O que realmente significa se olhar com cuidado, afeto e respeito?

Lara Pirro
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJul 24, 2020
Arte por https://www.instagram.com/_miki_kim_/

Estou a mais de 80 dias em isolamento social, em plena pandemia do COVID e hoje (15/06/2020) faz três dias que eu me despedacei numa decepção que me pegou de jeito.

Nos dois primeiros dias, eu caí fundo na tristeza e me permiti sentir todos aqueles desagradáveis sentimentos.

Me permiti chorar e com cada lagrima eu lavei, sozinha, minha própria alma.

Hoje, o terceiro dia pós-decepção; são exatamente 02:20 da madrugada e eu estava com minhas amigas, que antes eu não aproveitava tanto a presença delas, jogando um novo jogo. Depois que eu parei de entorpecer minha mente com as tão recomendadas distrações, eu retornei para o mesmíssimo sentimento de antes; angústia, tristeza e decepção.

Eu, como boa marxista que sou, não me contento com paliativos. Sinto a necessidade de encontrar a raiz do sofrimento da humanidade, então, comigo mesma isso não poderia ser diferente.

As distrações que me foram recomendadas são verdadeiramente boas para explorar novas possibilidades quando antes não eram percebidas.

Mas o que realmente mudou o sentimento que me era latente no coração, foi eu mesma. Foi quando eu parei de jogar e imediatamente comecei a sentir tudo de novo; meu coração pequenininho de tão apertado.

Deitei na cama, com todo cansaço de dias sentindo esse cruel aperto, estiquei minhas pernas e olhei para os meus pés. Depois fui subindo o olhar, olhei para todo o meu corpo e parei no meu coração, era ali que me doía tanto.

Coloquei minhas mãos no peito, pressionei meu coração com carinho, com o mesmo cuidado que outrora eu cuidara do coração de outra pessoa.

Segurei minhas mãos ali, pressionando meu peito com o objetivo de sentir o que era real; minhas mãos ali.

Passados alguns minutos, eu percebi que se fosse outra pessoa no meu lugar e eu estivesse ao seu lado, eu provavelmente, cuidaria dela e diria as exatas palavras que a resgatariam daquela dor.

Percebi que eu sempre olhei a todas e todos com cuidado. Percebi que as pessoas que estiveram ao meu lado obtinham de mim algo que eu nunca ousei dar a mim mesma e nem receber delas.

Percebi que eu sabia o que me dizer, sempre soube, mas nunca disse. Então eu falei comigo mesma, falei que eu precisava respeitar as minhas cicatrizes e que isso significava cuidar de mim mesma.

Eu sempre ouvi, de forma abstrata, que precisava me olhar com carinho. Mas eu confundia esse olhar com carinho, com reconhecer a minha necessidade de carinho.

Então, eu nunca, de fato, coloquei a minha própria mão no meu coração e pressionei, como se tivesse me abraçando, enquanto falava as palavras que eu precisava ouvir e ninguém me disse.

Hoje eu fiz isso. Hoje eu realmente descobri o que significa me olhar com cuidado, afeto e respeito. Significa que eu respeito tudo o que eu já vivi e que eu considero essa vivência quando analiso aquilo que eu mereço. Significa que eu tenho cuidado comigo mesma e quando eu estou despedaçada; me trato com afeto.

Em outras palavras, eu experimentei me dizer aquilo que eu diria para uma pessoa amada que estivesse passando pelo mesmo que eu. Experimentei me cuidar com as palavras que eu direcionava a mim mesma, experimentei me definir com adjetivos que não fossem depreciativos e que considerassem a minha força.

Experimentei dizer, para mim mesma, em voz alta, para que eu pudesse ouvir alto e claro; eu sempre fui a minha própria heroína, mesmo que eu não enxergasse isso.

Depois de passar alguns minutos me dizendo exatamente aquilo que eu precisava ouvir. O aperto no coração sumiu. Não sei se ele retornará em outro momento, ou por quanto tempo ficará, mas agora eu sei como cuidar de mim quando ele estiver por aqui.

‪Quando fazemos o autocuidado e começamos a nos olhar com carinho de verdade, o nosso corpo e a nossa mente respondem a esse estímulo. É muito bonito sentir a força que temos dentro de nós.‬ Principalmente quando ela age nos reerguendo de um golpe.‬

Como disse Lenine, hoje eu digo a mim mesma; “eu envergo mas não quebro”.

Caso necessário, procure a ajuda de um psicólogo. Buscar a ajuda adequada também faz parte do autocuidado. Trata-se de atender a uma necessidade sua.

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