Nill, Regina e a família

Rafael Moreno
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJul 3, 2020
Direitos de Imagem: SoundFoodGANG

Quando terminei o álbum Regina pela primeira vez, notei que tinha algo a mais além das faixas. Nill já disse que não curte as coisas óbvias. Entregar algo literal não é para ele. Como todo bom mc, é necessário escutar uma, duas, três vezes. Sacar nos detalhes o que ele tá contando.

Bem, nosso otaku nos conta sobre família.

Nill, durante todo o Regina, conversa com a sua mãe. É uma ligação telefônica, mediada pelo sinal do wifi e intercalada pelas chamadas de áudio do seu whatsapp. Nesse momento a gente percebe o quão genial esse cara é.

Anotem isso, esse mano é fora do normal.

A história secreta de Regina

Regina tem uma história paralela contada pelo rapper de maneira bem sutil. Penso que, tal abertura, é um convite para o sofá da sala de estar, onde ele vai nos mostrar a primeira versão do álbum. Ali, em casa, com toda a família.

Nesse intervalo de tempo, Nill nos conta ou pouco de si, a começar pela capa do álbum, desenhado pela sua sobrinha Duda, personagem presente nessa história.

Um caminhão passou pela sua rua e arrancou os fios dos postes de energia. Resultado: assim que anoitece, não dá pra ver mais nada, segurança zero. Por conta dessa dor de cabeça, ele insiste em telefonemas para a CPFL Energia, mas sem nenhum resultado aparente.

Descobrimos que sua irmã chamaria um eletricista a parte, uma vez que, dias passados, parte da rua está com energia, enquanto a outra parte ainda continua no escuro.

Duda, sua sobrinha, além da maravilhosa capa, nos presenteia com os áudios mais fofos do álbum. Desde pedindo que o tio traga bolachas quando voltar para a casa, até dizendo que a “mamãe” está cantando algumas músicas junto com ela.

Ficamos receosos nas últimas faixas, já que ela teve convulsão e sua mãe conta que irá entrar mais tarde no trabalho pra ficar com a filha. E, claro, um “oi tio, estou com saudades” é de quebrar as pernas, não é mesmo?

Acompanhamos, também, recortes dos bastidores nas escolhas dos beats, naquele trampo que você sente a seriedade (pelo álbum criado) junto com a descontração dos parceiros da Sound Food Gang. E, mano, é tipo nóis, quando criança, fazendo aqueles trabalhos de escola nas folhas de almaço.

Direitos de Imagem: SoundFoodGANG/Nill

Regina e o carinho pela família

Tenho pra mim que Regina é um daqueles álbuns que, mesmo antes de terem sido criados, você olha e pensa “mano, vai ser foda. Nasceu pra ser grande”. E ele é tudo isso mesmo, na moral.

Agora, o “como” ele se tornou tudo isso, ou o que me fez chegar nessa conclusão, bem, pensei bastante. Sobre as letras, a construção, a ordem de cada música, em sua história paralela.

Talvez o que fez com que Regina se tornasse tão único, é a sua sutileza.

Nill abre as portas da sua gravadora, da sua casa, compartilha a ideia trocada com a sua mãe, seus problemas no dia a dia, tudo de uma maneira sutil.

Dessa sutileza que é percebida quando nos vemos compartilhando desses mesmos desafios diários. Nill conversa com a gente de uma maneira tão fluida, tão natural, que a gente se pega imaginando se ele não seria o nosso vizinho.

Regina nasceu para ser grande, e é.

Parte dessa grandeza está em ser tudo aquilo que precisamos e o que nos define: família.

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