O feminismo é, de fato, para todo mundo? #LeiaComASubjetiva

bell hooks afirma que sim

Carol Correia
Revista Subjetiva
4 min readOct 18, 2019

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Foto retirada de Modices

Introdução — Leia Com a Subjetiva

A Revista Subjetiva lançou o desafio literário denominado #LeiaComASubjetiva a fim de incentivar a leitura de diferentes autores, formatos e temáticas. Em tal desafio, cada mês possui uma proposta diferente da qual os colaboradores da Subjetiva se dispõem a ler e resenhar um livro.

No mês de outubro, a proposta do desafio é a leitura de uma obra feminista. Logo, escolhi um livro que acredito ser introdutório para o feminismo — O Feminismo É Para Todo Mundo, por bell hooks.

O Feminismo É Para Todo Mundo: Políticas Arrebatadoras

O livro O Feminismo É Para Todo Mundo: Políticas Arrebatadoras escrito por bell hooks ganhou tradução pela Ana Luiza Libânio para a Editora Rosa dos Tempos em 2018.

De apenas 175 páginas, bell hooks disserta sobre o movimento feminista. Digo apenas 175 páginas, pois a linguagem é tão agradável que as páginas fluem rapidamente; assim como a maneira em que ela pontua problemas e possíveis soluções são estimulantes para buscar outras fontes e mudar sua perspectiva.

Com 19 capítulos, hooks inicia o livro conceituando o feminismo, perpassando por como o feminismo é visto hoje em dia e como foi o acender de feministas [o qual ela denomina de criação de consciência]. Logo após ela utiliza de slogans feministas para comentar sobre a união de mulheres, direitos reprodutivos, pressão estética e o conceito de beleza.

Também discute as problemáticas decorrentes da marginalização de mulheres racializadas, mulheres da classe trabalhadora, mulheres de sexualidades fora da heterossexualidade compulsória. Ou seja, ela faz o famoso “recorte”; mas não com o objetivo de trazer esses pontos como notas de rodapé, mas como questões centrais para o movimento feminista.

Ela também aborda as vezes em que o feminismo falhou em criar um viés feminista sobre espiritualidade, maternidade, paternidade, masculinidade, entre outros. E mais importante, como o feminismo falhou em falar sobre amor e um futuro possível.

bell hooks fala:

Se as mulheres e os homens querem conhecer o amor, temos que desejar o feminismo. Pois, sem o pensamento e a prática feministas, não temos o alicerce para criar vínculos amorosos.

A crença de que o amor é tão-somente uma armadilha para subjugar e subordinar mulheres a homens está deveras equivocado. De fato, o amor nos moldes patriarcais está associado a noção de posse e como o homem é o recebedor desse amor, enquanto a mulher é a que .

hooks pontua:

No começo, a crítica feminista do amor não era suficientemente complexa. Em vez de desafiar especificamente os pressupostos patriarcais equivocados de amor, ele apenas apresentou o amor como o problema. Teríamos que acabar com o amor e colocar em seu lugar uma preocupação em obter direitos e poder.

No entanto, ela afirma que o problema não era o amor. E sim a visão sobre como deveríamos amar.

“Não pode haver amor quando há dominação”.

hooks é uma grande defensora do clichê de que somente o amor pode construir; e ela não está errada. Somente através do poder transformador do amor é que poderemos mudar nossa realidade — para melhor. E escolher amar é escolher o feminismo.

Arte de MikeMedaglia

Feminismo é um movimento para acabar com o machismo, a exploração sexista e a opressão. Não é um sobre odiar homens. É sobre desejar o fim de comportamentos e crenças que estimulem, justifiquem e normalizem, de qualquer forma, o patriarcado.

Isso significa que homens e mulheres — ambos — precisam superar essa perpetuação da opressão e criar uma alternativa em que ambos os gêneros estejam em pé de igualdade.

Obviamente, homens possuem maior dificuldade de largar os benefícios que colhem de um mundo patriarcal, mesmo quando sentem limitações devido ao machismo. E temendo o que está por vir, muitas vezes, eles preferem defender o status quo.

O que se ignora é que através da libertação das mulheres da opressão, os homens também serão libertados da posição de opressor; e saindo dessa posição eles recuperam sua humanidade.

Feminismo é um movimento visionário a fim de criar um mundo melhor para todos os indivíduos, independentemente de seu gênero. O feminismo, de fato, é para todos.

bell hooks

bell hooks escreveu diversos livros e artigos científicos, participou de uma variedade de filmes, documentários e palestras. Ela com toda a certeza é uma ativista e teórica feminista incrível.

Pessoalmente, O Feminismo É Para Todo Mundo foi a primeira obra que conheci de sua autoria; e sua escrita didática e — me atrevo a dizer — acolhedora me levou não apenas a questionar temas que acreditei ter respostas, como procurar suas demais obras. E estou feliz com a notícia que outras obras dela ganharão versão em português em breve.

Leiam bell hooks

Considerações finais

O Feminismo É Para Todo Mundo: Políticas Arrebatadoras é um livro que recomendo para todo mundo, seja você alguém que detenha algum conhecimento sobre o tema, seja você um leigo, seja você idoso, jovem adulto ou adolescente. Feminismo é para todo mundo, assim como esse livro.

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Carol Correia
Revista Subjetiva

uma coleção de traduções e textos sobre feminismo, cultura do estupro e racismo (em maior parte). email: carolcorreia21@yahoo.com.br