Oi Papai Noel!

Texto de dezembro para o desafio literário #EscreverEscrevendo

Regiane Folter
Revista Subjetiva

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Oi Papai Noel!

Saudades de vc 🙂 Ano passado não mandei cartinha. Será que vc sentiu minha falta? Eu senti a sua, senti muita muita saudade mesmo! Desculpa por ter sumido, mas acho que vc sabe o que aconteceu, né. 2020 foi muito triste e quando chegou no final do ano, não fiquei com vontade de falar com vc. Não é culpa sua, é só que eu estava tão cansado que deixei pra lá.

Meus pais me disseram que você mandou presente mesmo sem a carta, mas eu sei que eles estão mentindo. Eu sei que os presentes debaixo da árvore foram eles que compraram, mas eu finjo que acredito porque não quero parar de ganhar presente de Natal, né! Não sou bobo! Mas eu sei que não tem como um velhinho viajar pelo mundo num dia só e entregar brinquedos pra todas as crianças que existem. É impossível, só quem é bebê acredita nessa história! Quando eu era menor eu já desconfiava, até que um dia meu amigo Rafa me contou que é mentira, que o Papai Noel foi inventado pela Coca-Cola e que são os adultos que compram os presentes, então tudo fez sentido.

Mas eu nunca deixei de escrever a carta pro Papai Noel (pra vc), menos ano passado. Acho que vc não entrega nenhum presente não, mas acho que existe sim. Acho que deve ser um tipo de gerente como meu pai Marcos. Não sei bem o que um gerente faz, mas sei que mandam as pessoas fazerem coisas e ficam vendo se essas coisas saem direitinho. Será que é isso que vc faz, fica de olho nas pessoas que organizam o Natal pra ver se estão fazendo direito? Talvez até seja empregado da Coca-Cola, sei lá. Não importa. Mas que existe, existe. Alguém tem que cuidar do Natal.

Falando nisso, o que aconteceu ano passado, seu Noel? Saiu de férias? Porque olha, o Natal foi bem difícil. Na minha casa, ninguém da família pode se ver. Não vi meus primos e primas, nem minhas tias e tios, nem a vó. Todo mundo tava triste por causa do vô, que foi pro céu um mês antes do Natal, e todo mundo queria estar junto, mas não podia por causa do coronavirus. Um saco.

Por um tempo eu tive esperança sabe, de que pelo menos no dia do Natal as coisas fossem melhorar. Achei que podia rolar algum milagre como os que aparecem nos filmes que a vó sempre assiste todo dia 25 de dezembro. Pensei que algo grande fosse acontecer e que resolvesse toda a bagunça dessa pandemia, que fizesse a gente ter um Natal feliz. Não sei, acho que fui muito criança pensando isso. Se vc não pode viajar pelo mundo num trenó voador, quem disse que poderia fazer uma doença sumir? Só percebi como fui besta no dia 24 mesmo, quando jantamos meus pais e eu, naquela mesa tão grande pra só nós três. Nem quis abrir os presentes, fui direto pra cama.

Esse ano as coisas estão melhores e acho que esse Natal vai ser diferente. Vai todo mundo pra casa da vó e eu não vejo a hora de ver meus primos! Papai Pedro já me explicou que vamos ter que usar máscara e álcool em gel o tempo todo, mas mesmo assim tô animado. Vamos estar pertinho uns dos outros e isso é o que importa. Por isso decidi escrever essa carta, seu Noel. Pra me desculpar por não ter mandado nada ano passado, e também pra te pedir que dê uma boa fiscalizada no nosso Natal esse ano. Eu sei que não tem jeito de acabar com o vírus, mas se puder dar um empurrãozinho pras coisas serem mais fáceis seria muito bom.

Ah, e como nunca se sabe, será que posso pedir uma bicicleta nova? A minha é muito de criança (tem desenho do Bob Esponja) e eu preciso de uma mais da hora, afinal já sou um pré-adolescente.

Até o ano que vem!

Esse texto é parte do desafio de escrita #EscreverEscrevendo que publiquei aqui na Revista Subjetiva em janeiro de 2021. Bora participar? Aqui está o desafio completinho: #EscreverEscrevendo: como criar quando está num deserto ou oásis de ideias?

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Regiane Folter
Revista Subjetiva

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros