O que aprendi no carnaval sozinha

Kenia Mattos
Revista Subjetiva
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2 min readMar 13, 2019
Foto: http://trabalhosujo.com.br/baianasystem-2015-ja-viu-e-deja-vu/

Pra quem conhece ou acompanha pela televisão, o Carnaval de Salvador, a minha cidade, é um dos maiores do mundo, tanto em número de atrações quanto no número de pessoas aglomeradas em pontos específicos da cidade, onde ocorrem os circuitos de carnaval. O mesmo, também é conhecido pela quantidade significativa de violência, mas não vamos entrar nesse mérito porque acho que isso é uma questão que envolve uma forma de protesto.

Algumas horas antes de sair pro carnaval, algumas coisas deram errado e fiquei sem companhia. Queria muito ir e decidi ir sozinha, logo veio na minha cabeça um milhão de questionamentos:
1 — Será que eu vou morrer?
2 — Alguém vai tentar me beijar a força, é óbvio. E eu não vou ter como me defender.
3 — E se tiver alguma briga física e eu não conseguir sair de perto?
4 — E se na volta pra casa estiver perigoso e eu for assaltada ou estuprada?

Tudo isso ficou ecoando na minha cabeça com a força de 15 martelos. Mesmo assim, fui. É ridículo o quanto a gente enquanto mulher tenta moldar personalidades e comportamentos para parecermos invisíveis aos homens em situações de vulnerabilidade. Eu me vi, no alto dos meus vinte e dois anos, pensando na roupa que me deixaria menos vulnerável aos olhares dos homens, é ridículo o quanto isso é pesado.

Chegando lá, por sorte encontrei um amigo com um grupo, do qual eu me perdi com meia hora de carnaval. Eu podia ter ido embora, eu podia ter desistido. Mas eu quis provar pra mim que existem barreiras que podem e PRECISAM serem quebradas.

Continuei atrás do meu trio até o fim, foi muito difícil ser uma mulher no meio de rodinhas de mosh, resistir aos assédios sem tentar enfrenta-los, mas provei para mim que sim, nós podemos e devemos articular formas de autoproteção para que não precisemos nos sentir protegidas apenas com a presença masculina. No fim das contas, consegui me divertir e cheguei bem em casa.

Nós somos a nossa própria proteção.

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Kenia Mattos
Revista Subjetiva

Diga-me com quem tu andas e te direi quem é seu parsa. Escritora nas horas ocupadas.