o que eu aprendi com o rabo de cavalo

Gabi F.
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMar 1, 2018

Quando eu era pequena, eu não sabia prender o meu cabelo. Minha mãe sempre fazia o meu rabo de cavalo, com bastante gel e no topo da cabeça. Precisava ser bem puxado e sem nenhum fio fora do lugar, receita para dor de cabeça imediata.

A gente vivia uma vida de bairro e tudo era perto: o colégio, o trabalho, a padaria e a sorveteria. Eu estudava à tarde e, como meu pai não tinha a menor habilidade com meu cabelo, a gente batia o ponto no trabalho da minha mãe antes de seguir viagem.

Eu colocava o gel, a escova e o rabicó na mochila e chegava cumprimentando todas as colegas da minha mãe. A gente tinha 15 minutos para o tal penteado, mas minha mãe não precisava de 2 minutos. No resto do tempo eu era assistente dela, falava com os pacientes, brincava o estetoscópio e carimbava qualquer folha em branco de bobeira no balcão.

Certo dia eu acordei inspirada, tentei fazer meu próprio rabo de cavalo e consegui. Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não contei pra ninguém que eu tinha aprendido a me virar sozinha. Eu não queria abrir mão daquela rotina que era de nós três. E não queria lidar com as consequências que envolveriam dispensar a minha mãe e os 15 minutos de saracoteio antes de ir pra aula. Afinal, que criança tinha o privilégio de ir quase todos os dias no trabalho dos pais?

Guardei o segredo e continuei carregando meu gel, escova e rabicó pra cima e pra baixo.

Só que a vida dá um jeito de tirar a gente da zona de conforto e, no ano seguinte, eu passei a estudar de manhã. É quando a gente percebe a falta de controle que a gente tem. Só que não demorou muito para eu começar a amar a nova rotina. Eu prendia o cabelo sozinha e tomava café da manhã com meus pais, ouvindo rádio todos os dias. Que maravilha, eu pensava.

Seja quando você aprende a fazer o rabo de cavalo sozinha, quando você muda de casa, de relacionamento ou de cidade. Abrir mão é difícil porque a gente não sabe o que tem do outro lado. No entanto, dizem que só com as mãos livres, é que a gente consegue tatear e nutrir outros terrenos.

Até o dia em que a vida resolve mudar tudo de novo.

eterna mudança

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