O que (não) esperar da série “The Politician” ?

Nassor Oliveira
Revista Subjetiva
Published in
4 min readOct 8, 2019
Fonte: Exibição Netflix

Para alguém extremamente bem sucedido e com uma audiência que o acompanha ao longo de suas diferentes produções, inovar é um desafio. Está aí a chave necessária para qualquer pessoa que pretende assistir a nova série original da Netflix, com a assinatura do consagrado Ryan Murphy, criador de Glee, American Horror Story, entre outros: Dar uma chance a narrativa sem procurar a todo tempo referências ou semelhanças com outras produções.

Fonte: Exibição Netflix

A maioria das resenhas, reviews e críticas que li antes de procurar assistir a série de fato ressaltavam as características de Murphy , as possíveis semelhanças com Glee, especulações sobre o conteúdo político da série, a presença de atrizes consagradas como Gwyneth Paltrow, Jessica Lange, e outros em ascensão, como Ben Platt e Lucy Boynton. Logo expectativas são criadas, e o espectador pode experimentar a produção toda procurando algo que talvez não seja sua proposta.

Fonte: Exibição Netflix

Temos momentos musicais no colegial, mas não estamos em Glee, temos brilhantes momentos com Jéssica Lange, mas não estamos em American Horror Story, temos muito luxo e cores, e não estamos em uma produção de Wes Anderson, temos uma trama política, mas não estamos no estágio avançado de House of Cards ou Scandal, embora sim, encontremos semelhanças.

Fonte: Exibição Netflix

Já falamos muito sobre o que a série não é, mas como definir a série afinal? Ela pretende acompanhar desde a formação, os conflitos e a dinâmica da construção do perfil de um jovem que tem uma ambição bem “simples”: Ocupar um dos cargos mais importantes do mundo, o de presidente dos Estados Unidos da América. O ponto de partida são as eleições para presidente do corpo estudantil, onde para Payton e sua “equipe voluntária de amigos” tudo e todos devem servir a esta ambição, que as vezes cega, causa problemas e faz questionar se os fins justificam os meios e quais fatores nos levam a escolher um candidato.

A descrição indica ser uma série de comédia, mas não espere gargalhadas, temos personagens caricatos, mais em um sentido de chamar a atenção para narrativa do que para simplesmente fazer rir. Temos presentes cenários de extremo luxo e ostentação, e muitos White People Problems expostos como pano de fundo, não glamourizados, mas sinalizando que recursos materiais em excesso, nos termos de uma personagem da série: “Torna o essencial fácil para que os ricos tornem o fútil e irrelevante difícil, dando significado a suas vidas”.

Muitas produções da Netflix acabam adotando um caráter militante e propositivo em termos de transformação social, abordando realidades marginalizadas, pautas de opressões, o que rende elogios e por outro lado também críticas por uma possível “carona” nas pautas apenas em busca de lucro. Não é o caso de The Politician : Encontramos na narrativa da série críticas constantes ao uso de pautas legítimas com objetivos deturpados, para fins pessoais, sejam eles de pautas identitárias como direitos das mulheres, pessoas em situação de vulnerabilidade, e a exposição de detalhes íntimos como fraqueza a ser explorada, ou seja, a política como ela é.

Temos ainda camadas de profundidade, momentos ricos de reflexão sobre identidade, propósito de vida, depressão, a dificuldade simplesmente existir, se entender, e acima de tudo ser capaz de lidar consigo mesmo, o que abre um leque de discussões sobre saúde mental, em um território que pode ser perigoso para muitas pessoas, por isso o aviso no início da série.

“ Não importa ser uma boa pessoa, desde que se façam coisas boas”

Fonte: Exibição Netflix

Para quem questiona o que há de política na trama, responderia “quase tudo”. Quando percebemos que como o próprio protagonista da série afirma: “Não se vota em candidatos por suas políticas, mas sim em histórias, produtos”, podemos acompanhar desde os primeiros passos, na tentativa e erro, a construção de uma figura política, e como diversos fatores, que aparentemente nada tem a ver com a execução eficiente de políticas mas sim com pauta para coluna de fofocas fazem muita diferença na política de fato.

A série não é imediatista, embora muitas coisas aconteçam de forma apressada, temos personagens com várias camadas que podem amadurecer muito ao longo das etapas, o que ultimamente tem enfraquecido essa possibilidade é a necessidade de retorno imediato do público, podendo não tornar possível que a gente enxergue o amadurecimento dos personagens e da trama que vai se costurando caso a série seja descontinuada.

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Nassor Oliveira
Revista Subjetiva

Cientista Político I Colaborador na Revista Subjetiva e Editor na Revista Marginália. Instagram: @nassoroliveira