o desejo à vida

Arya
Revista Subjetiva
Published in
1 min readAug 14, 2020

há que se fazer um acordo com o desejo
desejar como a água a sua chegada à areia
simplesmente por ser água e existir,
há que se fazer uma prece ao desejo
desejar como as raízes o entendimento pela terra
e pelo silêncio que pesa,
há que se ver e se admitir o desejo
circundando a dor do desejo não visto,
para que os desejos não admitidos não nos torne hipócritas
e nos levem por descaminhos repentinos,
há que se sentir os desejos ancestrais que viram a morte antes de nascer,
há que se desejar sem a culpa carregada pelas
mulheres por tantas terras e tempos tão vastos,
há que se desejar profundo, e educar o desejo
não pela moral santificada,
mas pelo o que de mais humano há no desejo:
desejar o pranto, quando há dor,
desejar o riso, quando há uma porta aberta à frente dos passos,
desejar o nascimento, quando se pede ou quando se deve,
desejar estar perto, quando se ama,
desejar pela vida,
simplesmente por ser gente e existir.

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