O obituário dos amores vividos

Elder Malaquias
Revista Subjetiva
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2 min readMay 29, 2020
Photo by Jennifer Burk on Unsplash

O fim das histórias de amor não aparecem nas capas dos jornais, mas deveriam.

Anais Nin certa vez disse que “o amor nunca morre de morte natural.” Se isso já não é motivo de capa de jornal dominical, não sei mais o que seria.

Não penso que seria da forma que Drummond pensou com os desiludidos do amor desfechando tiros no próprio peito, mesmo concordando com o poeta que seria muita matéria para os jornais.

Não devem nossos bravos jornalistas ilustrarem ou repisarem a dor dos amantes naufragados — se é que existe dor —, afinal sensacionalismo não combina com notícia de tamanha seriedade. Devem noticiar tal óbito para contrastar com toda desgraça cotidiana que vemos nas manchetes matinais, vespertinas e noturnas.

A morte de uma história de amor deveria ser considerada tão importante como a morte real, já que as duas causam o mesmo efeito naqueles que amam o de cujus e derivam do mesmo fato: o fim.

Já imagino na manchete do jornal a chamada em caixa alta “Morreu hoje o amor de Maria e Manoel, deixam dez anos de casamento, uma casa de dois andares, dois carros, uma garrafa de uísque e um gosto estranho por música sertaneja universitária” e logo abaixo em um texto bem redigido com toda cafonice necessária estaria a história do casal desde o seu germinar ao seu triste fim. Tenho para mim que isso faria muitos leitores, românticos invertebrados suspirarem e tantos outros sanarem suas possíveis dúvidas e quem sabe pensar no que têm feito das suas vidas.

O obituário dos amores vividos merece letras grandes, visto que todo amor é grande de alguma forma. Ser marcante na vida do leitor como foi para aqueles que vivenciaram a história e até quem sabe na melhor das hipóteses inspirar outras pessoas a se amarem, uma vez conhecido os riscos e erros de outras pessoas, há quem possa tentar contorná-los.

Quem sabe em um caderno anexo, possa ainda ser retratado — longe do caderno de fofocas — os amores que morreram e ressuscitaram… não sei, mas penso que pode ser interessante.

O obituário dos amores vividos deve ser publicado distante do obituário dos amores não vividos para não causar qualquer confusão, sugiro colocar o caderno de política ou quem sabe de economia entre um e outro. Noticiar a separação dos anteriormente ditos inseparáveis vai salvar o jornal impresso. Prefiro que ao torcer o jornal na manhã de domingo saiam lágrimas por motivos românticos e não sangue causado pela crueldade humana. Prefiro o lírico ao homicida.

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Elder Malaquias
Revista Subjetiva

Escrevedor. Autor do Romance “Sob o Signo de Helena” disponível na Amazon| Instagram: @eldermalaquias