Orkut foi a melhor rede social da história?

Ser o que se era fez a plataforma se tornar inesquecível

Nona
Revista Subjetiva
3 min readAug 12, 2020

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Será que temos saudades do que vivemos? (imagem de Batuhan P.)

Se a gente jogar essa pergunta em qualquer enquete, as respostas vão variar, mas tenho quase certeza, que boa parte dos brasileiros votariam “sim”. Segundo a TecMundo, ela é a favorita por aqui. Até porque só quem viveu essa era digital, aqui no país, sabe, o quanto fomos felizes (salvo exceções).

O Orkut surgiu em 2004 e, aqui no Brasil e no mundo, o cenário já era completamente diferente do que vivemos hoje. A internet tinha outros objetivos, que mudaram conforme os anos se passaram.

Naquela época, rede social era somente para conexões com outras pessoas, sendo elas seus amigos, familiares ou, simplesmente, pessoas desconhecidas que queria conhecer outras. Afinal, como esquecer das comunidades que conectavam pessoas diferentes com gostos em comum?

Quem nunca pensou o quanto odeia segunda-feira? Ou queria dormir só mais cinco minutinhos? E quem nunca, na época, quis soltar um “eu sou legal, não tô te dando mole”? A simplicidade do ser era algo que o Orkut conseguia trazer à tona e de maneira incrível. Pelo menos eu acho.

huuuuum… a identificação é certeira! Chora, grupos do Facebook.

Um dos pontos mais interessantes desta época, na internet, dentro das minhas reflexões era exatamente isso: ser o que se é. O que as redes sociais se tornaram depois, exceto as funcionalidades para empresas, foram pessoas querendo ser o que definitivamente não são. Isso que perdeu a essência de querer se ocupar com essas plataformas de conexão.

É fácil você pesquisar no Google e encontrar matérias e pesquisas que abordam a questão da saúde mental e as redes sociais. O quanto tem sido nociva a nossa relação com elas e com quem a gente acompanha. Tudo começou, talvez, com os likes. Eu não me lembro de ter essa “preocupação”, quando tinha meu humilde perfil no Orkut. Os únicos números que a gente queria, naquele contexto, era de amizades — o que significava ser popular no meio. Mas nem isso me abalava. Pode ser que não abalasse outras pessoas também.

Lembro, também, de uma única preocupação estética a respeito do Orkut, que eram as “modinhas” nas edições. Tivemos a fase de bordas nas fotos, de luzes que imitavam flashes, de edições básicas com o photoscape também. Esse último já foi no final do uso da rede social e o início da era de querer ser mais do que se é online.

Depois a gente começou a se preocupar com like e aí, meus amigos, realmente foi um caminho sem volta, para lidar com frustrações e, claro, ego. As comparações começaram a ser inevitáveis e ainda são. Acompanhar a blogueira ou a colega de turma, que viaja para lugares incríveis em todas as férias, a vida perfeita da Jornalista que se formou há três meses, o corpo ideal e beleza natural daquela outra pessoa, que parece ser tão simples, mas quando é com a gente fica tudo tão maior e complexo.

Imagem de Thais Nobile

Perdi as contas de quantas vezes meus amigos conversaram comigo a respeito de ter receio de fazer postagens, porque acham que a foto está feita demais e nem um pouco “instagramável”. Já teve até gente que, depois de postar uma foto INCRÍVEL percebeu um defeito perceptível só para a pessoa e resolveu excluir, porque não era bom o suficiente para quem o/a acompanhava.

Mas… fala sério: ninguém quer só uma foto bonita postada no dia do aniversário — ok, tem gente que quer.

Mas no fundo mesmo, a gente gosta é de um bom depô sincero, com muitas cores e emojis possíveis para expressar o que se sente fielmente.

Afinal, o que adianta ser bonito na rede e frustrado aqui fora não é? O Orkut não precisa voltar, a era dele já foi. O que precisa voltar são pessoas sendo mais que imagens na internet: sendo gente!

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