[No happily everly after]

marina
Revista Subjetiva
Published in
4 min readAug 15, 2017

Eu conheço uma menina que conheceu um menino num desses acasos da vida. Eles se entenderam de uma maneira só deles e compartilharam de tudo um com o outro, mas, principalmente, histórias.

Ah, as histórias…

Ela adorava escrevê-las. Imaginá-las. Inventá-las. Ele, por sua vez, adorava lê-las e comentá-las. Ele também gostava de tocar. E ela, de ouví-lo. Ela amava ler. Ele possuía uma biblioteca em casa (e na cabeça). Ele queria saber desenhar. Desenhá-lo era o que ela mais gostava de fazer. Ela amava gatos. Ele tinha um chamado Tadeu. Ele fumava. Ela achava sexy quem tinha um cigarro entre os dedos. Ela amava cabelos grandes. Bem, o dele era maior que o dela.

Os dois se completavam de uma forma única. Não demorou muito para que percebessem que se amavam. E menos ainda, para que o admitissem um ao outro. Quando deram por si, já estavam fazendo planos e trocando juras de amor nas madrugadas de conversas a fio. Tinham urgência um do outro, mas dolorosas 2000 milhas os separavam. Entretanto, a distância não era um obstáculo. Era motivação. Estavam dispostos a esperar o tempo que fosse necessário para que ficassem juntos. O calendário marcava alguns meses e a data de compra das passagens não parecia mais tão distante.

Era um amor genuíno, o deles. Um amor inexplicável, que crescia a cada dia e se fortalecia também. Ele cuidava dela como se fosse seu bem mais precioso, e talvez fosse. Ela só queria fazê-lo sorrir. Amava aquele sorriso como nunca amou nada no mundo, e vê-lo era como um alívio para sua alma pesada. Sofria de depressão e morria de medo de machucá-lo por ter um “psicológico derrotado”, como dizia. Ele não se incomodava, dizia que queria ajudá-la e de fato o fazia. Ela não sabia lidar com aquele ser humano tão excepcional. Ninguém nunca fizera algo parecido por ela antes. Ele a admirava cada vez mais por isso. Por ser ela mesma. Mesmo com todos os seus problemas, mas continuar sendo ela mesma.

Com efeito, os demônios interiores dela que ele tinha acalmado, começaram a se agitar novamente. Acabaram suscitando em paranoias e ela começou a achar que não merecia aquele indivíduo tão extraordinário a seus olhos. Que ele merecia coisa melhor do que alguém “tão remendada como ela”. Já ele, negava sempre essas condições as quais ela empunha sob si mesma. Tentava fazê-la amar-se como ele a amava. Quisera, por muitas vezes, que ela a visse por seus olhos. No entanto, não adiantou.

E foi assim, que numa fria noite de agosto, o amor mais arrebatador e intenso que ela já experimentara, findou-se.

Foi num momento de crise, que ela contaminou todas as certezas que ele já tivera sobre seus sentimentos. Dizia, entre lágrimas, que o amava tanto que o estava deixando partir pois não queria prendê-lo, que o deixaria livre para viver uma vida que ela não poderia lhe dar no momento. Ele relutou, contestou seus argumentos, é fato. Mas, como tudo na vida, ele também desgastou. Passou a concordar com ela. De imediato ela se arrependeu do que falara. Passou a não crer numa palavra que dizia. Mas era tarde. Ele se foi e levou consigo tudo de bom que ela já sentira.

E a culpa era única e exclusivamente dela.

Hoje, ela se lamenta por nunca ter conhecido o gosto dos beijos dele, nem a sonoridade daquele sorriso que a fazia tão feliz, nem seu cheiro de tabaco com perfume ou o toque daquelas mãos calejadas do violão sob sua pele.

Às vezes ela se pega pensando se realmente foi de todo ruim essa separação. Talvez fosse um romance utópico no momento. Talvez tivesse se antecipado. Ou não. Talvez precisassem ter vivido essa experiência toda para que de alguma forma amadurecessem. Mas mesmo assim, aquele “adeus” na sua tela do celular foi uma das piores dores que ela já sentira. Uma dor pungente que até hoje lhe causa pontadas no peito. Uma ferida que nunca irá cicatrizar por completo e que vez ou outra sangra, ao som de uma música, de um filme, de uma foto.

E eu, como mera expectadora dessa história, espero que um dia, eles se reencontrem ao acaso, como se encontram na primeira vez e possam viver esse amor plenamente. Mas essa é uma expectativa minha. Nem todos temos a sorte de um felizes para sempre. Essa talvez seja uma história sem um happy ending. Cabe a mim e à menina saber lidar com isso.

Gostou desse texto? Clique no ❤ e deixe seu comentário!

Redes sociais: Facebook| Twitter |Instagram.

Ouça o nosso podcast oficial com seus autores favoritos do Medium!

Entre no nosso grupo fechado para autores e leitores.

--

--