Um vendedor de empanadas em seu posto, em Buenos Aires, em 1937 — ARQUIVO GERAL DA REPÚBLICA DA ARGENTINA INV: 13862

“O que aconteceu com os Negros Argentinos?” & “Coronavírus, Cloroquina e Genocídio Negro: divagações sobre uma política de branqueamento do povo brasileiro”

Tiago da Silva
Revista Subjetiva
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5 min readJul 27, 2020

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Nossa história de hoje começa com um texto que li há pouco. Mal traduzido do Espanhol para o Português e sem citar fontes, relata detalhes de uma coisa que já sabíamos mas da qual pouco falamos:

A Argentina exterminou sua população negra.

Precisei de mais alguns estudos para aprofundar a questão, cujos links se encontram no final do texto.

Apagamento histórico da comunidade negra argentina (Imagem: Divulgação)

Vamos lá. A Argentina teve um processo de sequestro de pessoas africanas escravizadas idêntico ao de tantos outros países da América Latina: o próprio Tango, tão celebrado pelos hermanos nada mais é que apropriação de uma manifestação de dança tipicamente africana, os tangós.

E não tinha nada de branda na escravidão argentina. Pode parecer óbvio que a escravidão não era branda, mas há historiadores que chegarem a defender tal ideia.

https://www.almapreta.com/editorias/realidade/a-comunidade-afroargentina-invisibilizados-pela-historia-oficial

Mas fato é que em dado momento da história (como em meados de 1780, por exemplo) o país tinha praticamente metade da população formada por negros, como acontecia em tantos países onde a força de trabalho dependia da escravidão.

Aí com o passar do tempo esse número foi caindo, caindo, caindo… e hoje se reduz a algo em torno de 5%.

O que aconteceu, por que os negros argentinos desapareceram?

Encontrei fontes falando sobre o projeto de eugenia dos governos e de como operaram o esquema de braqueamento da população ao longo de séculos:

- Mandando homens negros em guerras para batalhas em que não havia chances de vitória. Batalhões constituídos exclusivamente de negros enviados a batalhas nas Guerras da Independência e na Guerra do Paraguai, com precariedade de armamentos e instruções, prontos para o abate.

- Alocando famílias negras em áreas sem saneamento ou condições básicas de salubridade, mais propensas, portanto, a serem dizimadas por doenças contagiosas.

https://www.almapreta.com/editorias/realidade/a-comunidade-afroargentina-invisibilizados-pela-historia-oficial

- Criando barreiras sociais e demarcando territórios, dificultando processos de convívio e, consequentemente, de miscigenação dos negros mais retintos.

Aqui, vale destacar o fato de que tercerón, zambo e mulato eram termos usados na Argentina para designar as variadas características de crianças resultantes da miscigenação. Um termo, entre tantos, se destaca:

Salto trás: quando a criança mulata ou tercerón era mais negra que os pais. Ora, num processo de eugenia de inspiração europeia, nascer com a pele escura ou traços mais negroides era, obviamente, um reprocesso.

A inspiração eugenista na Argentina era tão pungente que os próprios oficiais nazistas escolheram o solo argentino para se esconderem ao fim da Segunda Guerra.

Alguns foram descobertos mais tarde e ainda hoje especula-se quantos mais o teriam feito e vivido lá o resto de suas vidas sem pagar o preço pelas atrocidades do Holocausto.

E é aqui que o texto muda um pouco de direção e se volta para a realidade brasileira atual.

Eu combino isso tudo, esses fatos da História argentina, com alguns aspectos da nossa, brasileira. Como o fato de o governo atual brasileiro ser composto basicamente por políticos e militares que em mais de uma ocasião fizerem menções a conceitos, teorias e inspirações nazistas/eugenistas.

O próprio vice-presidente, Hamilton Mourão, almeja o branqueamento da raça dentro de sua própria família, orgulhoso do neto que, em relação a ele, ostenta traços mais europeus.

Deixar a família (ou comunidade, ou nação) supostamente mais “bonita”, ou melhor, pelo simples fato de torná-la mais branca, tem um nome: Eugenia.

Nesse cenário, eu me pergunto:

Hoje, qual seria o paraíso prometido para um nazista em fuga? O Brasil, parece a resposta correta.

Nessa mesma panela, de eugenia e branqueamento de nações, e de pandemias como forma de reduzir determinadas populações, acontece algo novo, mas nem tão novo assim:

Surge o Novo Coronavírus, ressuscitam a Cloroquina e, uma coisa leva a outra: hoje temos milhões de comprimidos de Cloroquina estocados. Eles foram supostamente produzidos e também doados para o combate à Covid-19, embora sua eficácia não tenha sido comprovada.

Pergunto: Agora, para onde vão esses comprimidos de eficácia duvidosa? E eu mesmo respondo: pras bocas negras e periféricas.

Você sabe qual é o perfil da pessoa que morre hoje de Covid no Brasil, né?

Mas, para quem quer o Brasil branquinho branquinho, morrermos de Covid-19 não basta. Temos que morrer também tratando inadequadamente a Covid.

É nas periferias, majoritariamente negras, que esse lixo (não testado e não usado em lugar nenhum do mundo em larga escala) vai ser desovado.

Somos os mais presos, os assassinados em abordagens policiais, somos os mais propensos a ser mortos por surtos e pandemias e agora corremos o risco de sermos exterminados também através do uso de medicamentos condenados em todo mundo.

É por isso que ser negro é,

aqui no Brasil ou na Argentina,

em 1700 ou hoje,

um ato de resistência.

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Texto de referência:

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Tiago da Silva
Revista Subjetiva

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.