O dia em que seremos realmente felizes, segundo Aristóteles.

Verônica Machado
Revista Subjetiva
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4 min readMar 6, 2017

Procuro resolver questões internas como "De onde eu vim" e "para onde vou" desde os meus 11 anos. Pensava que os adultos tinham essa resposta. São tão donos de si, por que não? Acompanhava minha mãe nos bares e conversava com as pessoas da mesa, como se fosse gente grande, para tentar entender.

Li Shakespeare, poemas de Camões e auto-ajuda. Nada.

Ouvi Zé Ramalho e prestava atenção em todas aquelas letras estranhas. Nada.

Bradei por um psicólogo. Eles devem saber, com certeza. Nada.

Perguntei aos meus avós. "Que besteira é essa, menina?" Nada.

Cresci e, com o tempo, a gente se ocupa com trabalho, problema, sobrevivência. Adormece aquele vazio no peito. Dia desses, fiquei jururu. Não sabia aonde tinha guardado aquela garota insaciável por respostas. Tinha algo errado nesse conformismo todo. Mas ressuscitei a pirralha.

Em nova reflexão, percebi que essa busca tem a ver com Felicidade — isso que a gente deseja desde sempre e para sempre. Ao me concentrar nisso, descobri que os filósofos clássicos poderiam me dar boas dicas. Como eu não tinha pensado naqueles barbudões antes? Há 2.400 anos, Aristóteles arrastava seu manto pelas calçadas gregas pensando sobre o que faz o ser humano feliz.

Platão à esquerda e Aristóteles à direita. Bonitões.

Enquanto o tutor Platão insistia em um modelo ideal para perseguir, Aristóteles pensava que o caminho estaria bem mais próximo de nós, no cotidiano. E estudou a natureza para entender o que nos satisfaz. Vai que, né?

Estudou os minerais e percebeu que o elemento-chave para ficarem bem é a resistência. Uma pedra, por exemplo, existe para ser resistente.

Estudou os vegetais. E viu que o eles precisam/procuram/"querem" é a inércia. A planta fica lá na dela, numa boa.

Estudou os animais. Com eles, seria a satisfação dos sentidos. Gatos e cachorros estarão bem com comida, água e um namoro de vez em quando.

Seria, então, esse o segredo da felicidade humana? Água, comida e sexo? Não. Queremos mais. E Aristóteles concluiu que o bem supremo do Homem é a tal felicidade. Putz. E agora?

Foca aqui no raciocínio.

Felicidade é a capacidade de dominar circunstâncias em uma união consigo, com o outro e com o que nos rodeia.

Ele propõe que Felicidade é ser pleno.

“o bem humano é o exercício ativo das faculdades da alma em conformidade com a virtude. (…) um dia ou um efêmero período de felicidade não torna alguém excelsamente feliz.”

Respira que vem mais.

Mas como alcançar essa plenitude?

A vida da alma significa o que nos anima. O que te excita hoje? O que te empolga? O que dá entusiasmo e faz seu olho brilhar? Então… alinha essa fonte de ânimo com uma virtude (disciplina, temperança, coragem, verdade, honra…)

Por exemplo: o que me dá borboletas na barriga é ouvir histórias das pessoas e aprender alguma coisa com o relato. Se eu pegar isso e somar à virtude da generosidade em compartilhar o que aprendo. (E, claro, perseverar nessa ação constantemente.) Aí… eu seria feliz, diz Aristóteles.

E não é que sou feliz pra caramba?! Mas posso ser mais. Por isso, eu me comprometo a compartilhar o máximo de aprendizado com histórias, por artigo, vídeo, redes sociais e conversas de bar. Pela primeira vez, sinto que meu vazio pode ser preenchido, de que caminho para ser plena. E essa é apenas uma pequena ação de muitas para chegar lá. Cada um tem uma mini tarefa para começar, como aquele projeto muito legal mofando na sua gaveta, sabe?! Qual é a sua?

Felicidade não tem a ver com alegria. Você pode passar por um momento muito difícil, perder alguém querido e, ainda assim, ser feliz.

Felicidade não tem a ver com bem-estar. Você pode não ter propriedades e, ainda assim, ser feliz. Um exemplo é Diógenes de Sinope, um sábio que morava em um barril.

Felicidade não tem a ver com satisfação dos sentidos. Tantas pessoas tiveram muito e cometeram suicídio. Outras estão em depressão.

Tem a ver com ser pleno, segundo Aristóteles, e caminhar para um modelo ideal acima de nossas cabeças, como dizia o velho Platão. Isso só depende de nós, não de fatores externos, instiga Marco Aurélio. Uma eterna construção que pode começar hoje, o dia em que podemos ser realmente felizes.

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Verônica Machado é jornalista e professora no Clube de Realizadores.

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