O que fizeram com o amor?

Rafaella Salles
Revista Subjetiva
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3 min readJul 5, 2018
Foto: banco de dados Unsplash — divulgação gratuita

Refletindo sobre o que é amor, me deparei com a superficialidade expressa no dicionário; em algumas poucas palavras:

“(i) sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa;

(ii) sentimento intenso de atração entre duas pessoas;

(iii) ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual;

(iv) ser que é amado.”

Sempre vi muitos poetas e estudiosos das linguagens, relatarem em seus textos, prosas e poesias que o amor não cabia em poucos ou muitos versos e de fato, depois de muito me encantar com poucas palavras, descobri algo que os livros de romance não nos ensinam. Explico o porquê mais abaixo, assim como a caracterização superficial que vejo que ainda há no dicionário.

Para isso, peço permissão para, em primeiro lugar, pontuar algumas coisas: estar apaixonado por alguém envolve muito mais do que um sentimento; são sentimentos, no plural, prontos para te fazerem refletir que o outro também existe na relação; seja ela séria, enrolada ou platônica. E vejam só, é extremamente normal dar início em uma “relação” onde um dos dois, “gosta mais” do que o outro; confio e entendo, plenamente, que os sentimentos são estruturados e construídos em conjunto. Sentir sozinho, caminhar sozinho e amadurecer um amor sozinho, não é saudável; pelo contrário, é instável e perigoso.

As histórias de amor que encontramos escritas por aí, também não nos contam isso. Ninguém nunca nos ensinou a cuidar do nosso espaço e do espaço do outro; ninguém nunca nos disse que a responsabilidade deveria ser partilhada.

E, é exatamente isso que esclareço agora: ninguém nunca nos ensinou a amar e ao mesmo tempo, lidar bem com a responsabilidade afetiva que temos com o outro; estão tentando transformar o amor em algo superficial.

Ilustração: Henn Kim

A cada dia mais, vemos lugares cheios de pessoas vazias; e pessoas vazias de alma. Almas, que se tornam vazias de cores, com cores vazias de nós; tornando-n(ó)s vazios à sós: desatou-se.

O que fizeram com o amor fluído e espontâneo?

As relações são firmadas pela manutenção do status quo, toda vez que avistamos uma manifestação digital, do que deveria estar sendo vivido diariamente: dois corações já não batem mais juntos — não sem a ajuda de uma plataforma que possa arregimentar algo que deveria ser eternizado pelas memórias de um final de tarde sob o pôr do sol.

Enquanto tudo isso acontece, fico no aguardo e na torcida, de um dia, quem sabe, o amor; voltar a ser Amor — e também na esperança, de que as pessoas enxerguem como devem enxergar: da superficialidade das palavras à superficialidade das relações afetivas.

O que fizemos com o Amor (?)

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Rafaella Salles
Revista Subjetiva

Mestranda em Administração Pública. Cientista Política. Pesquisadora e escritora das minhas lamentações nos tempos vagos.