Para viver isso aqui é bomba

Maithê Prampero
Revista Subjetiva
Published in
3 min readMar 8, 2021

O bombardeio é real. Informações. Opiniões. Calamidades. Cala a boca. O tempo todo o que é que você acha? O que faria? Quem é você? Onde quer estar em cinco anos? Quer chá ou café? Você está de que lado? Tá feliz?

E segue mais uma bomba. Mais uma pergunta. Cobrança. Pressão. É essa a sociedade. Do instagramável. Do post. Do vídeo. Das vinte e quatro horas para ver a foto antes que exploda. Ahhhhhh. E no fim tudo explode mesmo: a enxaqueca, o estresse, a raiva, a vontade de sumir para nunca mais. Bum!

Não estou aqui defendendo a alienação completa e absoluta, o desligamento da realidade no nível psicótico da coisa, mas sim o equilíbrio. O meme e a compreensão da gravidade de uma pandemia, o riso fácil que coexiste com o momento sério, de debate, de pensamento crítico. É o isso e aquilo.

Só que as coisas não tem encontrado equilíbrio. Ou sabe, ou não sabe. Ou tá bem ou tá mal. Tudo dentro de uma linearidade que não cabe na vida. Ou a gente esqueceu 2020? Porque este ano nos mostrou que tudo pode virar de ponta cabeça. A corda da tirolesa pode estourar. O brinquedo abre bem no looping. E a gente cai.

Eu não quero fazer escolhas todos os dias, o tempo todo. Não quero. É isto. Quero poder saber de algumas coisas e não fazer ideia de outras, só que sem a culpa. Sem os rótulos. Sem a necessidade angustiante gritante de saber de tudo. Quanta globalização!

Digita correndo no google. Tem que descobrir a data, a pessoa, o evento. Vamos! É a gincana de quem sabe mais coisas. No menor tempo.

Não quero ter favoritos o tempo todo. Eu amo picolé de milho verde (até já falei disso em outro texto), mas descobri que também amo de pistache. E tudo bem. E já falei mal de flocos. Mas sexta-feira tomei um picolé excelente deste cheio de pintinhas.

Se trata de existir movimento. Coisas mudam. Pessoas também. Existem coisas que se mantém estáveis ao longo de uma vida inteira. Algumas coisas, entretanto, se transformam. E não são somente os gostos e picolés favoritos, mas também o amor pela carreira, a admiração pelas pessoas, os sonhos, os anseios.

Se até o que aceitamos como amor pode mudar, o que é que não pode ser transformado? O amor é, para mim, o mais significativo da existência. Mesmo assim seguro meus absolutismos ao adentrar este terreno.

Evito abrir jornais em alguns dias. E em outros abro tantas abas que o meu celular aquece e trava. O sistema não aguenta. Tenho dias de exposição e outros de uma intimidade enorme, privada, em que pareço invisível. E gosto de estar assim.

Deixo a minha playlist aleatória muitas vezes, mudando para uma específica tantas outras. Alterno entre MPB e indie, ouvindo rock no meio disso. Porque eu curto todos estes estilos.

Nossas escolhas importam. Muitíssimo. Precisamos refletir para votar e evitar muitas desgraças. Precisamos pensar em nossas carreiras, em nosso bem-estar. Escolhemos o tempo todo. Em alguns momentos, porém, podemos nos permitir não ter algo firmado ali no concreto das palavras. E tudo bem. É a falta do “tudo bem” que está me deixando com os fios soltos, prestes a explodir.

Gentileza com os processos.

Viver nesse mundo é bomba. Quando tudo explodir espero que nos surpreendamos com lindos fogos de artifício. Sem som, por causa dos cachorros. Com luzes. Porque precisamos.

*O título faz referência à música Bomba, da banda Braga Boys.

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