Para quem tem ansiedade — Ansiedade, ansiedades #1

mare alvares ✨
Revista Subjetiva
Published in
6 min readJul 13, 2017

Pretendo fazer uma pequena série de textos sobre ansiedade. É, eu venho muito por aqui para falar disso porque: 1) eu me sinto melhor: poder escrever e compartilhar com as pessoas como eu lido com a ansiedade; 2) parece que ajudo e alcanço pessoas que sofrem do mesmo que eu.

É sempre bom lembrar que nenhum dos meus textos — nem esse, nem os outros que já escrevi, nem os que eu escreverei — substituem uma consulta psicológica. Busque ajuda se não estiver bem.

Eu não tenho nenhuma formação profissional sobre o assunto, todos os meus relatos são pautados em experiências pessoais.

Eu decidi chamar a série de Ansiedade, ansiedades por entender que não há somente um tipo dela. Cada um sente de uma forma, externaliza de uma forma e lida com ela de alguma forma — não necessariamente igual a minha, nem melhor (ou pior) que a minha.

Comigo começou quando eu comecei a me dar conta que o sofrimento era real. Doía mesmo, não era metaforicamente. Tinha um peso no peito, uma falta de ar sem sentido, um incômodo em algum lugar que eu não sabia qual. Descobri que isso que eu sentia tinha nome porque eu comentei com minha mãe e ela, por sofrer do mesmo, entendeu direitinho.

Eu penso, hoje, nessa “sorte”, porque sei que tem várias pessoas que sentem essas coisas e não sabem o nome que tem. E é difícil colocar em palavras o que você tá sentindo naquele momento, é difícil contar pra outra pessoa o que é — muitas vezes porque nem nós sabemos dizer.

Encarar a si mesmo é muito difícil. É complicado apontar um problema e recear que alguém diga “Você só tá sendo exagerado”. A gente tem uma mania boba de, às vezes, acreditar mais nos outros que na gente mesmo. E não. Você não tá sendo exagerado. Se você sente, se é importante pra você, se tá acontecendo: é real, acredite.

A ansiedade é um tormento insistente e irritante, difícil demais de entender pra que não não tem. De fora, parece um monte de maluquice que a gente enfia na cabeça porque quer. As pessoas têm mania de subestimar nossas tentativas de não ser ansioso… E a gente tenta pra cacete, sabe?!

Pensar.
Pensar muito.
Pensar muito em tudo.
Pensar muito em tudo o tempo todo.

Imagina a tortura de imaginar mil coisas que não aconteceram e viver cada uma delas como se fossem reais. Superdimensionalizar situações, elevar os problemas ao cubo. Não consegue? Abaixo tentarei simular.

Minha mãe pediu a chave do carro. Eu guardei a chave. Guardei na bolsa dela. Eu acho que guardei na bolsa dela. De repente eu não sei mais se guardei ali. Onde eu guardei? Eu sumi com a chave? Se eu sumi com a chave minha mãe vai me matar. Será que eu perdi? Botei no bolso e caiu no chão? Minha mãe vai me matar de qualquer jeito. Onde tá a chave? Eu realmente guardei a chave? Minha mãe realmente me deu a chave para guardar? Vou ter que pagar um chaveiro pra ver isso. Quanto que não deve ser isso? Vou tirar dinheiro da onde pra pagar a chave que perdi? ***** A chave está dentro da bolsa mesmo. Que bom.

Pequenos eventos, coisas bobas, se tornam um inferno na nossa cabeça. Às vezes, não são nada demais, mas pra gente é. Não pergunta porquê, só é. É difícil ser racional nessas horas, é difícil lembrar do que é a realidade de fato e do que a gente tá criando. São poucos segundos pra pensar em tudo e achar uma solução para cada alternativa que o evento pode desenvolver.

Eu chamo isso de pequenos surtos, porque uma crise, pra mim, vem de outra forma. Na verdade, a ansiedade pode aparecer de diversas maneiras, acompanhadas ou não de outros sentimentos. Aparece desencadeada por algo, ou aparece sem motivo algum. Cada hora é uma hora, um jeito, uma forma.

[Como eu disse, tudo aqui é baseado nas minhas experiências e não tem nada de certo ou errado, tem o que eu experiencio, observo e aprendo]

Não tem só a superdimensionalização. Tem mais. Sentimentos que aparecem sem motivo algum, e que você sabe que eles são frutos da sua cabeça, mas você tá sentindo mesmo assim. Por que diabos sentimos se sabemos que não existem? Aí que tá.

Tem hora que eu me sinto sozinha pra cacete, triste, como se não houvesse ninguém nesse mundo por mim. E eu sei que não é verdade, mas eu estou sentindo assim mesmo. O que eu faço? Me deixo sentir até passar. Foi o jeito que eu aprendi a lidar com isso.

No ano passado eu tive uma crise longa desencadeada pelo final do período da faculdade, extremamente estressante e que me deixa muito vulnerável. Nesta época eu decidi escrever o que eu estava pensando e sentindo na hora… Vou transcrever uns trechos pra ilustrar isso que eu disse mais acima. Adianto a ideia de também escrever num momento desses, talvez ajude a ocupar a mente — você não precisa mostrar pra ninguém, mas pode te ajudar do lado daí.

(…) É o que eu estou fazendo. Eu estou me sabotando pensando coisas que sei que não são verdade, ou, pelo menos, evito pensar que são. Aqui, agora, atrás dessas palavras eu me sinto sozinha. Me vem uns pensamentos sombrios sobre questões de amizade e relacionamentos humanos. Não sei fazer amigos, não sei manter contato, evito me socializar e me culpo depois por estar sozinha.

(…) Não quero estar assim. Sei que está tudo bem, mas é quase impossível impedir os pensamentos. Um amigo recomendou que eu tentasse ser racional e parte de mim é. Mas a outra parte me assombra. Eu sou uma pessoa assombrada. Eu tenho fantasmas. Eu tenho medos. Eu tenho dores. Eu tenho pensamentos que não quero ter sobre coisas que não existem e coisas que queria esquecer. Eu tenho pausas, lapsos da própria realidade substituída por ilusões criadas por mim, às vezes, como hoje, criadas sem motivo algum. Eu estou vulnerável e sozinha. Não literalmente, tem colegas por perto, mas estou sozinha por dentro e por fora”

Não me orgulho de nenhuma dessas palavras que precisei escrever, que precisei sentir e transcrever do pensamento. Não me orgulho de tê-las pensado, tê-las sentido. Mas eu era isso naquele momento, e eu também preciso respeitar quem sou.

Hoje, não sentindo nada, me entristece demais ler essas palavras e saber o quanto isso me torturava, no quanto os pensamentos me assombravam de tal forma que eu realmente me sentia assombrada. A ansiedade pode ir além da preocupação excedente, ela pode trazer à tona coisas que você preferiria esquecer — reais ou não. É um momento vulnerável que você pode pensar qualquer coisa e naquele momento é essa sua realidade.

Como eu disse e eu vou ser sim repetitiva quanto a isso: isso tudo são minhas experiências, contadas aqui para que alguém, em algum lugar, possa aprender algo positivo. (Tudo na vida é aprendizado, né?) Não é para assustar ou entristecer: é pra lembrar que eu passei por dias em que parecia impossível sair ileso, mas eles passaram. E hoje eu posso vir aqui e digitar essas palavras com uma força que eu sei que tenho, porque a gente tem uma garra absurda pra viver e continuar em frente. Sempre dá pra seguir em frente.

Não me orgulho que nenhuma dessas palavras encontre identificação em vocês, mas sei que vai. Então espero, de verdade, que você tenha força pra lidar consigo mesmo, e busque todo dia o seu melhor para viver o melhor. Sempre tem um amanhã.

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