Os Nossos Amores Imaginários.
Sobre um filme que mudou minha vida.
É inacreditável como uma obra cinematográfica pode transformar as nossas vidas, não me refiro a uma mudança que abale tudo ao nosso redor, mas sim aquele tipo que nos faz olhar o mundo de uma forma diferente quando os créditos começam a subir e percebemos que aquela história era tudo que você precisava… Foi exatamente desse modo que me senti com Amores Imaginários, do diretor canadense Xavier Dolan.
O título em si já revela grande parte do enredo principal, porém é durante o desenrolar da trama que a ideia principal da trama vai se solidificando, afinal, de quem é a culpa? Aliás, existe alguém culpado?
“Culpa do quê?” você deve estar se perguntado… Bem, eu prontamente te respondo com uma outra pergunta:
É sua culpa gostar de alguém que não gosta de você?
Eu particularmente diria que não, mas essa é uma pergunta muito pessoal e é o principal questionamento do filme… Quantas pessoas já passaram pela nossa vida e sequer se deram ao trabalho de permanecer?
O núcleo principal é composto por Marie e Francis, melhores amigos que se encontram em uma grande empasse quando se deparam com Nicolas, o rapaz que se mudou para a cidade recentemente e está inserido no círculo de amizade deles.
A partir daí eles se tornam inseparáveis e começam a frequentar todos os lugares juntos, uma vez que Nicolas é, supostamente, capaz de agradar ambos da mesma forma, desse modo, a sua orientação sexual tão indefinida e fluída os aproxima cada vez mais.
Então Marie e Francis se interessam instantaneamente pelo rapaz e começam a fazer tudo em prol dele, cada uma a sua maneira e com suas peculiaridades, uma espécie de triângulo amoroso onde Nicolas é (e sempre será) o ponto principal.
Em paralelo, a vida dos apaixonados é apresentada e conseguimos compreender um pouco mais sobre a visão de ambos, afinal, Nicolas se torna parte deles a todo momento e isso afeta os relacionamentos íntimos de cada um, Marie não se sente satisfeita sexualmente com seus parceiros e Francis procura nos outros o amor que Nicolas não proporciona, ou melhor, nem faz ideia de que pode proporcionar.
Contudo, ao passo que eles se deixam levar pelos gestos, olhares e pequenas situações que Nicolas cria com cada um individualmente, a amizade deles se torna cada vez mais frágil… A disputa por atenção cresce acada vez mais.
Nicolas opta por não se posicionar frente as declarações e aos presentes que recebe de seus “pretendentes”, ele sempre encara tudo de modo ingenuo e age com a maior naturalidade possível, mas sem deixar de instigá-los e de deixar ideias no ar, ele é o único ponto mais instável do triângulo e os demais são sólidos.
Como lidar com essa situação? Como lidar com alguém que te da indícios, se mostra interessado, mas nunca toma uma iniciativa ou te dispensa? O talvez é sempre será pior resposta para tudo, pois ele é interminável, indissociável e inestimável. O talvez é tudo e nada, sim e não, aceito e rejeito, esperança e desengano.
A trilha sonora do filme é praticamente composta por músicas que se encaixam nas situações da trama, o que cria por conseguinte uma atmosfera onde tudo parece estar conectado. Uma das cenas mais importantes icônicas se passa na festa de aniversário de Nicolas, onde todo o desejo dos “amantes” ganha mais força:
Eu não estava realmente procurando por mais do que uma companhia na pista de dança
Ele sabe o que eu faço?
Você passará isso adiante, não passará?Se eu perguntar a ele uma vez, o que ele dirá?
Estará ele querendo?
Ele é capaz de jogar?
Esse filme chegou na minha vida bem em uma hora em que eu estava gostando muito de uma pessoa que tinha muitas faces, porém tive o azar de conhecer a pior delas. Gostar de alguém é algo complicado, e quando você passa a sentir algo diferente a situação se enrola ainda mais, até porque me pego pensando se o sentimento é reciproco desde o começo, mas às vezes não é.
Amores Imaginários se tornou um mantra para mim, toda vez que estou prestes a sentir algo fora do comum com alguém, me lembro de várias cenas do filme e as traduzo para a minha realidade… De todo modo, não podemos amar todo mundo e nem sempre receberemos exatamente aquilo que desejamos de alguém.
Obviamente não revelarei o final do filme (porque sou bem desses), mas sugiro que você o assista integralmente e tire suas próprias conclusões, pois como eu disse acima a trama é bem complexa e ao final cada um tem uma visão diferente… Cá entre nós, a cena final é incrível, além de ser divertidamente real…
O que é ilusão e o que é real? Talvez nunca teremos a capacidade de discernir tudo isso, mas ocasionalmente (ou nem tanto assim), esbarraremos com esses tipos de rapazes ou moças que mexem conosco mais do que deveriam.