A foto, tirada por mim, mostra, em primeiro plano, no centro, uma mão segurando o livro “Câmera Lenta”, de capa em tom quase vinho, por trás veem-se pernas dobradas, vestindo uma calça de tecido creme. Ao fundo, à esquerda, uma cama com cobertor preto e, no canto superior esquerdo, um pedaço de um gaveteiro branco.

Os silêncios que criam em 'Câmera Lenta' | #LeiaComASubjetiva

Uma conversa sobre poesia com o livro de fevereiro do desafio #LeiaComASubjetiva

Ligia Thomaz Vieira Leite
Revista Subjetiva
Published in
3 min readFeb 14, 2019

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Antes de começar, acho que eu devia dizer que "Câmera Lenta" não é o tipo de livro que você vai encontrar nas prateleiras mais expostas da livraria. Apesar de ter ganhado o prêmio Oceanos ano passado, ele é aquele tipo de livro que exige do leitor dedicação e, um pouco por isso, não costuma figurar entre os mais vendidos. Não é só um monte de palavras encaixadinhas em uma forma. Também não é só um monte de sentimento derramado no papel sem muita ordem. O livro é arte do tipo mais fino e, como tal, exige de seu expectador ou, no caso, seu leitor, uma entrega, que ele retribui com uma beleza e sensibilidade incríveis.

Com isso em mente, acho importante avisar também que "Câmera Lenta" é um livro que cansa. É curto, são 96 páginas, e a Marília usa uma linguagem super fácil de entender, de se envolver. Ainda assim, não conheço ninguém que o tenha lido todo de uma só vez. E tudo bem parar, largar o livro e ir fazer outra coisa. Mas depois volta, porque só lendo o livro todo é que fica clara a genialidade da obra. Ou, pelo menos, foi assim pra mim. Mas eu não sou poeta, muito menos expert em poesia.

É lógico que a minha condição de humana não me permite ignorar os versos lindos que a autora constrói. Com imagens que você quase vê. Com sons que quase ouve. Com silêncios que sempre surgem na leitura em voz alta. Mas o livro é muito mais que isso. E tudo bem não entender isso de cara, é normal até.

Eu, já no primeiro poema, fiquei perdida. Em "hola, spleen", a autora dá o tom do livro e é um tom confuso, dessas coisas que a gente quase entende, mas só quase. E é o sustentar dessa agonia do quase por todos os demais poemas que nos obriga a "fazer silencio" e prestar atenção o suficiente para ver a beleza do livro. É no loop, no ir e voltar, no não saber, que a Marília cria a sua obra de arte.

E não se sinta só se chegar ao final do livro e sentir a necessidade de voltar para a primeira página, ou buscar absolutamente todos os dados sobre a vida da autora, ler todas as resenhas e entrevistas sobre a obra, chamar a Marília no twitter e falar "mulherrrrrr!". Foi assim que eu me senti, pelo menos. Talvez até seja um pouco por isso que resolvi escrever essa "resenha". Pra que o próximo leitor não se sinta tão sozinho. Porque na segunda leitura — ou na primeira mesmo, pra quem tem a calma que eu não tenho — , se você prestar atenção na mensagem, vai ver que é pra ser difícil mesmo, confuso, pra faltar informação e que a autora te manipulou direitinho. E que foi lindo.

"se a gente prestar atenção e fizer silêncio

— se a gente prestar atenção e fizer

silêncio —

pode ser que ouça

alguma mensagem

perdida no ar."

Ficou com vontade de ler, mas não sabe onde encontrar o livro? Você pode comprar clicando aqui.

Pra ler ouvindo:

nada, sério mesmo, tira um tempo só pra absorver o livro. Mas se quiser muito, ouve a leitura da própria Marília antes de começar, vale a pena.

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