O ponto fora da curva.

Leia ao som de Cícero — Tempo de Pipa

Danilo H.
Revista Subjetiva

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A chuva caiu sobre a cidade rapidamente apenas para deixá-la abafada, finalmente saí do bar em que estava e te vi passando do outro lado da rua, em plena Rua do Passeio, no centro do Rio de Janeiro, você deu o ar de sua graça.

Uma feição séria, duas presilhas no cabelo crespo e um headphone preto e vermelho te acompanhavam durante seu trajeto… Pelo seu olhar notei que algo te preocupava (ou será que só estava pensando na vida?). Uma mão segurava a bolsa de lado e a outra fazia-se de pêndulo acompanhando o seu caminhar, de maneira misteriosamente caí em pensamentos além-alma, pois você me despertou uma vontade de viver que eu não sentia há tempos.

Minha cabeça te acompanhou até o último minuto que pôde, pois você virou a esquina, entrou na Avenida Rio Branco e sumiu entre as grades e o obelisco da Cinelândia. Parte de mim queria ter ido atrás de você, mas acredito que tal ação não seria bem recebida. Não se preocupe, eu jamais te faria mal algum.

Dois dias depois eu entrei na Livraria da Travessa, em Botafogo, e me deparei com sua existência supersônica na seção de literatura brasileira, confesso que simplesmente esqueci o nome do livro que eu tinha ido procurar. Andei pela loja e fingi que não estava te observando, você não é o tipo de mulher que se encaixa em um padrão de beleza, contudo possui uma aura mágica que te rodeia, sua beleza não está no rosto, mas sim no seu caminhar, no modo em como você lê as orelhas dos livros e como suspira enquanto absorve as palavras escritas.

Você passou do meu lado com a cabeça baixa (você sempre anda assim, incrível) e meu coração foi acelerando gradativamente para então chegar ao seu ritmo mais forte, senti o poder da sua existência à centímetros de mim e já foi o suficiente para me abalar por completo.

Espiei sorrateiramente o que você levava nas mãos, o livro que ficou por baixo foi impossível de ver, porém vi nitidamente que você segurava “A Hora da Estrela” contigo em direção ao caixa. Reconheço que tremi por dentro, afinal, é o meu livro favorito.

Antes de ir embora, você guardou o livro na sua bolsa de lado, pegou o seu headphone e se dirigiu para a saída, foi então que você resolveu levantar a cabeça, nossos olhares se cruzaram (os 6 segundos mais inebriantes da minha noite) e por algum motivo você sorriu furtivamente para mim antes de abrir a porta e se misturar ao sons da cidade.

Algo dentro de mim começou a questionar várias coisas sobre quem é você, e cheguei a conclusão de que você é um ponto fora da curva, algo além do óbvio e que não se repete. Será que você foi sempre assim? Imagino friamente o que as pessoas pensam sobre ti, afinal, é preciso ter coragem para ser você mesma… Olha só, nem te conheço e já estou criando suposições… Juro que não é nada relacionado às minhas expectativas, entretanto não posso deixar de notar que a sua existência oscila entre o sussurro e o grito, o angelical e o sórdido, a dor e o êxtase, a solidão e o tumulto na cidade.

Faço tantas perguntas e suposições porque você me instiga, me habituei a pessoas comuns e previsíveis, tudo o que você não é.

Te vi como uma pessoa ocupada demais para ser outro alguém a não ser você mesma e isso… Bem… É algo que me tocou na primeira vez que te vi passar, acredito que teríamos muita coisa para conversar.

Será que você me reconheceu dessa mesma forma? Será que passei pela sua cabeça algum dia desses?

Acredito que caminhamos por vales e falésias igualmente escuras e que se tivéssemos nos cruzado antes… Talvez… Possivelmente… Muitas coisas teriam sido diferentes. Creio que nossos caminhos irão se cruzar novamente.

Tenho certeza que posso sentir a proximidade da sua existência até de olhos fechados.

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Danilo H.
Revista Subjetiva

Aqui eu escrevo sobre desconfortos, alegrias e sobre nós.