#OldbutGold: “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940)

Nathally Carvalho
Revista Subjetiva
Published in
4 min readSep 13, 2018
Sra. de Winter e a sua sombra, a governanta Sra. Danvers.

Falar do brilhantismo das obras clássicas de Alfred Hitchcock é como chover no molhado, o diretor conhecido como o “mestre do suspense”, é responsável por filmes que são vistos e revistos por cineastas, críticos e cinéfilos de todo o mundo. Todos são fascinados pela forma como Hitchcock utiliza e manobra com perfeição todos os elementos de um filme, e isso não é diferente em Rebecca, uma Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940). Conhecido como o único filme do diretor a ganhar o Oscar de Melhor Filme, o longa foi o primeiro trabalho de Hitchcock nos EUA, inaugurando sua longa e frutífera fase “hollywoodiana”, que o consagrou definitivamente como diretor de sucesso.

Mas vamos ao filme, Rebecca conta a história de uma moça humilde que após conhecer e rapidamente se casar com um viúvo rico, se muda para sua deslumbrante mansão repleta de lembranças do passado de seu marido com sua antiga esposa, a tal Rebecca que dá nome ao filme. A sinopse parece simples, e poderia se imaginar que se o roteiro tivesse caído em mãos menos habilidosas, o filme fosse desenvolvido de forma simplória, beirando até um melodrama chato. Mas não com Hitchcock! Avesso a previsibilidade, o diretor criou um clima de suspense perfeito, transformando a imponente mansão Manderlay num personagem decisivo para o desenvolvimento da trama. É fenomenal ver como o uso dos planos-abertos e em sequencia os planos-detalhes fazem com que a mansão — e os criados sombrios que a habitam, se agigantem e quase engulam a pobre nova Sra. de Winter. Ingênua, a protagonista vivida pela estreante Joan Fontaine se deixa levar pela sombra que Rebecca deixou na casa e na vida de seu marido.

Em certo momento da trama a Sra. de Winter é a personificação do medo, andando sorrateiramente por Manderlay, a personagem completamente encurvada parece sentir nos ossos o peso da lembrança e memória de sua antecessora. Parece que a própria mansão, e em especial a governanta Sra. Danvers vivida pela assombrosa atriz australiana Judith Anderson, não a deixam esquecer de Rebecca, a mulher perfeita e muito amada. Por mais que queira, a nova dona da casa não consegue se livrar do passado de sua antecessora, o qual ela não conhece, mas que a persegue e atrapalha não só seu casamento que prometia ser um conto de fadas, mas também sua própria sanidade.

Sra. de Winter explorando a monumental Manderlay.

Essa é a marca de Hitchcock, construir estórias carregadas de um suspense psicológico, que no caso de Rebecca funciona perfeitamente bem. Embora o filme comece como um romance dramático, o terror se abate de várias formas sobre a frágil Sra. de Winter até que sua personalidade instável se depara com os segredos que a vida e morte de Rebecca representam. É quando o suspense quase sobrenatural se transforma novamente, e o diretor nos brinda com plot twists quase inacreditáveis! As revelações de Maxim de Winter, vivido brilhantemente pelo ator veterano Laurence Olivier são imprevisíveis até para os espectadores mais perspicazes.

Do prólogo marcante até ao grand finale, Hitchcock brinca com o espectador, construindo uma narrativa que prende, sufoca, apavora e surpreende quem se propõe a ver esse clássico do cinema. A construção dos personagens, a escolha dos ângulos de câmera ampliando certas nuances da trama, a trilha sonora angustiante, o terror psicológico no rosto e olhos dos atores, tudo é milimetricamente planejado e disposto na tela para um único fim: fazer com que não esqueçamos Rebecca. E prepare-se, porque Rebecca é realmente inesquecível!

Laurence Olivier e Joan Fontaine como os atormentados Sr. e Sra de Winter.
A sombria governanta Sra. Danvers, vivida pela espetacular Judith Anderson.

--

--