O dever da liberdade de imprensa para com o interesse público

Pedro Vinicius Paliares de Freitas
Revista Subjetiva
3 min readJul 3, 2019

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Se você não esteve totalmente alheio ao mundo durante as duas últimas semanas, com certeza ficou sabendo,ou, pelo menos, ouviu falar da primeira reportagem do The Intercept sobre o vazamento das conversas do Ministro Sérgio Moro com o procurador da República Deltan Dallagnol. Após essa primeira reportagem, é impossível não falar ou ouvir sobre isso, a cobertura da grande mídia e da internet sobre o caso está sendo intensa. Além disso, diariamente surgem novas notícias e vazamentos do caso.

Um dos responsáveis pela publicação desse conteúdo e pela reportagem do The Intercept é Glenn Greenwald, um jornalista norte-americano, com formação em Filosofia pela Universidade George Washington e doutor em Direito pela Universidade de Nova York, Glenn foi um dos jornalistas que, em parceria com Edward Snowden, relatou ao público a existência dos programas de vigilância global da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos

“A meta a longo prazo, é produzir um jornalismo corajoso, confrontando uma ampla gama de tópicos como corrupção, política financeira ou violação de liberdades civis.”

A reportagem de Glenn sobre o programa de espionagem da NSA ganhou o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014, e seu trabalho sobre a história de Snowden foi apresentado no documentário Citizenfour, que ganhou o Oscar de Melhor Documentário em 2014.

Em entrevista concedida à TVT, nessa terça-feira (18/06), ao ser confrontado com a polêmica e a importância de suas reportagens, Glenn disse : “O que estamos fazendo, independentemente da opinião sobre o Sergio Moro, Deltan Dallagnol ou sobre o The Intecept, é jornalismo. É mostrar o que as pessoas mais poderosas no país estavam fazendo nas sombras e essa transparência é fundamental para qualquer democracia. E é isso que está em jogo com as ameaças que estamos recebendo”

E é aqui que entramos no ponto mais importante desse texto : o dever da liberdade de imprensa para com os interesses públicos e a democracia. Ao publicar esse conteúdo e falar abertamente sobre isso, Glenn está marcando seu nome na história do Brasil, pois não coloca em risco só a sua integridade física, mas de todos que ama e convive, para cumprir seu dever como jornalista e escritor. Dever esse, (vale a pena mencionar) que não está sendo cumprido pela grande mídia brasileira.

Inúmeros fatores tangem esse problema, o monopólio da mídia no Brasil, assim como seus interesses políticos e econômicos, na minha opinião, é o maior deles. Não é do interesse das poucas famílias que detém o monopólio midiático que o jornalismo seja corajoso e libertador, que seja realmente investigativo, e que cumpra seu dever com os interesses públicos e a manutenção de uma democracia saudável e transparente, muito pelo contrário, esses interesses estão a serviço da elite política e do próprio monopólio midiático.

Isso pode ser observado a partir da análise da cobertura da mídia tradicional em relação aos vazamentos do The Intercept, que vai totalmente na contramão do seu próprio histórico de reportagens (ou propaganda) que eram feitas em relação à Lava-Jato. Outra situação interessante que podemos observar, é a gritante diferença entre as notícias da mídia internacional e da mídia brasileira sobre os vazamentos.

Apesar dos problemas, creio que isso não seja nenhuma novidade. É animador observar esses novos movimentos de Glenn Greenwald e do The Intercept. Sua forma corajosa de fazer jornalismo, de colocar o interesse público acima de qualquer viés ideológico ou político nos inspira muito nesse momento caótico da política brasileira. E mesmo que seja clichê, gostaria de citar William Randolph Hearst, empresário americano do ramo jornalístico, que foi inspiração para o personagem protagonista do filme “Cidadão Kane”, que disse :

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”

Talvez Jornalismo realmente seja isso, talvez seja a ousadia de colocar os interesses públicos acima de qualquer interesse individual ou político. Mas, acima de tudo, representa a coragem de expor a verdade, é o dever de trabalhar com a verdade e apenas com ela.

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Pedro Vinicius Paliares de Freitas
Revista Subjetiva

Estudante de Ciências Sociais na Unicamp. Leitor de Filosofia, Sociologia, História e Romances. Interessado em política.