O exercício de estilo e de realidade dão o tom de “Bom Comportamento”

Andressa Faria de Almeida
Revista Subjetiva
Published in
3 min readOct 23, 2017

Esqueça o Robert Pattinson da Saga Crepúsculo! “Bom Comportamento” (“Good Time”, em inglês), filme dos irmãos Benny e Josh Safdie tem como protagonista Connie Nikkas, um personagem extremamente errático e que dá ao ator britânico a oportunidade de mostrar toda a sua capacidade dramática em um único longa, e é justamente isso que ele faz, surpreendendo até os seus haters mais engajados.

Tudo começa com Nikkas retirando o irmão Nick (Benny Safdie, que também é um dos diretores da trama e nos brinda aqui com uma atuação verdadeiramente impressionante e comovente) de uma sessão de terapia. O jovem apresenta características claras de autismo e precisa mesmo de tratamento. Não consegue socializar adequadamente, sua capacidade de fala é bem reduzida, ele não entende metáforas e também se torna bastante agressivo quando frustrado, mas Connie não aceita a sua condição e resolve provar de uma forma bastante controversa e impulsiva o quanto ele pode ser “normal”: colocando-o como co-participante de um assalto a banco, que têm pouquíssimas chances de sucesso!

Obviamente nada acontece como eles imaginavam e previsivelmente Nick acaba sendo preso. A partir desse momento, Connie se lança em uma jornada desesperada para conseguir libertar o irmão e a própria consciência, que carrega o peso de uma série de enganos que se tornam cada vez mais graves e catastróficos, ainda que ele tente conserta-los de alguma forma (e, com isso, quase sempre consiga piorar a situação em algum grau).

A obra é muito bem roteirizada por Ronald Bronstein e Josh Safdie (que também divide com o irmão a direção), e o tempo todo faz questão de nos mostrar espectros da realidade normalmente ignorados pela sétima arte, e nas raras vezes que são abordados passam por uma lavagem glamourizada e cheia de lições de moral. Aqui isso não acontece, e claramente não é a intenção! A vida dura dos imigrantes, a escolha da marginalidade como única saída para conquistar alguma dignidade e a deficiência cognitiva são alguns dos pontos escancarados no longa, apresentados de maneira crua e direta, deixando claro que a proposta não é nos distrair ou entreter totalmente, mas sim manter nossos pés bem fincados no chão!

Em “Bom Comportamento” os personagens apenas tentam sobreviver como podem, e normalmente não conseguem muito mais do que se arrastar para o próximo equívoco, para a próxima queda ou para a próxima partida, tudo isso acompanhado a uma paleta de cores fluorescentes alucinantes e a um encadeamento de sequências que nos mantém sob alerta do primeiro ao último minuto de exibição, fazendo o nosso coração bater no mesmo ritmo (ou até mais acelerado) que a música eletrônica que permeia todo o filme.

No fim, o sentido de tudo não vem, e talvez isso deixe alguns espectadores inquietos e um pouco frustrados, mas fica a reflexão de que nem sempre o que acontece nas nossas vidas tem alguma lógica, algum porquê ou algum propósito, e cabe a nós mesmos encontrarmos a essência no todo que se passou. “Bom Comportamento” joga com essa constatação de maneira muito original, sensível e honesta, o que faz do longa uma ótima pedida para você que quer sentir as suas emoções flutuarem, sem saber muito bem qual é o destino ou onde tudo vai acabar!

Gostou desse texto? Clique em quantos aplausos — eles vão de 1 à 50 — você acha que ele merece e deixe seu comentário!❤

Redes sociais: Facebook|Twitter|Instagram|YouTube

Saiba como publicar seus textos na Revista Subjetiva.

Leia textos exclusivos e antecipados assinando a nossa newsletter.

Já conferiu a nossa revista em versão digital? Está linda! Vem ver!❤

Entre no nosso grupo fechado para autores e leitores.

--

--