Os Monkees, uma inventora e o branquinho

O que um conjunto de sucesso dos anos 60 tem a ver com a inventora do popular Liquid Paper? Descubra abaixo

Gabriel Caetano
Revista Subjetiva
5 min readFeb 19, 2019

--

Bette Nesmith Graham, o Liquid Paper e Os Monkees

Em Junho de 1967 o seriado Os Monkees estreava na TV Excelsior — o canal 09 de São Paulo — aproveitando a onda da Jovem Guarda. Muito popular nos Estados Unidos, a série exibia a rotina surrealista de quatro integrantes de uma banda de Rock’ n’ Roll. Inspirados por Os Reis do Iê, Iê, Iê, o mitológico primeiro filme dos Beatles, Bob Rafelson, o futuro diretor de Cada um Vive como Quer, e Bert Schneider, ganhador do Oscar de melhor documentário em 1974 por Hearts and Minds, resolveram criar um programa de televisão focado na rotina de um conjunto de rock. Fizeram testes com mais de 400 candidatos, escolheram quatro e, por consequência, criaram a primeira boyband da música pop.

Os Monkees eram Micky Dolenz, o baterista e um dos principais vocalistas, Peter Tork, o tecladista e baixista, Davy Jones, o vocalista e também o primeiro grande ídolo teen com fama mundial, e Mike Nesmith, o talentoso guitarrista da banda. Davy Jones já era contratado da NBC, o canal que exibiu originalmente a série, e não precisou passar pelos testes para escolha de elenco. Após sua estréia, Os Monkees viraram uma verdadeira coqueluche — tanto na TV e no disco. Em 1967 ganharam o Emmy como melhor série de comédia e no ano seguinte estrearam o filme Os Monkees Estão Soltos, que, curiosamente, traz um roteiro assinado por um jovem Jack Nicholson em parceria de Bob Rafelson. Os dois repetiram essa dobradinha várias vezes, mas aí é outra história.

Inicialmente os rapazes da banda não tocaram nos primeiros álbuns, o que gerou conflitos entre eles e o famoso produtor Don Kirshner. No terceiro disco, o hoje cult Headquarters, Os Monkees começam a ter mais controle sobre sua música e tocam em todas as 14 faixas. Headquarters foi lançado em 22 de Maio de 1967 e se tornou o álbum número um nos Estados Unidos. Uma semana depois, os Beatles lançaram o aclamado Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o que tirou Headquarters do topo das paradas. Em 1968 o seriado é cancelado, mas Os Monkees ainda lançam mais seis álbuns até 1970, o ano em que a banda acaba.

Em 1986, comemorando os 20 anos da série, a MTV americana exibe alguns episódios da série e uma coletânea é lançada, o que gera o interesse de uma nova geração sobre o quarteto. Se aproveitando disso, Dolenz, Tork e Jones gravam Pool It, um álbum de música inéditas e começam a excursionar esporadicamente. Michael Nesmith de vez em quando se junta aos outros três. 1996 marcou os 30 de Monkees e os quatro gravaram Justus, o último álbum com os membros originais. Davy Jones morre vítima de um ataque cardíaco em 2012. Para homenageá-lo, Os Monkees voltam a estrada e lançam Good Times! em 2016, uma celebração dos 50 anos da série e do primeiro disco. Mas até agora você deve estar se perguntando o que o famoso Liquid Paper, o tal “branquinho”, material essencial em qualquer escritório, tem a ver com isso, não? Você irá descobrir agora.

Uma inventora e o tal papel líquido

Bette Nesmith Graham e seu filho Michael Nesmith, o futuro guitarrista dos Monkees

Bette Nesmith Graham era uma simples secretária executiva do Texas Bank and Trust. Divorciada e mãe solteira, sustentava um filho pequeno chamado Michael Nesmith, sua mãe e irmãs. Como datilografava muito em uma máquina de escrever elétrica, tinha dificuldade de corrigir os erros de digitação. Bette fazia pinturas em suas horas vagas e teve uma ideia genial. Num liquidificador, juntou uma têmpera de base branca e água. Bateu tudo, colocou num frasquinho e levou ao seu trabalho, mesmo que de forma escondida. Quando batia uma tecla errada na máquina, lá ia Bette usar seu líquido de correção no papel. No começo os seus chefes não aprovaram a técnica, mas o produto começou a ficar popular no banco.

Entrando em contato com os professores de química do filho, Bette foi desenvolvendo um líquido cada vez melhor. Motivada pelo sucesso que a invenção fez no banco, Bette resolveu comercializar o produto. No início a produção era bem arcaica, feita por Michael Nesmith e seus amigos na garagem de suas casa. Bette ainda trabalhava para o banco, mas tentava patentear sua invenção e criar a Mistake Out Company, o que não dava certo. Em 1958, num momento de descuido, acabou assinando o nome de sua possível companhia em um documento do seu trabalho. Foi demitida, mas, a partir daí, teve a chance de cair de cabeça no seu próprio negócio. No mesmo ano conseguiu a patente de sua invenção e criou a Liquid Paper Company. Era o início de um grande negócio. É estimado que em 1975 foram vendidas 25 milhões de frascos de Liquid Paper.

Em 1979, Bette Nesmith vende a Liquid Paper para a Gillette por quase 50 milhões de dólares. Em 12 de Maio de 1980, Bette sofre um derrame, deixando toda a sua fortuna para o filho Michael Nesmith, já famoso por ser o guitarrista de Os Monkees. Por meio de diversas instituições filantrópicas, Michael Nesmith desenvolveu diversos projetos para incentivar mulheres inventoras.

No período digital em que vivemos hoje, o branquinho pode ser uma ferramenta obsoleta em um escritório. Digitamos tudo em nossos computadores, tablets, smartphones e raramente escrevemos à mão, o que é uma pena. Independente disso, a figura de Bette Nesmith Graham deve ser sempre reverenciada como uma mulher visionária, de coragem e inspiração para muitas outras.

Gostou? Clique nos aplausos — eles vão de 1 a 50 — e deixe seu comentário!

Não perca nada: Facebook | Instagram | Twitter | YouTube

Participe do nosso grupo no Facebook e divulgue seus textos por lá!

Saiba como não perder nenhum texto através do aplicativo do Medium.

Clique aqui e saiba como fazer parte do nosso time!

--

--

Gabriel Caetano
Revista Subjetiva

Já fui frentista, troquei óleo de carros, limpei balcões, servi mesas, prestei serviço pra multinacionais e fiz um doc sobre o blues. Agora tô aqui, escrevendo!