O podcast de futebol que ressignifica África com informação, resgate histórico e atualidades
O Ponta de Lança é um projeto que busca difundir informações sobre o continente africano para além dos estereótipos reproduzidos pela grande mídia. E, por que não, dar o pontapé inicial falando do futebol em África?
Por que futebol?
Segundo Rubens Guilherme, estudante de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria e um dos criadores do Ponta de Lança, “o futebol é uma das expressões da diáspora africana”.
Um reflexo da colonização foi a saída do povo africano de seu território, se vendo obrigado a reinventar e reivindicar sua cultura em outros países. Contar as histórias de jogadores africanos mundo à fora, bem como atletas brasileiros que foram à África, é uma forma de contar a história da cultura do continente.
Para Rubens, conhecer os alicerces da cultura de África é uma base para reforçar os laços entre africanos e descendentes de africanos em diáspora.
“Isso não se restringe a passado. É passado, presente e projetar o futuro.”
Muito além de futebol
O Ponta de Lança está em várias redes sociais, sendo a principal delas o Twitter. Foi onde as “threads” popularizaram o projeto e renderam uma extensão de seus conteúdos no Medium.
Além disso, até Novembro de 2020, contam com três podcasts:
- Mama África FC foi primeiro e exclusivamente voltado para o futebol no continente.
- Mama África FC Continente veio logo depois e se propõe a falar de cada um dos países em geral, para além futebol, com temas como geografia, política e cultura.
- Boletim COVID/África em Pauta nasceu só “Boletim COVID”, para informar sobre a pandemia no continente. Devido ao controle bem-sucedido em seus países, ele deu lugar ao “África em Pauta”, que traz notícias africanas em geral, com um olhar mais aprofundado que a mídia tradicional.
O som do futebol
A relação entre o Ponta de Lança e o som se dá desde sua origem. Seu nome é inspirado na música de Jorge Ben Jor que conta a história do místico jogador Umbabarauma, “um ponta de lança africano”. Outra canção que inspirou foi “Ponta de Lança”, que alavancou a prestigiosa carreira do rapper Rincon Sapiência.
Além disso, há a relação com o podcast, a mídia sonora que se popularizou nos últimos anos. O primeiro programa do Ponta de Lança nesse formato, o “Mama África FC”, também tem inspiração na música homônima de Chico César.
Vários Brasis pra falar sobre África e experiência no continente
O projeto tem 7 colaboradores e colaboradoras* da área de comunicação e que vivem no Sudeste, Sul e Nordeste do país, mas tudo começou com Rubens Guilherme e Luis Fernando Filho, na universidade.
À época, em 2019, Rubens fez um intercâmbio para o Moçambique e aproveitaram a oportunidade para cobrir a Copa Africana de Nações de 2019.
Pra ele, a experiência no continente africano foi fundamental para a formação do que o Ponta de Lança é hoje. E ele não foi o único: Marcos Carvalho, que foi entrevistado pelo PdL e hoje é colaborador do projeto, viveu em Angola.
Ter essa vivência nos países é determinante para embasar as informações que passam nos textos e programas, levando em conta que a imagem de África que o ocidente tem acesso de longe é um tanto superficial e distorcida, até mesmo para pessoas bem intencionadas.
Para Rubens, é preciso fazer enfretamentos à mídia branca e seu olhar eurocêntrico, que desdenha e folcloriza o futebol e a cultura africana como um todo. Típicos percalços que são reflexo da colonização. Mas ele propõe um caminho:
“É preciso combater com informação, resgate histórico e atualidade.”
Como ter acesso a conteúdo sobre África?
Algumas iniciativas os inspiraram, como o podcast Xadrez Verbal e seu programa “Fronteiras Invisíveis do Futebol”, além dos veículos de notícia Alma Preta e Notícia Preta. Os dois últimos, inclusive, produziram especiais sobre os campeonatos no continente, o que serviu de estímulo ao PdL.
Livros, músicas e filmes citados, além dos que costumam ser mencionados nos programas:
- Fela Kuti e o documentário “Meu Amigo Fela”, de Joel Zito Araújo;
- José Craveirinha, poeta que fala sobre a luta pela independência do Moçambique;
- “Longa caminhada até a liberdade”, de Nelson Mandela.
Alguns dos pontos altos da trajetória do Ponta de Lança foram colaborações com outros veículos tradicionais, como no artigo “Haile Selassie e a origem da Copa Africana de Nações” para o Observatório da Discriminação Racial no Futebol e “Dançarinos do caixão: a história dos coveiros ganeses que viraram meme na Internet”, pro Ludopédio.
Projetos futuros
Mirando a Copa Africana de Nações de 2022, o Ponta de Lança planeja dar continuidade a seus projetos em andamento, mas quer crescer no audiovisual.
Por outro lado, se informação sobre o futebol masculino já é escassa, que dirá o feminino. Estrelas em ascensão, como a atacante nigeriana Asisat Oshoala, do Barcelona, têm ajudado a difundir a qualidade do futebol feminino do continente, e a equipe do PdL não mede esforços para ajudar a popularizar cada vez mais essas informações.
Por fim, Rubens cita a trajetória do rapper e apresentador Emicida como uma inspiração: o que o artista fala, suas entrevistas, sua música e sua gravadora, a Lab Fantasma, são, para ele, exemplos de como é possível romper padrões para além da música, mas até mesmo na sociedade.
É o que o Ponta de Lança busca: transformar a ordem natural das coisas.
*Fazem o Ponta de Lança: Rubens Guilherme Santos, Bruno Negrão, Luis Fernando Filho, Karoline Tavares, Lyz Ramos, Dinho Liberito e Marcus Carvalho.