Partidos importam

O enfraquecimento partidário é uma projeção obscura para a democracia

Luan Oliveira
Revista Subjetiva
3 min readDec 4, 2018

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Alguns analistas políticos celebraram nos últimos dias o fato de que, no final das contas, o apoio de determinado partido a um candidato altera em pouco ou nada a opinião dos eleitores da sigla. O fenômeno foi chamado de “voto independente” — sob essa nomenclatura, quase parece motivo para se celebrar.

Plenário do Senado Federal // Reprodução: IstoÉ Independente

A verdade é que o fisiologismo domina as siglas partidárias no país. Partidos de direita, por exemplo, votam em conjunto com a esquerda — se assim o “toma-lá-dá-cá” mandar. Esse fenômeno já tem nome: presidencialismo de cooptação, e teve como pioneiros os últimos governos.

O fato de que os partidos tem pouca ou nenhuma influencia sobre a opinião dos eleitores não é um indicativo de consciência política crescente por parte das classes populares, mas sim de que uma das mais importantes instituições da democracia ocidental — os partidos políticos — vem ruindo, não diferente das demais.

Até mesmo partidos antigos vêm sofrendo para manter a coesão política. O Partido Democrático Trabalhista, herança do brizolismo, apoiou Bolsonaro em pelo menos três estados — contrariando a liderança nacional partidária. João Dória, do ex-social-democrata PSDB, apoia abertamente a pessoa e as ideias de Jair Messias Bolsonaro; Geraldo Alckmin, um dos caciques do partido, negou uma guinada à direita e classificou o PSDB como “de centro”. Em suas origens, o PSDB era um partido de centro-esquerda.

E um caso de partido mais recente: a expulsão de Julio Lossio da REDE por apoiar bolsonaristas em seu estado. Ao menos assim, a coesão se manteve minimamente.

Mas apesar do que os exemplos talvez indiquem, o esvaecimento das linhas ideológicas dentro dos partidos não é um fenômeno que começou com a subida de Jair Bolsonaro ao poder — apesar de sua entrada no PSL ter gerado um racha interno no partido e ser por si só um belo exemplo disso.

A fundação de partidos como PSOL e REDE se deu devido ao processo de “desradicalização” do Partido dos Trabalhadores e o abraço por esse à ideias mais próximas à centro-esquerda.

João Dória, o tucano no galho errado // Reprodução: Ueslei Marcelino — Agência Reuters

Com 73 partidos ainda em processo de formação, além dos mais de 30 já existentes, o Brasil conta com pouca ou nenhuma coesão nesse front. Apesar da afirmação histórica de Luiz Inácio Lula da Silva de que o “Brasil tem instituições democráticas sólidas”, uma das principais delas padece de graves enfermidades.

É no âmbito partidário que se realizam processos importantes no metabolismo democrático: a escolha de candidatos, o trabalho “de campo” das militâncias, o debate sobre projetos.

Poucos nas classes populares se interessam em ir em reuniões partidárias, menos ainda nos mais intelectualizados — esses tem pouco ou nenhum atrativo pela dita suruba partidária brasileira. De acordo com dados do TSE, cerca de 16 milhões dos mais de 200 milhões de brasileiros estão filiados a algum partido político. Um número frustrante que não chega à casa dos 10%.

O pluripartidarismo é um modelo válido e eficaz de convivência democrática institucional, mas ainda resta muito a aprender nesse ponto. Talvez o tempo e o crescimento salutar conserte esse problema de forma “lenta, gradual e segura” — talvez não. Em segundo caso, somente quando os males partidos desse cenário começarem a aparecer de forma mais enérgica que iremos entender que nem tudo que está instituído está verdadeiramente erguido e pulsando.

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Luan Oliveira
Revista Subjetiva

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.