo de tamanha importância (principalmente com o advento do uso de corações virtuais, seja no Facebook, Instagram ou qualquer outra rede social). E o reflexo disso é a solidão generalizada que vemos ao nosso redor.

Mas estamos tendo a chance de consertar esses erros aos poucos. Pela primeira vez, temos diversas plataformas que nos permitem nos aproximar mais e dar voz uns aos outros, e assim nos conscientizamos sobre o que e onde realmente vale a pena investir o nosso tempo: na construção de uma sociedade mais afetiva, sem medo ou vergonha de amar e demonstrar sentimentos.

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