Os detalhes de uma luta entre o Bem e o Mal | Resenha de “O Exorcista”

A obra de William Peter Blatty causa calafrios e êxtase em uma leitura fluida e envolvente

Gabriela Prado
Revista Subjetiva
4 min readJan 14, 2019

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Foto: Gabriela Prado

Lançado originalmente em 1971 e em 1972 no Brasil, pela Editora Nova Fronteira, “O Exorcista” é a obra-prima literária no que se refere ao sobrenatural e profano. Com descrições encorpadas e linhas de tensão e medo, o livro de William Peter Blatty entretém e mostra, de forma totalmente detalhada e apurada, a luta entre o bem e o mal, entre Deus e Diabo, entre a blasfema e a bondade.

Inspiração para o filme “O Exorcista”, lançado em 1973 e ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, a obra literária contém tudo — e ainda mais — que o filme mostra — e que já é conhecido: o bairro das MacNeil — Chris e Regan, mãe e filha protagonistas da história — , a convivência das personagens com os empregados Karl e Willie e a secretária Sharon, a rotina dos padres Damien Karras e Dyer, o comportamento temperamental e alterado de Burke Dennings, amigo de Chris MacNeil e parceiro de trabalho, e o desenrolar de trâmites religiosos. Além disso, também expõe, de forma abrangente e breve, a personalidade doce de Regan MacNeil, de apenas 12 anos, antes de ser possuída por uma força maligna. Tudo é coordenado de maneira muito sincronizada, fazendo com seja um desafio e tanto interromper a leitura.

A história se inicia com o padre jesuíta Merrin em uma escavação, tendo um presságio sobre seu enfrentamento com um demônio muito forte e poderoso no futuro. Após, a história — separada em epílogo, prólogo e quatro partes em 333 páginas de pura arte — continua com Chris, mãe de Regan, divagando e explorando seus pensamentos acerca de seu trabalho — atriz — e de sua rotina com Regan. Após o divórcio, ela notara que Regan fora levemente afetada, porém nada interferiu no relacionamento das duas. Com alguns momentos engraçados e ações e decisões comuns do dia a dia, a leitura se desenrola de forma leve e descontraída, sempre com uma pitada de suspense.

O Tenente Kinderman é realmente uma das peças-chave na história, pois sua astúcia e perspicácia são importantíssimas na história, já que ele toma o papel de detetive na trama, investigando o assassinato de um dos personagens. É até um pouco irritante sua personalidade forte e, de certa forma, descoordenada, pois ao mesmo tempo em que te mantém informado e à parte de tudo o que está sendo descrito, também te confunde com tantos questionamentos. Talvez William P. Blatty quisesse exatamente isso: confundir e entreter. E conseguiu, com muita maestria e sincronismo.

Como o filme fora lançado há muito tempo, não é mais spoiler contar alguns detalhes, porém vou minimizá-los pois vale a pena ler o livro antes de assistir o filme, já que foi um pouco difícil não correlacionar os trechos literários com as cenas já conhecidas — como as cenas gore do vômito de Regan e seus movimentos anormais para um humano ou a morte trágica de Dennings.

Trecho do filme “O Exorcista”, de 1973 | Foto: Divulgação/Internet

Bom, após a leitura navegar entre o que ocorre na residências das MacNeil e o que os padres fazem em suas vidas, ela te direciona ao início de tudo, quando Regan começa a ter um comportamento estranho e avaliado como distúrbio mental. Levada em diversos médicos e especialistas, nada de anormal é encontrado em seus milhões de exames e análises realizados. Define-se, então, uma causa maior: possessão demoníaca. Com trechos angustiantes e bem explanados, o livro mostra o trâmite entre a luta de Regan com o demônio alojado em seu corpo físico e barulhos de portas, itens mudando de lugar e ranger de portas e móveis como a personificação do sobrenatural. Chris decide que é a hora de procurar a igreja para uma possível solução e um possível salvamento de sua filha — que já não é mais Regan. E é aí que os padres Karras e Merrin entram. Não vou me prolongar, mas é necessário ressaltar: se você quer ter uma noite de sono tranquila, não leia o livro antes de dormir. Assim como New York Times Book Review enfatizou — “Poucos leitores sairão ilesos” — , reforço que é necessário pelo menos um pouco de coragem para entrar de cabeça nesta história.

Por fim, “O Exorcista” expõe, de modo completo e totalmente interessante e viciante, a luta entre o Bem e o Mal e o amor de uma mãe por sua filha, além do apoio de amigos que participam do embate de forma crucial. William P. Blatty, escritor e cineasta americano falecido em janeiro de 2017, pode ser descrito facilmente como mestre do sobrenatural e especialista em detalhes mórbidos e envolventes — com também seus romances Elsewhere (2009), Dimiter (2010) e Crazy (2010), que entrega uma obra impecável e simbólica, marcando a literatura de terror.

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