O conto dos reencontros

Parte I

Fernanda Mendes
Revista Subjetiva
4 min readDec 12, 2019

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foto via: João Doederlein /@akapoeta

Já foram tantos, mesmo na convivência da rotina todo dia era um reencontro contigo, comigo, com a gente. Eu só não sabia disso, creio que a maioria de nós não sabe, portanto age como se fosse só mais um encontro, ao invés de se deixar sentir como nas primeiras vezes.

Cada segundo mudamos, primeiro eu nem queria te beijar, só queria aquele teu abraço sincero. Só queria sentir teu coração batendo, o som das borboletas dentro do seu abdomen, e a saliva seca engolindo o nervosismo. Teus olhos olharam pros meus, a principio eu não quis olhar, senti-me tímida por ser olhada por ti outra vez. Estava diferente, me sentia diferente e sabia que o sentiria também.

Entramos no restaurante sem estar com fome, eu sei, também nao sinto fome quando estou nervosa. Parece que me alimento de ansiedade. A novidade foi dividir uma kombucha, tomei a decisão de pedi-la e perguntar se toparia dividir, eu, que nunca tomei muitas decisões contigo. Tomamos enquanto falávamos, falamos muito, quase como se não conversássemos há anos. Te redescobri inteiro. Seu olhar maduro, sorriso ainda pela metade, como quem não quisesse deixar a cara boba de amor brotar. Eu não sei se escondi bem, sei que enquanto caminhava ao teu encontro varios sorrisos bobos brotaram na minha face. Lembranças e paixão.

Pra você ter ideia, teus olhos me penetraram tanto que nem me lembro a camisa que usava, não tomei nota disso, só dos teus olhos, do teu riso e do teu cabelo. Ah, invandi-te um pouco quando fiz um carinho quase sem pensar. Teu cabelo clama que minhas mãos deslizem por ele e me faz lembrar de nossas viagens de carro e carinho no cabelo, também dos beijos embaraçando teus caracóis. Sentados frente a frente, como dizemos que faríamos (e de todas as tuas vindas acho que nunca cumprimos esse desafio), falamos por horas. Ate me dar conta de que estava com fome. Comi e nem me lembro do gosto da comida, lembro de estar apimentado, ou era meu corpo já desejando o teu. Não precisei de toques, de palavras obscenas nem de beijos no canto da boca e eu já te queria inteiro. Ao mesmo tempo que conversávamos sem me dar conta disso.

Te entreguei uns presentes que senti que gostaria de te dar, não era nada demais, mas eu não sou boa com presentes e dessa vez senti-me bem e de que fiz uma boa escolha. Caminhamos para buscar um café, ou era uma desculpa pra ficarmos mais tempo juntos, eu nem sabia se queria café. Mas com certeza queria ficar mais tempo junto. O café estava ótimo, obrigada. O chocolate– que a nossa boca devia estar com o mesmo gosto, pensei. Ouvi tuas historias, teus aprendizados, a historia do beijo na boca no fim da noite, e do relacionamento abusivo da sua ex namorada. É lindo, eu disse, o teu processo. Te vi há um tempo nele, e como você disse talvez estava inconsciente, mas eu já enxergava. Talvez foi o que me impulsionou a ir buscar o meu processo, que é lindo também, mas agora está passando por varios momentos de beleza e feiura. Está sendo incrível.

Caminhamos um pouquinho pra vc pegar seu taxi, tinha que deixar a bateria no Yuri, senão eu cancelaria todo o resto do meu dia se me convidasse pra “tomar outro café” na sua casa. Um abraço perdido numa rua que já estivemos dias antes da minha partida. Beijei sua bochecha, seu ombro, não quis beijar a boca. Nos afastamos. Te olhei nos olhos e quis beijar sua boca, você me abraçou de novo numa tentativa falha de evitar me dar um beijo, mas deu aquele beijo escapado perto da boca e eu retribui.

Ainda me pergunto porque não puxei teu braço de volta e beijei-te com toda vontade que passou naquele momento. Foi foda, fui querendo-te ao longo desse meio dia, sem precisar de nada. O gatilho final poderia ter sido matado com um beijo longo, mas o uber ja te esperava. Beijei tua mão querendo beijar teu corpo todo, fazer massagens, carinhos, sentir cada canto da sua pele. Enquanto caminhávamos algumas vezes senti teu braço tocar no meu e aquele choque que só a nossa pele tem me despertou. É um choque que pode dizer que nos afastemos, ou que juntos fazemos um fogo absurdo. Gosto mais da segunda opção.

Fui pra casa sem teu gosto na minha boca, mas com gosto de querer você. Muito. Mesmo que breve, mesmo que só por hoje. De beijar, lamber, morder, apertar e deixar nossas almas transcenderem. É foda, eu sei. Não tive muitas expectativas pra esse encontro. Mas depois das sensações de hoje, eu só quero-te muito. Muito.

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Fernanda Mendes
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Uma mistura de filmes com poesia com reflexões sobre a vida.