O cheiro do (meu) sangue nas suas mãos
ou “Aqueles prestes a morrer o saúdam”
Já posso ver o pai matando o filho
A mãe entregando a filha para Os Campos
Denúncias, delações, buscas, apreensões, execuções
Porões
Homens de verde atirando antes de perguntar
Em mulheres e homens periféricos
Pretos
Crianças e velhos
Pretos
Homossexuais também, ateus, trans, umbandistas
Qualquer um que pense com a própria cabeça
Qualquer um que diga algo além de Sim & Amém
Os corpos despejados por caçambas em valas
Toques de recolher
Perseguição
Genocídio
Eleitos x Impuros
A mão esquerda de Deus se movendo, armada
O blackout total da mídia
Amenidades no jornal, comemorando o salto de (sub)empregos
Os cartazes de Desaparecido voando ao vento
Os novos heróis nacionais sendo criados
Livros de história sendo queimandos
E uma nova história sendo escrita
Com sangue
O meu sangue, da minha gente
Está vindo
Direto pra nós, direto pra mim
A guerra tá vindo e eu tô do meu lado
Mas o meu lado vai ser conhecido como o lado errado
Eles não me conhecem, mas já têm uma ideia muito clara sobre mim
Eu sou um desajustado porque fui criado sem pai, por mãe e vó numa periferia
Eu sou um malandro porque sou negro, eles disseram
Haverá muitos pesos e muitas medidas
E a medida para um desajustado malandro como eu será
Uma medida de chumbo
Seguida de uma medida de terra
“Aqueles prestes a morrer o saúdam”
Eu os saúdo
O meu sangue vai estar nas suas mãos?
Tomara que o cheiro não saia nunca!
Pra vocês lembrarem sempre daquele
Dia 7 de outubro